CIGARETTE LIGHTER || shikaneji

masterpiece

O som alto do despertador invadiu o quarto acordando Neji para mais um dia de trabalho, e consequentemente, assustando Shikamaru, que trabalhava em seu notebook na escrivaninha ao lado da cama.

Hyuuga resmungou se espreguiçando e tateou a cama em busca do namorado, em vão. Passeou os olhos pelo cômodo, e o encontrou graças à luz da tela de seu computador que iluminava o rosto cansado. Neji se lembrou de ter ido dormir com aquela mesma visão na noite anterior.

— Você não dormiu? — A voz rouca de quem havia acabado de acordar era carregada de preocupação. Nara sempre deixava suas obrigações de trabalho para a última hora e isso acabava com sua saúde física e emocional.

Shikamaru virou o rosto em sua direção, apreciando o bagunçado cabelo do mais novo cair por seu peito descoberto.

— Não tenho tempo pra dormir — disse o mais velho, tomando mais um longo gole de seu café preto. — Você sabe que trabalho melhor sob pressão.

— Você só trabalha sob pressão — corrigiu Neji, se levantando da cama e indo direto até o banheiro da suíte, completamente nu.

Nara riu anasalado, observando pelo canto do olho o namorado entrar no chuveiro andando de um jeito esquisito, ainda dolorido pelo sexo que tinham feito horas antes. Mal sabia Hyuuga, que um dos motivos de Shika virar a noite trabalhando, além de ter muito serviço acumulado, era poder apreciá-lo se arrumar ao acordar.

Nada o encantava mais do que as visões habituais daquela hora da manhã. A aquarela de cores do nascer do sol refletindo da janela até as paredes do quarto, Neji lavando os longos cabelos debaixo da água quente, e a fumaça do cigarro de Shikamaru se misturando com o vapor que escapava do box de vidro. Hyuuga era tão distraído quando acordava que quase nunca notava os olhares nada discretos do namorado em si.

Aos poucos, o vitral do chuveiro foi se embasando, acabando com toda a alegria de Shikamaru, que foi obrigado a voltar sua atenção para seus inúmeros e-mails não respondidos.

Mas não poderia reclamar. Afinal, era ele que sempre deixava tudo para os últimos minutos por pura preguiça de fazer antes. E além disso, gostava muito do emprego, e passou a gostar mais ainda depois que pôde conhecer Neji através dele.

Ainda se recordava com clareza de como havia ficado fascinado pelo professor de história no momento que o viu pela primeira vez. Hyuuga explicava aos seus alunos sobre o mito da criação grego e fazia isso de uma forma absurdamente didática e envolvente, prendendo a atenção de todos os adolescentes — e alguns adultos — do recinto. Shikamaru, sendo curador daquele museu há cinco anos, já havia presenciado aquela cena várias vezes, com diversos professores e professoras de história diferentes. Mas nunca em toda sua carreira ficou tão aficionado por nenhum deles como ficou pelo mais novo.

Com certeza o que mais lhe chamou a atenção, além da forma impecável que Neji lecionava, foram seus olhos. Um azul-lilás tão claro que de longe poderia ser facilmente confundido com branco, inexpressivos e opacos, eram completamente intrigantes. A cada gesticulação de Hyuuga em sua explicação, seu coque se afrouxava, e mais mechas lhe caíam sobre seu rosto pálido. Nara se identificou, também andava vinte e quatro horas por dia com o cabelo preso em um rabo de cavalo alto, principalmente em seu horário de trabalho, já que aparentemente homens de cabelo comprido ainda eram mal vistos na sociedade.

Shikamaru se sentou próximo a turma do fundamental, e se esqueceu completamente de exercer seu trabalho enquanto o garoto de olhos claros permaneceu naquela sessão do museu. Somente quando ele dispensou os alunos para a lanchonete do lugar, Nara se deu conta de que havia passado mais tempo que o necessário inspecionando a excursão do colégio.