prologue

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━━ ❛ Prologue ❜

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COMO PODERIA UM ANJO, criatura elevada e iluminada em tantos sentidos, deixar-se abater pela mais torturante angústia tal qual um reles humano?

Harry não possuía uma resposta plausível para essa questão. Sequer um ameno lampejo de elucidação reverberava em sua mente enquanto ele caminhava com passos lerdos e firmes do empoeirado tapete da estreita sala de estar até o assoalho desgastado da modesta cozinha, só para girar os calcanhares e repetir o trajeto novamente. E então de novo e outra vez. O ruído causado por suas botas surradas atingindo o piso de madeira e a voz afinada que saía da televisão analógica noticiando o tão aguardado início do verão eram os únicos sons que preenchiam o recinto. O aroma do recém-preparado chá de maçã e canela inundava o espaço com sutileza, assim como o cheiro de terra molhada que entrava pelas janelas abertas.

Se a sensação de paz que os mortais mencionavam em suas orações e citavam em suas obras literárias pudesse de alguma maneira se materializar em algo que reconheceriam, sem sombra de dúvidas o faria no exato formato do lar de Harry no despretensioso vilarejo de Holmes Chapel. Residia ali há cerca de cinco anos, contudo ao longo do breve período que pôde apreciar as redondezas desejou que os dias corressem devagar para que conseguisse fazer um melhor proveito das criações divinas daquela localidade, visto que o conceito de tempo explorado pelos seres celestiais era bastante distinto do experimentado pelos terrenais.

Quando o relógio notificou as duas horas de atraso de seu superior, o único que talvez soubesse solucionar a agonia que há meses vinha dominando seu âmago, Harry percebeu que se continuasse reproduzindo aqueles movimentos por mais alguns segundos, mesmo que apenas durante o bater de asas de uma borboleta, provavelmente se dissiparia de tal modo que nem mesmo o Criador poderia trazê-lo de volta à vida.

Assim sendo, enfim interrompeu a torturante e repetitiva locomoção que fazia e voltou-se para a xícara que fora colocada na mesa de centro. Era pequena e apresentava uma singular aparência de fragilidade, todavia o conteúdo que carregava haveria de ser forte o suficiente para acalmar seus nervos. Segurou-a com cuidado e logo bebericou um pouco do líquido alaranjado, sentindo o doce gosto da maçã inundar suas papilas gustativas. Estava do jeito que ele costumava adorar, no entanto a ansiedade permanecia consumindo seu espírito.

Antes que encostasse a porcelana nos lábios rosados para uma segunda tentativa, o corpo de Harry foi tomado por um aprazível sentimento de serenidade e, de imediato, ele soube que o aguardado visitante se aproximava. Tratou de devolver o utensílio que tinha em mãos à rústica mesa e não esperou uma terceira batida na porta para girar a maçaneta e abri-la.

A presença do arcanjo nunca permitiria que ele sentisse algo além de calmaria, entretanto ainda que deveras entorpecido, apresentava-se boquiaberto. Almejou inquietamente por toda a primavera para avistar os longos cabelos escuros de Rafael naquele fatídico dia, contudo lá estava ele, testemunhando com incerteza os fios loiros do celeste que agora o encarava com um olhar curioso.

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