Ele virou a minha mão e viu que a palma estava arranhada.
"Acho que você devia ir na enfermaria"
"Bobagem isso não foi nada demais"
"Pode acabar inflamando"
"Eu vou dar um jeito nisso depois".
Minha mãe odeia coisas muito industriais, incluindo remédios, ela prefere usar as plantas da horta para ajudar na cura. Ela não é idiota é claro, em momentos de desespero e necessidade ela usa remédios mesmo contra a sua vontade. Mas se ela descobrir que eu estou usando remédios para tratar um simples arranhão. Ela me mata.
"Não é?"
"Oi? " droga perdi o que ele estava falando. Avoado como sempre.
"Você é o bruxo da escola" talvez fosse melhor ter ficado perdido mesmo.
"Sim... sou"
"Ok"
"Ok? "
"Ok! "
"Ok... " ele riu. A risada dele é linda. "Você é novo no colégio?" Perguntei enquanto começavamos a andar pelo terraço.
"Sim. Meu pai foi transferido pelo trabalho. E ele e minha mãe se divorciaram. Então nos mudamos para cá. "
"E você preferiu ficar com ele?"Arrisquei ser indelicado
"Sim. Ela é... complicada. "
"Entendo" melhor não insistir no assunto. "E você está gostando da escola?" Eu disse sorrindo. Ele olhou para mim e disse com um sorriso de canto da boca.
"Cada vez mais".
Ouvimos o sinal tocando, com certeza chegaríamos atrasados para a próxima aula, estávamos muito longe de tudo. Acompanhei ele até o elevador da escola.
"Você sabe que por estar me acompanhando você pode vir comigo no elevador certo?" Ele disse
"Acho que devíamos andar mais tempo juntos" eu disse rindo.
Fiquei com ele até chegar no andar do meu próximo horário. Quando a porta se abriu eu senti um leve impulso de continuar no elevador. Mas mesmo assim me despedi e fui para a sala de aula. John era uma pessoa diferente e intrigante, definitivamente alguém com potencial para ser o cara mais legal da escola, mas mesmo assim prefere ficar isolado no terraço. Aprendi tantos detalhes dele, como o fato de ele morder a boca quando está com vergonha, gostar de ser independente mesmo na cadeira de rodas e lutar por isso ou a mania dele de manter as rodas da cadeira sempre em movimento. Mas ao mesmo tempo eu tinha a sensação de não conhecer nada sobre ele. E realmente não conhecia, não sobre quem ele é por dentro ou sobre a vida dele. Mas eu queria conhecer, talvez ele fosse ser o quarto amigo no nosso trio. Mas eu queria ele mais do que como amigo. Só não sei se ele me quer do mesmo jeito.
Eu sei que sou gay desde sempre eu acho, sempre tive uma facilidade maior para conversar com garotas, brincar com garotas ou fazer coisas de garotas. Tudo bem isso não indica que você seja gay. Porém a atração por meninos que eu sinto desde pequeno indicou. Lembro quando comecei a gostar de Zack, eu tinha mais ou menos 12 anos. Ele era do grupo dos meninos que praticavam bullying comigo mas ele mesmo nunca fez nada contra mim. Ele tentava conversar comigo, mas eu sem querer como medida de proteção tratava-o mal, e quando via ele se distanciando começava a gritar de felicidade por dentro, apenas por ele ter falado comigo. Imagino que ele tenha sido minha primeira paixonite.
Meus pais sabem da minha sexualidade e não se importam com isso. Minha religião basicamente trata a homossexualidade como algo comum, quando reencarnamos trazemos algumas características da nossa vida passada, para a atual. É mais que normal que se eu era uma mulher heterossexual na vida passada, eu venha como homem que gosta de outros homens nessa. Nada demais. Eu sei que o meu caso é um em milhões. A maioria das pessoas são de religiões que por algum motivo inexplicável tratam relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo como algo abominável e errado. E ainda dizem que cultuam um Deus de amor. Parece que esse Deus não aceita todos os tipos de amor.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Lien
Teen FictionNick nasceu em uma família de bruxos, não bruxos de histórias fantásticas com poderes extraordinários, e sim bruxos religiosos que creem em deuses e os cultuam. Ele não esconde sua religião e acaba sofrendo algumas consequências por isso. Na esco...