Capítulo 2

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Esse capítulo pode ser um gatilho pra algumas pessoas, então peço que leiam com consciência. Bulimia é algo muito sério e precisa de tratamento com um médico especialista. Se apresentar sintomas procure um responsável.

Boa leitura S2

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O som da televisão me angustiava, mas desligar ela me causava uma sensação pior. Eu estava debruçada sobre a privada, vomitando o macarrão instantâneo que eu tinha comido a pouco tempo, e ouvindo os ruídos do desenho que passava na TV do meu quarto.

Eu já estava acostumada com isso. Comer, me olhar no espelho, me culpar e por fim colocar tudo pra fora na esperança de me sentir melhor.

Problemas me rondavam a anos, e aquele era o único que apenas eu sabia. Bulimia sempre foi uma palavra tabu no vocabulário da minha mãe, ela não queria aceitar que eu tinha problemas, pois na cabeça dela, ninguém além de si própria havia sido atingida pela morte de seu marido, mas eu sofria as consequências daquilo a anos, e nem ajuda eu pedia pra ela, com medo do que aquilo poderia gerar.

Nunca conversei abertamente com a minha mãe sobre isso, mas eu tinha certeza que ela sabia de tudo. Ela já tinha me visto fazer aquilo muitas vezes, e infelizmente não me impediu uma sequer vez.

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Levantei devagar arrumando meus cabelos e limpando as mãos no meu moletom velho, sentindo meus joelhos doerem por conta do tempo que fiquei apoiada. Me olhei no espelho do banheiro e fitei meu rosto percebendo as grandes olheiras embaixo de meus olhos verdes, eles nunca foram tão tristes.

Escovei meus dentes umas três vezes e fiz um coque todo bagunçado, tentando disfarçar o fios que estavam crescendo. Voltei pro meu quarto e me joguei na cama começando a sentir a culpa me invadir novamente.

Eu não aguentava mais sentir ela.

Já era de madrugada e tudo que me restava era o som do desenho, os pensamentos e a dor na garganta depois de ficar colocando o dedo na mesma. Olhei pro teto admirando os enfeites que brilhavam, eles eram testemunhas do que eu fazia, não gostava de pensar neles naquele sentido.

Puxei a coberta e fui ver as mensagens que estavam acumuladas no meu celular, não que sejam muitas, no máximo notificação do meu 4g ou a Ino, menina que eu estava conversando desde o começo das aulas na faculdade. Ela havia se aproximado nessa última semana e estava tentando me convencer a ir com ela numa festa de boas vindas aos alunos da U.K, era o que ela dizia, mas no fundo eu sabia que o que ia ter lá realmente era drogas, bebidas e gente transando enquanto uma música insurdecia qualquer um.

Ino estava empenhada em me convencer, e eu já tava cansada de inventar desculpas, por fim, só aceitei logo, afinal, não era como se aquela noite fosse mudar alguma coisa na minha vida.

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Era sábado de manhã e as ligações da Ino me acordaram, obrigada pela dádiva.

Ela provavelmente tinha acabado de ler a mensagem na qual eu disse que ia na tal festa. Peguei meu celular que eu deixava em baixo do travesseiro e desbloquiei com dificuldade, aquela luz tava me cegando.

Atendi o telefone e naquele momento eu me arrependi de ter aceitado a proposta da loira.

-Sakura?? aleluia. Eu já tava entrando em pânico aqui, que bom que você resolveu ir. Te disse que podia deixar pra estudar algumas coisas semana que vem, não disse?- As vezes a intimidade que a Ino tinha me assustava, eu só falava com ela a uma semana.

Por nósOnde histórias criam vida. Descubra agora