Prólogo

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Dedico este livro especialmente à Kira, redatora e namorada maravilhosa; a Viudes, o primeiro amigo a ver os rascunhos do que um dia seria esta história; e à Warde, minha avó, que infelizmente não viveu o suficiente para ouvir minhas maluquices. 

Sem mais, agradeço à você, leitor

Dois cavalos cruzavam o Monte Líbano a noite

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Dois cavalos cruzavam o Monte Líbano a noite. No primeiro cavalo montava um homem robusto, e no segundo, uma mulher alta e uma moça pequena. A moça , chamada Warda, parecia animada e observava atenta cada detalhe do caminho.

O falcão que os guiava piou e voou em círculos, indicando que parassem.

— É aqui, — disse a mulher para Warda — cuide dos cavalos.

Ela desceu da montaria e sacou um facão, o homem que ia mais a frente fez o mesmo, empunhando um machado. Warda desmontou e levou os dois cavalos para perto de um pinheiro, amarrando-os no tronco da árvore. Não havia feito tão longa viagem para cuidar de cavalos, tratou de seguir as pegadas da dupla. Mas, antes de chegar perto deles, sentiu algo queimar em seu peito.

Puxou o colar que estava embaixo do casaco e encarou o pingente — um orbe de vidro transparente — que mexia para um lado e emitia uma luz azulada. Nunca havia visto o colar se manifestar daquela forma. Não era bom sinal, alguém precisava de ajuda.

Warda olhou ao redor, não havia nada além de montanhas e neve. "Talvez", pensou, levantando o colar acima da cabeça, encarando seu balançar mágico, sempre apontando para o noroeste.

Fez menção de avisar os outros dois, afinal ela não era caçadora e nem possuía arma, mas recuou. Não podia mencionar o colar, havia jurado.

Ir sozinha e desarmada para um possível confronto com um Ifrite era loucura, mas Warda não teria paz se não fizesse algo. Montou num cavalo e partiu a toda velocidade, guiando-se pelo movimento do pingente.

– Warda! O que você está fazendo? – gritou a mulher, irada. O homem a segurou pelo ombro, pedindo silêncio. Percebeu o cavalo faltante e murmurou: – A sua filha acabou de fugir?

O cavalo estava desgostoso em correr no escuro por pedras escorregadias cobertas de neve, mas Warda só o ordenava a ir mais rápido. Depois de atravessarem uma colina e uma floresta perigosamente, avistaram a silhueta de uma casa em ruínas, como se tivesse presenciado uma explosão. Warda ordenou que o cavalo parasse e engoliu em seco. Se o Ifrite que causou aquele estrago ainda estivesse por perto, Warda não teria chance.

Deixou o cavalo e prosseguiu a pé, em passos leves, segurando um lampião numa altura baixa para não chamar atenção. Ao entrar por um buraco numa parede, sentiu um bafo aquecer suas orelhas. O interior da casa estava tão quente que sentia o calor atravessar suas botas e queimar seus pés. Os restos de telhas e móveis quebrados formavam escombros e obstáculos.

Warda aproximou o lampião de uma mancha escura no chão, estava seca, mas ainda cheirava a sangue. Soltou um suspiro desesperançoso ao encontrar um sapatinho de criança, sozinho e sujo entre os escombros. Era tarde demais.

Pelo canto do olho, Warda viu uma sombra voar em sua direção. Jogou-se no chão protegendo a cabeça. Escutou um piar familiar, ergueu os olhos e deparou-se com Tut¹, o falcão que guiara a viagem dos caçadores até o Monte Líbano.

– É você – disse Warda, brava pelo susto. Levantou-se, sacudindo o casaco. Indagou ao falcão se havia sentido a presença de um Ifrite, pelos gestos de Tut, Warda supôs que não: como havia imaginado, o Ifrite já havia terminado seu banquete e partido.

A ave empoleirou-se no ombro da garota e acompanhou-a pelos outros cômodos da casa. Warda pisou em algo esquisito, ficou horrorizada ao perceber que era um braço encoberto por entulho.

– Pelo menos podemos enterrar? – indagou a Tut. – Mas...

Abaixou-se e apertou o braço com a ponta dos dedos, arregalou os olhos ao sentir uma fraca pulsação. Ela usou toda a força que possuía para tirar os entulhos, mas, ainda assim, não era suficiente. Seus braços, finos e fracos, mal conseguiam erguer uma simples tábua. Tomada por raiva e necessidade, empenhou-se, ignorando a dor nos pulsos, até que conseguisse tirar o corpo do sobrevivente do escombro.

Arfando, tremendo e apoiando-se nos joelhos, sorriu ao ver o rosto jovem do rapaz. Ele possuía muitas lesões visíveis, mas estava vivo, era um milagre.

Com dificuldade, conseguiu segurá-lo na montaria e levá-lo, enquanto Tut a guiava pelo caminho. Parou ao avistar sua mãe e Sarkiss lutando com um Ifrite de aparência terrível: quadrúpede, de cabeça larga, a pele era transparente, permitindo ver cada órgão. Sarkiss o derrotou, dividindo-o com o machado. Enquanto o corpo mágico do Ifrite se desfazia em brasas avermelhadas, os caçadores perceberam Warda.

– Onde você estava? – A mãe fitou-a, irritada.

– Quem é esse? Um sobrevivente? – Analisou Sarkiss.

Warda fez que sim e informou que o levaria para o hospital na Cidade Oculta, mas, antes de terminar sua fala, uma porção de estalagmites surgiu do chão, por pouco não atingindo-os. Ágil, a mãe lançou uma pedra no segundo Ifrite, idêntico ao primeiro, e o decepou com o facão.

– Uau – murmurou Sarkiss, impressionado.

Warda não esperou ordem, partiu, seguindo as direções do falcão. 

 

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¹:  Significa "amora" em árabe

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