Prólogo

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As vezes, quando eu era pequena, imaginava mil versões de mim mesma, com vidas completamente diferentes. Eu passava horas criando histórias na minha cabeça, apenas pra tentar fugir da minha realidade. Minha breve vida daria um livro, pra ser mais específica, um livro o qual a gente lê o primeiro capítulo e desiste por que é entediante e clichê.

Eu estava no meu segundo ano de cursinho e o cansaço só me consumia, eu não aguentava mais fazer nenhuma conta de física, mas eu entendia que se queria alcançar meu maior sonho, eu tinha que pelo menos saber fazer as benditas fórmulas.

Desde a morte de meu pai, eu coloquei na cabeça a possibilidade de me tornar médica, e com o passar dos anos aquela ideia não era mais um absurdo, eu sentia que tinha nascido pra ficar dentro de um hospital a maior parte da minha vida, e com certeza meu pai ficaria muito orgulhoso.

Falar sobre o papai era muito angustiante, pois com a morte dele, a vida mudou da água pro vinho. Sua morte foi uma surpresa pra todos, num dia saudável e gargalhando e no outro embaixo da terra e completamente esquecido.

A verdade era que Kizashi era a melhor pessoa que alguém poderia conhecer. Era aquele tipo de cara que conversa com você durante horas e nunca era o bastante. Ele faleceu quando eu tinha uns 7 anos, Câncer no cérebro, sim eu sei, que belo final.

Meu pai dedicou sua vida para cuidar de mim, e quando morreu, fez questão de deixar um pouco de dinheiro, para que eu pelo menos pudesse me virar por um tempo, mas minha mãe não aceitou isso bem, na verdade ela nunca aceitou a morte do meu pai, e por consequência descontava sua frustração em bebida e dizendo o quanto eu era um estorvo, talvez esse seja o modo o qual ela achou pra ficar de luto, abandonar a própria filha e focar apenas na dor dela, eu não a julgava, só queria um pouco de amor de vez em quando, mas eu também sabia que aquilo já era demais ao ver dela, afinal, de acordo com a mesma, tudo em mim lembrava a única pessoa que ela foi capaz de amar. E eu odiava me sentir assim, como um espelho dele, um espelho do que ele um dia tinha sido.

Sua morte foi o "start" para que tudo começasse a desandar, depois disso eu passei por coisas que nunca nem imaginei passar, mas não quero focar nisso hoje.

Hoje não.

Minhas unhas estão todas quebradas e tem vestígios de esmalte nos cantos, eu estava tão nervosa que não as tirava da boca. Me encontrava a cerca de uma hora parada em frente ao meu computador tomando coragem pra entrar na lista de aprovação da faculdade dos meus sonhos, da faculdade que eu estudei a vida toda por uma resposta, e essa resposta estava na minha frente, só faltava eu procurar meu nome naquela droga de lista, entretanto, meu nervosismo não deixava.

Num impulso digitei meu nome na barra de buscar e cruzei meus dedos rezando pra qualquer deus que eu lembrasse pudesse me conceder um milagre.

E então meu mundo parou, eu estava estática, mal conseguia respirar, só consegui levantar e gritar o tanto que eu podia. Eu não acreditava no que estava vendo, será que os deuses tinham me concedido um milagre afinal? Isso não importava mais. Eu Sakura Haruno consegui por esforço próprio, eu consegui.



Por nósOnde histórias criam vida. Descubra agora