Nos meus dias de insônia

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- Você me ama?- O relógio marcava cinco da manhã, não tínhamos dormido ainda. Em momentos como esse tenho esse tipo de dúvida.

- Amo - Wonjae fala com sua voz sonolenta.

- Mentiroso

- Por quê?

- Olha, você nem sabe o que é o amor!

- É verdade...- Ele pareceu pensar por alguns segundos- E você? Sabe o que é amar?

- Não, acho que não

- Então... Que diferença faz?

[...]

Era esse tipo de coisa que acontecia quando eu e Wonjae ficávamos muito tempo juntos: Um machucava o outro com palavras ditas da boca para fora, mas, mesmo assim, os dois sabiam que não tinham o direito de se sentirem ofendidos com tais palavras. Nunca combinou com a nossa imagem pensar no que vai falar.

Nossa relação sempre foi complicada, repleta de passos atrasados e desgastes emocionais, talvez sendo uma prova viva de que duas pessoas de saúde mental abalada podem se entender demais.

E esse é o exato problema.

Se eu compartilhar experiências ruins, ele concorda com elas, se ele fala o quanto é frustado, eu provavelmente o deixaria sofrer.

Iremos ignorar como o outro se sente, já que passamos por coisas iguais. E eu odeio pensar que talvez tenhamos nos tornando igualmente egoístas por conta disso.

No fundo, já tinha ciência de que essa confusa e irracional forma de compartilhar dores, foi confundida com amor.

O amor não faz mais sentido. A dependência que eu tinha dele, sim.

Se o falso encontra o falso, eles não se tornarão verdadeiros.
Serão dois falsos.

Eu já tinha chegado a pensar algo como "se somos tão falsos, que importância carrega a empatia?". E não consigo dizer se me sinto envergonhada por isso.

[...]

Acho que tudo que me impossibilitou de ter dias cem porcento legais com Wonjae foi a minha falta de expressão, eu poderia ser extremamente expressiva na minha arte ou nos quadros que entregava para ele, mas sempre que o encontrava, nenhuma palavra conseguia ser dita. Esperava de noite, quando eu estivesse ansiando por sentir sono, naquele exato momento onde as palavras diziam o que estava guardado em meu coração.

20 de Janeiro de 2018- 04:10am

-Por que você começou a fazer música?- Perguntei enquanto mexia no celular.

- Hum, porque foi a única coisa que eu encontrei para entender o que acontece na minha mente- Senti ele ansiando ao responder, não era uma questão fácil.- Por que sempre que dá essa hora você faz esse tipo de pergunta difícil?

- Muitas coisas passam na sua mente? Com que frequência? E sei lá, na questão de te perguntar tantas coisas, não sei ao certo porque faço isso... Talvez esteja dizendo aquilo que não consegui responder para mim mesma.

- Sim, mil coisas se passam na minha mente o tempo todo e todos os dias.- Woo vira a cadeira e passa a me observar.

Não consegui dizer mais nada, aquele era o ponto final da conversa. Era inegável que não sabia como continuar aquele tipo de diálogo, era cansativo e frustante.

-Me deixe fazer uma pergunta agora- Ele se deita ao meu lado e fita o teto cheio de interesse, como se aquela fosse a resposta de todos os problemas que vem tendo - Você acredita que irá se sentir melhor conforme o tempo?

Pela minha real falta de interesse no tempo, não consegui responder. Então, agindo de acordo com minha especialidade, menti.

- Não- Eu não estava falando a verdade e ele sabia disso, porém, em momento algum retrucou. Era mais fácil do que um vago e infinito "não sei".

- Quer que eu te console de alguma forma?- Vi aquele riso sarcástico e aqueles olhos brilhantes virem diretamente para a minha direção, em uma tentativa clara de escapar daquela conversa.

- Quero.

- Como?

- Não sei... Você pode me beijar - E aquele foi o ponto final de mais uma de nossas discussões da madrugada.

Sem contestar, Wonjae puxou minha cintura e começou a me beijar lentamente; um refúgio, uma escapatória, uma anestesia. E na tentativa de talvez esquecer das coisas que me deixavam cansada naquele momento, me entreguei ao seu beijo, rodeando os braços em volta do seu pescoço e acompanhando seu lento ritmo.
Isso que éramos um para o outro, um refúgio que estava a beira da realidade, sem um sentido próprio ou razão, éramos somente a versão mais pura da mentira.

Mentiras (Woo Wonjae oneshot)Onde histórias criam vida. Descubra agora