Lago Do Alvorecer

Aconteceu como deveria acontecer

 Notas da Autora
Só um pequeno aviso, a história contem abuso sexual e psicológico, violência, corrupção, abuso de álcool, cenas de sexo explicitamente, linguagem de baixo calão e pode conter diversos gatilhos.
Se você se sente fragilizado com alguns desses assuntos, sugiro que não leia. A história é totalmente fictícia, se por acaso você tenha lida ela um tempo atras, muitas coisas foram modificadas, era para ser uma fanfic porem voltei e refiz, mas aqui ja esta a explicação se no meio aparecer nomes diferentes.

Por Eve

Agora

Você acredita em destino? Acredita que as coisas acontecem porque tem que acontecer, e que cada coisa está interligada fazendo com que tudo tenha sentido? Cada pequena coisinha e detalhe colocados minuciosamente para que tudo te leve a um aprendizado. Eu costumava pensar assim. Amava o destino e seu misterioso jeito de agir. Adorava dizer que era ele o responsável por tudo. Amava como ele colocava oportunidades, pessoas e até mesmo coisas na minha vidinha perfeita de adolescente no auge de seus 16 anos. Garota tola! Estava terrivelmente enganada, se eu soubesse o que viria, o quanto os anos me calejaram,não acreditaria tão fielmente no destino como costumava, a verdade é que o tempo não vai voltar, não importa o quanto eu implore desesperadamente, o quanto eu grite e chore, a realidade é cruel, é nua e sem preliminares. O meu amor pelo o destino não o fez ser mais leve, meu destino não foi nada bonito, mas sim dolorido.

No peito sinto um amargo arrependimento, minha vida se encontra agora em um declínio contínuo. Não sei em que momento ela começou a decair,esqueci de muita coisa ao longo desses anos, não consigo lembrar qual o real motivo que me colocou aqui, o que me motivou a fazer todas as coisas que fiz. Não sei como as coisas viraram tão desastrosas... Como chegamos a esse ponto, como perdemos o controle tão rápido? Incertezas, minha vida agora é baseada nisso. Exatamente tudo tem girado ao redor disso e tem se tornado cansativo, mas não só a minha, como das minhas amigas também. Lisa, Anne e Elara estão no mesmo barco que eu. Mantidas juntas por algo maior, por uma causa, por uma nobre razão, ao menos era assim no começo, era isso, agora o que nos mantém unidas é o medo, os segredos obscuros, o conhecimento grande demais para nossas cabeças, sabemos que é como uma embarcação, todas são importantes, no momento estamos em meio a uma tempestade em mar aberto, se não ficarmos unidas iremos naufragar, o desespero vai nos afundar neste mar de segredos.

Agora são quatro horas da manhã e aqui estamos, na última semana de um inverno rigoroso,ainda é possível ver a camada fina e gélida de neve cobrindo o chão. Mesmo com a estação acabando, sabemos que esse frio sobre nós, continuará congelando nossos ossos por toda uma eternidade. Nossa mente pode realmente nos destruir, achava que isso era apenas uma frase de efeito muito usada em livros de fantasia, definitivamente não estou em um deles, não há heróis nessa história, engana-se se pensa que surgirá um salvador e acabara magicamente com todos os problemas, não existe aqui um final feliz, talvez um recomeço, um recomeço onde quatro garotas tentam apoiar umas às outras em frangalhos. sinto meus olhos arderem mas não posso chorar, chorar não vai resolver nossa situação, minha cabeça lateja, a culpa me volta a cabeça, nossa mente e apenas a nossa sabe o que passamos, cada detalhezinho, sabe do que fizemos de bom e de ruim, sabe quando foi maldade nossa, mas por saber a veracidade dos fatos não alivia o peso da culpa, os propósitos não mudam a realidade, não importa o quão amável é sua causa, uma vida continua sendo uma vida, o sangue nas minhas mãos estará para sempre incrustado nelas.

São quatro horas da manhã e estamos dentro do carro, a paisagem é como um borrão em minha visão periférica, um suspiro doloroso escorrega por meus lábios, repito a mim mesma que acabou, mas acabou? Será mesmo que não estou sonhando? E se acabou.. não há garantia que meus traumas foram apagados, os pesadelos ainda vão bater em minha porta, o desespero ainda vai encher minha cabeça, ainda vai me acordar de madruga, vai continuar me arrancando calafrios, apesar de termos colocado um fim a isso, minha confiança nunca será recuperada, nunca poderei andar nas ruas sem me encolher, sem olhar para tudo tentando captar o máximo de informações que puder, talvez não tenha um final, essa estória será sempre assombrada pelas memórias. Escuto fungados de Lisa que se recupera de uma crise. Escuto os soluços de Elara ao meu lado.Anne carrega uma expressão de descrença muito diferente de sua versão do passado com o medo exalando de seus olhos. Eu não consigo acreditar no que acabamos de fazer! Isso é real, é palpável, não há como voltar, em minha cabeça apenas quero gritar explodir, sinto como se algo tivesse sido roubado, como se minha vida fosse tomada de mim em um suspiro, meus olhos ardem, quero chorar, de felicidade e de pânico, preciso me manter focada na estrada, precisamos ir para casa, para casa que nos abrigou durante todo esse tempo. Então percebo que não estou com o carro ligado, estou parada a beira da estrada de chão.