Acordei com aquela terrível sensação de estar caindo, a hematita embaixo do meu travesseiro definitivamente precisava de uma purificação. Pelo menos acordei na hora certa, as férias foram ótimas, algumas semanas no meio da floresta, quando se é bruxo é necessario ter uma conexão maior com a natureza e os deuses. Mas não estou preparado para ficar pelado na frente da minha família, muito menos para ver a imagem do meu tio Jim correndo nu para todos os lados, pena que esta imagem já está grudada na minha mente.
Senti o cheiro de café da manhã misturado com insenso de sálvia, uma mistura agradável para a minha surpresa. Me "arrumei" (se você chama colocar a primeira roupa da gaveta no corpo e lavar o rosto de arrumar) para a aula e desci as escadas para comer. Minha mãe estava atrás da casa mexendo na horta enquanto meu pai fazia torradas e um suco com uma coloração meio roxa, nem tentei adivinhar do que era, mas tomei alguns goles para deixa-lo feliz. Subi, coloquei meu colar de pentaculo e o anel de ônix, a ônix traz proteção o que é sempre bem-vindo porém se usada como colar diminui o libido, estou longe de ser exemplo de vida sexual ativa mas não quero desativa-la também.
Se você procura um conto de garoto revoltado com a vida e a escola esse não é o seu lugar. Não odeio a escola, muito menos a vida, procuro o melhor lado de tudo sempre, não gosto de matemática mas me imagino usando-a para contar dinheiro. Entende? Enfim sou excluído pelas pessoas da escola por não ser um exemplo de adolescente normal que se droga nas sextas, faz sexo aos sábados e vai a igreja aos domingos. Acho que sou um clichê de menino excluído talvez. O lado bom de ser um esquisito e que definitivamente os seus amigos são amigos de verdade, ou pessoas que não tem mais nada a perder, talvez os dois, mas prefiro imagina-los como amigos de verdade.
Claire tem um cabelo loiro rebelde, ou melhor, que ela penteia de modo que ele pareça rebelde, ela se veste em uma moda gótica do Rock, com lápis nos olhos, delineador e batom preto. Tudo que uma boa gótica tem direito. Somos amigos desde pequenos e ela sempre mostrou grande potencial na arte de destruir mentalmente tudo e todos a sua volta. Acho que essa história deveria ser escrita por ela.
Luke tem cabelos castanhos rebeldes, acho que ele penteia o cabelo duas vezes por mês mas preferimos não falar sobre isso, e eu prefiro manter uma certa distância por segurança. Ele e Claire começaram a namorar quatro meses atrás quando perceberam durante a brincadeira de chubby bunny onde você tem que colocar o máximo de marshmallows que conseguir na boca, que eles do jeito mais estranho e errado possível, combinavam e foram feitos um para o outro.
Nos encontramos na frente da escadaria da escola. Quando avistei eles acenei sorrindo, em troca recebi um sorriso tímido de Luke e um olhar assassino de Claire mostrando o quanto eu a envergonhava. Que bela é a amizade.
O último ano no ensino médio é definido com apenas uma palavra: pressão. Os professores já começam as aulas falando sobre como sua vida inteira depende daquele ano e como você já deve ter em mente o que quer cursar na faculdade, além de estudar para passar em uma boa faculdade você ainda deve passar de ano e se formar o que torna o ano cada vez mais estressante.
Eu e Claire ficamos nas mesmas turmas basicamente, Luke tinha apenas dois horários com a gente. Já no primeiro horário recebi duas bolinhas de papel na cabeça e algumas risadas pelas costas. Nada fora do normal. Algumas pessoas não mexiam comigo diretamente por medo de eu lançar algum feitiço contra eles. Ainda bem que eles não conhecem a lei tríplice, tudo que você fizer volta triplicado para você. Alguns bruxos se arriscam mesmo sabendo da lei tríplice, fazendo amarrações ou feitiços de vingança. Nunca senti a necessidade de utiliza-los, espero não sentir nunca.
Deu o horário do intervalo e eu fui para o local onde eu, Claire e Luke sempre ficamos, um canto na escola, perto de uma escada no fim do corredor. Quase ninguém passa por lá já que fica fora de mão por ser longe de tudo. Basicamente uma escada do nada que levar pra lugar nenhum.
"Ele é um babaca" disse Claire
"Quem? " perguntei por não ter prestado atenção neles antes
"O professor de física é claro. Eu não estava fazendo nada e ele vem me xingar? Com certeza inveja do meu estilo super legal"
"Definitivamente" respondi
"Eu gosto de física" disse Luke, ele sempre foi aquele cara nerd que sofre com isso na escola, mas que você sabe que vai ser rico e provavelmente o patrão de metade das pessoas que o zoam.
"A questão não é física, e sim o professor babaca... Apesar de física também ser particularmente chato Luke"
"Você está linda hoje Claire" ela ficou vermelha. Eu preferi me levantar e passear pela escola antes de ver onde isso ia dar.
Não me entenda mal eu amo meus amigos, mas desde que eles começaram a namorar eu me sinto como um apêndice ao lado deles. Só me sinto realmente confortável quando estou apenas com Luke ou apenas com Claire.
Resolvi explorar a escola, é uma escola grande, estudo aqui desde pequeno, mas sempre que resolvo passear, acabo descobrindo coisas novas. Estava subindo as escadas para sempre até chegar ao terraço. Corri até a beirada do muro e olhei para o horizonte. O dia estava bonito, o céu estava nublado provavelmente iria chover, mas havia alguns espaços pequenos entre as nuvens que a luz do Sol encontrava e escapava por eles. Comecei a andar pelo espaço olhando para o céu. Sempre fui uma pessoa meio aérea, dessas que pensa demais e muitas vezes fala o que pensa sem pensar direito. Complexo.
Senti meu pé escorregar em alguma coisa mas não consegui evitar a queda, joguei as mãos pra trás e consegui evitar de bater a cabeça ou algo do tipo, mas acabei ralando elas.
"Opa! Você se machucou?" Ouvi uma voz atrás de mim. Claro não basta cair, tem que pagar mico. Olhei para trás e vi um cara que devia estar no último ano também, ele tinha o corpo musculoso e a pele clara, seu sorriso era lindo mas uma pequena imperfeição nos dentes debaixo mostrava que ele não usara aparelho, seus olhos eram cinzentos como o céu daquele dia e o cabelo era loiro curto como se ele tivesse acabado de sair do exército, ele era muito bonito. E estava em uma cadeira de rodas.
"Vem aqui eu te ajudo a levantar" ele estendeu a mão
"A não foi nada. Obrigado" estiquei a mão aceitando seu apoio. Não sei o que aconteceu exatamente em seguida. Quando dei por mim a cadeira dele estava no chão e ele tinha caído em cima de mim. Senti o sangue subindo para o meu rosto e fiquei quente como se fosse explodir. E eu queria explodir naquela hora.
"Me desculpa! Meu Deus não sei o que dizer!" Ele começou a rir do meu desespero.
"Tudo bem não foi nada demais, mas aceito uma ajuda pra subir na cadeira de novo".
Me levantei e ergui a cadeira de rodas, tentei ajudar ele a subir de volta mas ele basicamente fez todo o trabalho sozinho. Eu não teria força para carregar ele de qualquer maneira.
"Meu nome é Nick" falei quando ele já estava na cadeira. Estendi a mão para cumprimenta-lo. Ele apertou minha mão e disse.
"Prazer. Meu nome é John".
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Então galera, começando agora. O que vocês estão achando? Comentem (muito importante) e se curtiram votem por favor ♡
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Teen FictionNick nasceu em uma família de bruxos, não bruxos de histórias fantásticas com poderes extraordinários, e sim bruxos religiosos que creem em deuses e os cultuam. Ele não esconde sua religião e acaba sofrendo algumas consequências por isso. Na esco...