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Era noite quando Cecília chegava ao orfanato, Eleanor estava ansiosa, achou que por um instante não fosse mais vê-la.

Ali, através das grades do jardim, ela olhava encantada a Cecília descer de uma carruagem alugada.

- Venha embora comigo a outro lugar. — Ela falou através das grades. Eleanor pareceu hesitar, olhou para trás por um instante.

- Me espere, diga ao cocheiro que não se vá.

Ela voltou com uma pequena bolsa em mãos.

- Iremos para minha casa.
— Eleanor lhe falou ainda sem vê-la.

Cecília sentiu-se estranha, não era o que queria mas não objetou, deixou que Eleanor informasse o endereço e entraram. Durante todo o trajeto, ambas ficaram em silêncio, a casa de Eleanor era afastada do centro da cidade mas não tão longe do orfanato. Quando chegaram, o senhor lhes ajudou a sair e logo se foi.

O portão de entrada era enorme, havia um caminho de pedras até chegar a entrada, Cecília observava todo o lugar agora. A casa de Eleanor era uma digna mansão das melhores famílias do país.

- Sente-se, quer algo de beber?

- Estou bem.

Estavam na sala de estar perto da lareira que estava acesa quando Eleanor dispensou sua última empregada e sentou ao lado de Cecília lhe entregando uma taça de vinho.

- Meu esposo era, de fato, um homem muito rico.

- Era?

- Vivemos um ano de um casamento feliz. — ela sorriu. — Gabriel dizia que sabia que parecia me faltar algo, chegou a cogitar a idéia de filhos mas lhe contei a verdade.

- A verdade?

- Sim, que sentia minha alma presa ao amor de alguém. — ela bebeu. — Então ele se dedicou a me fazer feliz da maneira mais autruista que alguém poderia fazer.

- Tiveram filhos?

- Não. — Eleanor sorriu. — Eu nunca quis. Bom, pouco mais de um ano casados, Gabriel foi para a guerra e não voltou mais.

- Oh, meu Deus... eu não imaginava.

- Eu sei.

- Não voltou a se casar?

- Não, eu não quis. E você?

- Não. Nunca me casei, na verdade eu não moro aqui na cidade.

- Como?

- Me fale de você, vive aqui sozinha? E sua tia?

- Ela casou-se, não mora no país. Essa casa é realmente maior do que gostaria, por isso está a venda, quero algo menor para mim.

- Você se tornou uma mulher, Eleanor.

- Era o que me pedia na carta, não? — Elas finalmente tocaram no assunto.

- Você só tinha dezoito anos, tinha um futuro, eu era sua diretora, não podia, Eleanor.

A mais jovem suspirou. — Teve alguém durante esse tempo?

- Te fiz presente em minha vida todos os dias depois daquela noite. — Eleanor nāo esperava, levantou para servi-se de mais vinho mas Cecília a seguiu.

- Não, Cecília. — ela falava mais para si do que outra coisa.

- Pensou em mim alguma vez? — Eleanor virou para vê-la, agora estavam muito próximas.

-Me pergunta se alguma vez pensei em ti... quando nem mesmo pude esquecer para lembrar. Eu fechava meus olhos e só via os teus com esse sorriso bonito que iluminava dia a dia minha vida.

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