O nascimento.

11 2 0
                                    

Aquele dia começou com uma forte chuva de verão, em um ambiente abafado e caloroso. Sonia fumava para tentar distrair a si mesma da dolorosa dor de cabeça que estava sentindo. A mesma caminhava pela sala de estar, apoiada pela parede, não sabia o que estava fazendo, porém continuava a vagar por ali.

– Querida, você não deveria fumar - Frank comenta, não pela primeira vez e Sonia revira os olhos.

Não dava a mínima, se o fumo causasse algum problema em questão a gravidez, seria menos um problema para ela.

– Você quer que eu morra de tédio e de dores? - Responde já irritada.

– Isso fará mal ao bebê... - Seu marido murmura, alto o suficiente para chegar aos ouvidos de sua esposa.

– Eu não pedi por isso, Frank - Fora tudo que ela conseguiu dizer antes de derrubar não somente o seu cigarro, como também alguns livros que se encontravam na estante onde se apoiava.

Sonia havia caído. Levando consigo todo o resto de paz que Eddie tinha na barriga de sua mãe. O garoto também não pediu por isso. Talvez o aborto fosse a solução milagrosa que ajudaria ambos. Entretanto a solução que ia contra tudo que Sonia acreditava. Abortar era pecado. Ela jamais admitiria pecar de tal forma, ao menos era o que dizia para si.

Depois de alguns minutos a senhora Kaspbrak acordou na ambulância, as luzes brancas limitavam sua visão, as vozes vindo de todas as direções oscilavam por sua cabeça. Queria se manter acordada, reclamar com todos presentes e pedir um cigarro para sua boca seca.

Finalmente fora acordada definitivamente. Bem no momento que mais temia, momento aquele que tentou evitar fumando e bebendo compulsivamente durante nove meses. Todavia tudo se foi em vão, já que agora se encontrava deitada sobre a maca de um hospital, sentindo aquelas luzes sem vida todas miradas para si. Estava em trabalho de parto, trazendo aquela criança a vida. Sonia chorava, os médicos achavam que era de dor ou felicidade, contudo ela sabia, o único motivo daquelas lágrimas eram de arrependimento. Aliás, Deus seria capaz de perdoá-la caso pecasse por uma única vez. Agora seria obrigada a conviver com um pecado maior pelo resto da vida.

No momento em que escutou aquele choro agudo e desesperador, Sonia soube que de ali adiante tudo seria difícil. Tinha um pressentimento agudo de que tudo estava caminhando para a direção errada, que aquela criança que agora chora em seus braços, tinha uma conexão profunda com aquilo.

Enfim havia nascido Edward Kaspbrak, que preferia ser chamado de Eddie, porém nunca Eds. Seus dias de bebe duraram pouco tempo, seu pai cuidou mais de si do que a mãe, ao menos ele tentava, enquanto Sonia ainda se recusava a olhar nos olhos da criança, fazendo o máximo que podia para se manter afastada dele.

Eddie se destacava, mesmo sendo extremamente quieto e introvertido, chamava a atenção de outras pessoas. O que irritava sua mãe completamente. Não entendia o que viam nele, era um erro, não havia motivo de tanta admiração. Se questionava porquê não olhavam para Jack do mesmo jeito que olhavam para Eddie, mesmo com todos seus defeitos, ainda era muito melhor que Eddie de todas as maneiras. Quando chegavam em casa, Sonia descontava toda a sua indignação sobre o pobre menino. Desencadeando um alto e nada breve choro, "bebê chorão", era assim que ela o chamava, dentre outros apelidos que acabavam por entristecer o menino. Todavia Sonia não se limitava apenas a agressões verbais. Assim que era sentida a primeira palmada, a torneira atada aos olhos de Eddie se abriam, liberando aquele mar de angústia que ele guardava. Era assim toda noite.

Em um dia agradável, Eddie saiu para brincar no parquinho, como sempre fazia. A única diferença é que desta vez estava sozinho, seu irmão estava na escola, portanto o pequeno Kaspbrak se encontrava nervoso, porém confiante. Poderia focar em suas brincadeiras, ainda que fosse mais divertido com Jack, gostava de passar um tempo sozinho.

Ao chegar ao local começou a brincar. Balançava-se pelo balanço, pulava pela grama alta, se sentia livre de toda a pressão que Sonia o colocava. Podia sentir o ar fresco pelo seus pulmões, seu corpo abastecido de uma energia eletrizante. Tal energia que se esvaziou quando duas outras crianças se aproximaram de Eddie.

– Ei, você não pode brincar aqui - O mais alto diz com um grande pirulito em mãos.

– Por que não? - Eddie questiona.

– Porque só nós dois podemos brincar aqui - O garoto ao seu lado o responde.

– Mas tem espaço para nós três brincarmos - Edward tenta explicar.

– Tô nem aí, só sai do nosso lugar - O menino o empurra, enquanto o outro apenas lambe seu pirulito, enquanto seus olhos se aprofundam lentamente.

Assim que Eddie atinge o chão pode sentir os seus olhos lacrimejarem, o menor tenta segurar, entretanto todo seu esforço é em vão. Edward chorava como sempre fazia, podia ouvir a gargalhada das duas crianças a sua frente, os burburinhos das mães sentadas nos bancos e a voz de mais duas crianças se aproximando.

– Sai de perto dele, Henry - Uma voz potente vem de trás de Eddie.

– Você t-tá b-bem? - Enfim pode ouvir uma voz suave a sua frente, então Edward abre seus olhos encontrando um menino de sua idade o encarando.

– Tô sim - Eddie o responde com uma voz fraca.

– Se eu ver vocês dois irritando mais alguma criança eu juro que chamo meu pai aqui - O outro garoto gritava em direção aos dois meninos que haviam o atacado anteriormente.

– C-calma Mike, E-ele j-já tá bem - O garoto a sua frente diz.

– Okay... Hm, oi, eu sou o Mike, esse é o Bill e aquele ali é o Ben - Mike o cumprimenta e os outros dois acenam - Você tá melhor mesmo?

Tudo que Eddie consegue fazer é concordar com a cabeça sorrindo levemente, apesar de ainda estar abatido, e internamente nervoso após tal acontecimento.

– Que bom! Quer brincar com a gente? - Mike diz sorridente, junto de Bill e Ben, que também sorriam.

Não era capaz de negar convite tão atrativo como aquele. Eddie brincou com os dois e acabou por fazer seus primeiros amigos. Aquele foi o primeiro dia feliz de Edward em muito tempo.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jul 03, 2020 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Cry Baby | ReddieOnde histórias criam vida. Descubra agora