Entenebrecida

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Na primeira vez que nossas peles se tocaram
O ar ainda era perfeitamente respirável.
Na segunda vez que nossos lábios se tocaram
O ar já estava menos centralizado.
Na terceira vez que em nós nos abraçamos
Por uns milésimos segundos perdi o ar.
Na quarta vez que mergulhamos nas profundezas dos olhos um do outro
Milésimos de falta de ar se tornaram vários minutos.
Na quinta vez que senti os seus átomos coexistindo no mesmo que espaço que os meus
Os minutos se transformaram em horas.
Na sexta, sétima e milhares de tantas
outras vezes que me perdi no seu ser
O ar já me era algo distante.
Você havia se tornado meu oxigênio.
Entre essas milhares de vezes
Você riu e disse:
-Por favor não quebre meu coração.
Como eu poderia?
Você se foi
Antes mesmo de eu tê-lo.
Você se foi
Arrastando os cacos do meu órgão bombeante junto.
Arrastanto qualquer possibilidade de
eu respirar perfeitamente outra vez
Os meus pulmões se tornaram entenebrecidos
Assim como todo o resto do meu ser.
                              -Ana Paula Lemes

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