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TWICE IN TWO DAYS
(duas vezes em dois dias)


É como um buraco no coração, um vazio imenso, e se está vazio, não tem como sentir a dor, então você não chora por ela, e sim, pela falta.

A sensação é uma das piores, é tão grande essa dor emocional que na hora, Namjoon pode jurar que a sentiu como uma dor física.

Fechando sua mão e a levando até o peito, soltou mais um grito de socorro, um grito para salvar sua alma, essa que ele já sabia estar perdida.

Foi assim que Joon acordou naquele fim de tarde ensolarada mas ainda fria, em Paris, chorando pelo vazio do seu peito e pela perda da sua alma e dignidade.

Quando a noite caiu, o mesmo já havia parado de chorar, mas aquela dor em seu peito continuava, não tão forte quanto antes, mas ainda estava lá. Joon se levantou da cama junto de um grande e profundo suspiro, estava cansaço de tudo o que acontece em sua vida, ou melhor dizendo, em sua cabeça.

Sempre ao chegar da noite, Namjoon tenta planejar sua vida de modo diferente, ele listas coisas que sabe que deve deixar de fazer e coisas que quer começar a fazer, mas ele mesmo se desanima, ele perde a própria força que se deu. Ele desiste, antes mesmo de começar, antes de tentar.

Após se levantar, pegou sua toalha de banho e seguiu para o banheiro, tomou uma ducha rápida e, enquanto a água caia, dizia, "Limpe não somente meu corpo, como também, minha alma e me purifique os pensamentos." Esse era sempre o seu mantra.

Saiu do banho e rapidamente escolheu uma roupa quente, sua calça de moletom preta, uma blusa de gola alta e manga longa também na mesma cor e, sua jaqueta pesada na cor verde musgo. Vestiu seu coturno, ajeitou o cabelo para colocar seu boné na mesma cor monocromática e saiu para rua.

Namjoon queria sentir a brisa noturna de Paris, novamente admirar o vasto templo azul, queria apenas olhar a cidade sem os efeitos de suas drogas e, ele estava contente por ter tomado essa pequena iniciativa, que na verdade, para ele, era um grande passo.

Ajeitou seu boné, esfregou as mãos umas nas outras e guardou-as no bolso da jaqueta. Sua respiração em contato com o ar gelado de Paris, se transformava em fumaça, o que o fazia lembrar de seus cigarros, mas alguma força maior tirou esses pensamentos de sua cabeça.

Sem rumo e, ㅡ agora perceberá que estava com fome, Namjoon continuava a andar, mas a cada esquina sua barriga roncava mais alto, o que o fez se apressar a achar alguma loja de conveniência aberta, o quê por deuses, havia uma em duas quadras á frente.

Todos temos limites, temos desejos e de certa forma, todos somos ansiosos, até mesmo Namjoon. Ele sabia seu limite, desejos e ansiedades, só não sabia controlar essas duas últimas opções, ele não se drogar naquela noite, foi uma meta estabelecida por ele mesmo, mas ele se sentia tenso, só queria de alguma forma relaxar. Foi quando adentrou a loja e foi direto ao freezer pegar uma lata de cerveja.

ㅡ Por que isso está pesando minha consciência? ㅡ Disse baixo, seguido de riso sarcástico.

Pegou sua cerveja, um pacote de salgadinho e uma barra de chocolate e levou ao caixa. Escutou alguém chamar mas não deu tanta importância, aliás, qual a probabilidade de alguém nesta cidade saber quem é Kim Namjoon?

Pagou pelas coisas e saiu do estabelecimento, atravessou a rua e se sentou no meio fio da calçada. Tirou o salgadinho da sacola e começou a comer, tentando se segurar para não beber, mas quando viu, já estava com a lata aberta na mão. Deu o primeiro gole.

ㅡ Ei! ㅡ A voz de antes, novamente.

Namjoon continuava a comer, até que vê alguém vindo em sua direção, logo depois que também saiu do estabelecimento.

ㅡ Você é surdo ou ignorante? ㅡ A pessoa para em sua frente, bem debaixo do poste luz, dificultando Namjoon de ver seu rosto, apenas que estava com uma sacola na mão e suas roupas eram bem folgadas também, sua calça de moletom cinza e sua blusa do mesmo tecido na cor rosa.

ㅡ Escolho a segunda opção. ㅡ Respondeu sem importância, esperando que a pessoa fosse embora, mas a mesma se senta ao seu lado.

ㅡ Pelo visto você está bem melhor, não é mesmo? ㅡ Namjoon não entende a pergunta, se vira de frente para o rapaz e então reconhece seu rosto. Era o cara que o salvou da quase overdose. ㅡ Ainda não fomos apresentados, Jin.

ㅡ Namjoon. ㅡ Bate na mão que lhe foi estendida.

ㅡ E aí, você está bem? ㅡ Pegou um pouco do salgadinho, sem pedir.

ㅡ É, acho que estou. ㅡ Respondeu e ofereceu a cerveja. ㅡ Valeu por ter me socorrido.

ㅡ De boa. ㅡ Tomou um gole da lata e devolveu. ㅡ Você mora aqui perto?

ㅡ Mais ou menos isso, você?

ㅡ Sim, meus pais moram a quatro quadras daqui mas eu moro na rua de trás. Tive de vir comprar papel higiênico porquê me esqueci de pegar no mercado. ㅡ Levanta a sacola. Namjoon continua em silêncio, apenas bebendo e por vezes dando a latinha ao Jin, que de o último gole.

ㅡ Você va...

ㅡ Eu tenho que ir agora. Até um dia! ㅡ Namjoon se levanta, jogando a lata e o pacotinho no lixo ao lado deles.

ㅡ Espera, quero te dizer uma coisa. ㅡ Jin se levanta e vai até ele. ㅡ A vida é uma merda, o mundo é sujo e as pessoas são hipócritas, mas você não precisa ser uma delas. Na vida você só tem duas opções, ou se acostuma com a merda toda e só afunda junto dela, ou você muda o modo de ver as coisas e passa a confiar em si e na sua visão.

Namjoon estava em silêncio, encarava o homem na sua frente e sentia aquelas palavras socando sua cara, aquele rapaz estranho, que salvou sua vida e agora lhe falava verdades sem ao menos ter pedido por ele nas duas vezes.

ㅡ Pode me achar louco, eu sei que isso parece e se encaixa em mim, mas sabe quando você sente de falar? Então, foi o que eu senti.

ㅡ Você é de igreja? ㅡ Namjoon pergunta confuso.

ㅡ O quê? Não! Eu não sigo nenhuma religião. Eu só... bom, só quis dizer, desculpa se falei merda. Volte bem pra casa. ㅡ Jin saiu, deixando um Namjoon totalmente confuso para trás.

Enquanto caminhava de volta para casa em silêncio, Namjoon refletia sobre as palavras do rapaz e se permitiu soltar um riso que logo desencadeou uma risada alta.

Namjoon ria, não por achar aquelas palavras engraçadas, mas sim, pela situação como tudo ocorreu e por aquele rapaz tê-lo salvo duas vezes em dois dias seguidos, um com atitude e outro com palavras, palavras que eram necessárias para abrir os olhos de Namjoon, para que ele não vivesse mais como uma vítima e sim, como autor da própria história.

Mas isso não será nada fácil, se tratando de Kim Namjoon, pois ora ele acreditara nessas palavras, ganhará confiança em si, e ora, ele voltará a ser mais uma vítima do mundo se drogando em qualquer beco por aí. E o pior, é que ele sabe que é assim.

O que lhe resta, é desejar que amanhã seja diferente, que o amanhã lhe traga coisas novas, sendo na realidade ou nas drogas, mas de sua preferência, que seja na realidade.

PUTAIN D'AMOUR༄ 𝐍𝐀𝐌𝐉𝐈𝐍Onde histórias criam vida. Descubra agora