I. neptune: sunrise

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I.
━━ ❛ Sunrise ❜

━━  ❛ Sunrise ❜

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NEPTUNE

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QUEIMAVA COMO as chamas do Inferno.

Não apenas o líquido alcoólico de coloração âmbar dedilhando sua garganta com fúria, mas também o florescente desejo que alcançava o íntimo de sua carne numa urgência desmedida. Faíscas de excitação borbulhavam sobre a pele bronzeada de seu corpo, cobrindo-a de contínuos arrepios prazerosos que intensificavam sua sede desenfreada por mais contato. E a cada toque encharcado de lascívia e atrevimento, o fogo incontrolável que alimentava seu cerne ganhava força, sendo estimulado de maneira perigosa. Aos poucos, como pequenas e tímidas gotas de gasolina lançadas ao vento que certamente encontrariam o caminho daquela fogueira em ascensão.

O caminho até Neptune.

As mãos do ser infernal exploravam a estrutura física curvilínea da humana com avidez, procurando acompanhar as batidas da música que preenchia o local sobrecarregado de almas pecadoras. Luzes vermelhas banhavam seus corpos por inteiro, destacando as pupilas dilatadas da mulher e a energia babélica ao redor. O cheiro voluptuoso do uísque e o aroma de cigarro barato tornavam o cenário deveras sujo e profano.

Havia algo no jeito que a iluminação refletia nos longos cabelos loiros e encaracolados da jovem que despertaram lembranças outrora adormecidas do Paraíso em Neptune. Os traços delicados em conjunto com os olhos pequenos e a vulnerabilidade espiritual dela acordaram na diabólica memórias dos celestes que um dia chamara de irmãos — antes de ser expulsa por eles como uma maçã de casca fosca que já não merecia espaço entre as lustrosas.

No entanto, não foi a aparência angelical da moça que provocou animalescas ambições em Neptune, tampouco seu estúpido costume mundano de mordiscar os lábios a todo segundo, revelando a ansiedade que a devorava por dentro e concedendo seus anseios de bandeja para qualquer demônio perverso à espreita.

Um demônio faminto e sedutor como aquele que agora a encarava na figura de uma mulher cuja beleza parecia ter sido elaborada pela mais talentosa e paciente das divindades.

Não, definitivamente não foi a imaculada aparência dela. Foi o ostensivo diamante cravado no centro de um casto anel que repousava em seu dedo anelar esquerdo, evidenciando o compromisso que aceitara firmar com quem jurou amor eterno. Foi, também, o característico brilho de curiosidade no olhar indeciso que complementava suas feições ambíguas. Foi, acima de tudo, o modo como apesar da insegurança que sentia quanto às atitudes que estava adotando naquela noite, em momento algum ela manifestou o menor sinal de desistência com relação à escolha que precisaria fazer em seguida.

Enquanto a boca se curvava em um sorriso presunçoso, o anjo nebuloso acariciou o rosto da jovem com a ponta do dedo indicador e, diminuindo o espaço entre ambas as faces até que seus lábios ficassem a poucos centímetros de distância, certificou-se que seu hálito abrasador não passaria despercebido por ela quando sussurrou:

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