Cat People

Something

Lamentavelmente, Kyungsoo era o tipo de cara que se apaixonava muito facilmente. Só que dessa vez, tinha sido pior do que todas as outras vezes que ele tinha caído de amores por um estranho. Dessa vez, ele se apaixonou por um calouro que no primeiro dia de aula do novo semestre, perguntou onde ficava o auditório. 

E não, ele não gostava nem um pouco ser assim.

— Se ele olhar pra cá, você acha que eu tento seduzir com uma piscadinha, ou só saio correndo como sempre? — perguntou, quase imitando um suricate na procura do calouro.

— Nenhuma das duas opções parece muito boa, principalmente a primeira, porque tem muitas chances de dar bem errado. Se bem que a segunda é bem pior… — Yixing, seu melhor amigo e o único nas aulas de bioestatística, respondeu. — É, tentar seduzir parece ótimo!

A troca de salas era o melhor momento para os alunos trocarem rápidas fofocas e, se tivessem sorte, dar uma rápida paquerada no meio do caminho para a próxima aula. Kyungsoo, no entanto, usava esses minutos para ficar de olho no cara que ele estava afim há meses, Kim Minseok, o calouro bonito de medicina. 

— Mas e se na hora que eu for piscar, ficar parecendo que tem um cisco no meu olho e ele me achar estranho? — questionou novamente. — Não quero que ele me ache estranho.

— Isso é impossível, Soo — ironizou. — Ele já deve te achar estranho desde aquele dia que você ficou andando pelos quatro cantos da faculdade com a camiseta ao contrário. Não se preocupe.

— Falando isso você esperava me tranquilizar? — Depois de tanto tempo juntos, devia saber que ele não era a melhor pessoa para dar conselhos. 

— Eu estou tentando dizer que só isso não vai fazer ele ficar de quatro por você. Tem que fazer algo diferente se quiser chamar a atenção dele.

A maioria dos alunos estavam terminando de entrar em suas respectivas salas, então eles tiveram que fazer o mesmo. A aula de bioestatística era a pior, justamente por ser a matéria que precisavam dividir a sala com o pessoal entediante de economia.

— Soo, olha! — Yixing o puxou para fora da sala novamente, apontando o dedo para o fim do corredor. — Seu namorado!

Influenciado pelo tom convincente, ele realmente procurou por alguém no corredor. Encostado em uma pilastra estava Kim Jongin, o aluno de Letras. Jongin era conhecido como um dos piores caras da faculdade em questão de relacionamento, ou melhor dizendo, o cara era um completo galinha.

— Prefiro a morte. 

— Mas ele é gostoso, vai. 

— Sabe quem mais era gostoso na época da faculdade? Ted Bundy.

— Essa comparação foi bem desnecessária — voltou a olhar Jongin. — Ele nem tem cara de serial killer. 

— Eu acho que deveríamos ir pra sala.

Quase que se arrastando para dentro da sala, Kyungsoo e Yixing sentaram preguiçosamente nas últimas cadeiras, mais especificamente, nas que ficavam perto das janelas no canto direito da sala. Precisavam de privacidade para discutir sobre como o Do faria para conseguir conquistar o calouro, e também, as janelas davam uma boa visão do campus. Quem sabe se por coincidência o Kim passasse por lá.

— Voltando para o calouro. Você tem que fazer algo marcante — Yixing continuou, fazendo o possível para sua voz sair no tom mais baixo que ele conseguia falar. — Algo que ele nunca vá esquecer. Quem sabe daqui uns anos vocês não tenham uma bela história de amor para contar pros seus filhos.

— Não pode ser mais um pouquinho mais específico? 

Com uma seriedade incomum, o Zhang pegou seu caderno e começou a escrever. Pela empolgação, Kyungsoo quase achou que o chinês estava escrevendo em um Death Note ou algo do tipo. Esse fora o único anime que ele teve paciência para terminar, e o sorriso do amigo estava tão bizarro que ele jurou ver um pouquinho do Light Yagami nele ao escrever. E com esse mesmo sorriso, Yixing virou o caderno na direção do Do, que precisou forçar um pouco a visão para conseguir ler a letra quase ilegível de tão torta.