Capítulo 2

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Amy

Eu estava esgotada por ter passado a noite em claro no hospital e acabei dormindo no banco do carro. O motorista precisou me chacoalhar para me acordar.

— Desculpe, moço – peço desculpas antes que acabe me xingando por ter babado no banco do seu carro e me tirar as estrelinhas de ótima passageira que conquistei, me apressando para desembarcar.

— Não se preocupe, moça – ele responde sorridente. — Vou dar a você as cinco estrelinhas porque é a moça mais linda que levei hoje.

Acabo sorrindo para ele como agradecimento, correndo como uma louca para chegar a tempo de ser maquiada e trocar de roupa. Faz três meses que eu assumi o posto de garota do tempo do jornal das 10, depois de ter começado como garota do tempo do jornal da manhã. Dali para conseguir uma vaga como repórter externo é só questão de tempo e dedicação. E a vaga anunciada na semana passada já era minha.

— Olá, princesinha! – Dylan fala quando esbarro nele na porta do departamento de jornalismo da MWE. — Estão doidos atrás de você.

— Eu sei – respondo, secando a testa com a manga da minha camiseta. — Anunciaram o nome da nova repórter externa, não é? – pergunto ansiosa. Ian ainda pagaria caro por ter me atrasado naquele dia tão importante da minha vida.

— Vem comigo, Amy! – Dylan pega minha mão e me arrasta para um canto. Estava sério e acabei sentindo medo.

— É sobre a vaga de repórter? – pergunto ansiosa.

— Sinto muito, Amy, mas você não foi a escolhida dessa vez – ele avisa, me levando para dentro dos seus braços para me confortar. Dylan era meu melhor amigo. Fomos admitidos pela Montoya World Entreteniment na mesma época e sempre nos apoiávamos. Ele costumava dizer que seria meu câmera quando fôssemos promovidos.

— Você conseguiu a promoção? – Ele sacode a cabeça para afirmar e acabo abraçando-o. — Você merecia mais do que eu – digo.

— Você também merecia, Amy. – Ele tenta me confortar.

— Quem foi a escolhida no meu lugar? – tento não transparecer decepção, mas é impossível e acabo secando uma lágrima que deixo escorrer.

— Kellen Gibbs.

— Não acredito! – me solto do aperto dele. — Mas ela acabou de ser contratada como garota do tempo e passou assim tão fácil na minha frente!

— Você sabe o que ela fez, não sabe? – Claro que eu sei, mas não quero dizer que Kellen Gibbs abriu as pernas mais fácil para o nosso diretor. Todos me avisaram que para conseguir ascender rapidamente bastava aceitar as insinuações dele e isso eu vinha evitando desde que percebi suas piscadelas. — Ano que vem será sua vez, Amy. – Dylan coloca uma mecha do meu cabelo atrás da orelha, beijando a ponta do meu nariz. Fico sem jeito e acabo desviando do olhar dele. Ele tem me paquerado desde que o conheci, mas não sinto nada além de amizade. Dylan Allen é um garoto bonito, com músculos e cabelos na altura dos ombros, e temos praticamente a mesma idade e gostos. Deena acha que estou perdendo tempo em não aceitar sair com ele, mas temo perder um amigo que gosto muito, por isso evito suas investidas.

— Eu contava com essa promoção – solto ao lembrar das dívidas que preciso pagar, do tratamento de mamãe e dos problemas que meu irmão não para de arrumar e jogar nas minhas costas. — Está para nascer garota mais sem sorte do que eu, Dylan.

— Aconteceu alguma coisa? – Ele pergunta preocupado.

— O de sempre – respondo. — Preciso ir ou Letty vai brigar comigo. Nem repassei o texto – bato na testa, já sabendo o sermão que iria ouvir da editora-chefe por ter me atrasado.

— Vou esperar você – avisou Dylan. — Quero saber tudo o que aconteceu e por isso vou levar você para casa.

Pisco para ele e corro para trocar de roupa antes de ser maquiada. Rapidamente me livro dos tênis All Star, do jeans e da camiseta para me enfiar dentro de um vestido tubinho e saltos altos que me fazem sentir ainda mais alta do que sou. O modelo é tão apertado que desconfio que os figurinistas vestem as garotas do tempo como prostitutas de luxo; não consigo me acostumar com isso. Passo pela redação antes de ir para as mãos do maquiador para pegar o meu texto.

Grande porcaria para memorizar! Quase nunca muda muita coisa em se tratando de previsão de tempo. Ou vai fazer sol, ou vai chover, quem sabe algumas nuvens para ter o que dizer a mais. É claro que me esforço para parecer simpática, a perfeita e mais empenhada garota do tempo que o jornal das 10 já teve.

— Oi Amy! – Kellen gira a cadeira para me olhar. — Então você veio e não vão precisar mais de mim – ela pisca para o maquiador. — Alfred pensou que você não viria e mandou eu para substituir você. – Como assim mandou ela para me substituir? E que intimidade é essa com o diretor de jornalismo da MWE para chamá-lo pelo primeiro nome? Que eu saiba ele ainda não se divorciou.

— Meu irmão sofreu um acidente e estava com ele no hospital – explico, falando mais alto para acabar com as fofocas de uma vez por todas.

— Já ficou sabendo da novidade? – Kellen não perderia tempo em esfregar sua promoção na minha cara, pois sabia que era meu sonho ser a próxima repórter externa júnior da emissora.

— Fiquei sim. Parabéns, Kellen – estendo a mão para a cumprimentar, mas ela me dá as costas.

— Vão anunciar na festa à fantasia – disse ela, sorridente, esbanjando uma prepotência que me fez sentir náuseas. Fiz vários planos para essa festa, imaginei ser apresentada como a próxima repórter externa júnior, sem falar que iria ser uma das pupilas de Rick Jones, um dos maiores nomes do jornalismo.

Era minha oportunidade de ouro.

Perdi tudo para uma garota que abriu as pernas para um homem poderoso.

Talvez Deena esteja certa. Eu preciso parar de pensar que meu príncipe vai chegar para me fazer feliz. Se não há príncipes encantados, para quem vou guardar minha virgindade?

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A Garota do Tempo: do Assédio ao Amor - Virgens da Califórnia - 01 *AMOSTRA*Onde histórias criam vida. Descubra agora