Smoke And Drink With Me - O Segredo na floresta

Do We Get What We Deserve?

Depois do hoje, Elizabeth não se sentia mais a mesma. Ela não se sentia nem no controle de suas próprias ações, na verdade.

Em um minuto, eles estavam na floresta, na escuridão que conseguiu fazer Christopher sucumbir, que fez César perder tudo o que sobrou de sua família, justo quando eles estavam começando a se entender finalmente. No outro, eles estavam todos fugindo de volta para o Suvaco Seco, pedindo por ajuda médica para qualquer um e tentando não parecer totalmente insanos.

Parecia até que a sua memória estava falhando. Na próxima lembrança, eles estavam estirados no chão, em choque, ou desacordado no caso do Thiago, enquanto uma equipe de paramédicos que havia sido chamada os ajudavam. Já era a segunda vez que Liz sentia aquele peso no estômago. Aquela sensação de mau presságio, quando, na verdade, tudo já havia acontecido, e ela não conseguiu fazer nada para impedir.

Eles haviam perdido mais um. Mais um membro valioso da Ordem, mais uma pessoa boa que se foi, mais um colega querido que não vai mais voltar. Quantos já foram? E quantos mais ainda terão que ir?

Até aquele momento, parecia que a ficha ainda não havia caído para o coitado do César. Ele só estava deitado, as mãos na cabeleira desarrumada enquanto seus olhos cansados, mas alertas, vasculhavam o bar, passando pelos olhares preocupados dos membros da gangue e dos socorristas. Talvez ele ainda estivesse procurando pelo rosto do pai entre os outros. Esperando pela próxima besteira que o Chris falaria nessa ocasião.

Joui também estava no chão, mais imóvel do que já esteve na vida toda. Tão calado que parecia que ele havia perdido a voz. Isso tudo estava o afetando da mesma maneira que isso a afetava, talvez até mais.

Já Brulho, estava bem perto de Arthur, sempre o lembrando de que ele estava ali, e de que ele não iria a lugar nenhum. O rapaz apenas assentia, se puxando mais para perto do pai, sem coragem para abrir a boca e falar algo sobre o que eles passaram naquela mata. Ninguém tinha, nem ela mesma. Nem quando os paramédicos perguntaram o que diabos havia acontecido com eles. Elizabeth só desviava o olhar e suspirava, tentando se convencer de que tudo passaria.

E de volta ao momento atual, na qual ela realmente não tinha certeza de como foi que ela chegou. A morena estava de pé, as costas encostadas na parede do lado de fora do bar, na saída dos fundos, um cigarro aceso na sua mão e o maço inteiro na outra, com um isqueiro. Pelo cheiro, tamanho atual do cigarro e a nuvem de fumaça que havia se instalado em seus pulmões, a médica constatou que ela havia fumado, uma dedução nada difícil de se fazer. E então, suspirou, tentando lembrar como ela foi parar ali.

Os paramédicos haviam dito que já terminaram com ela, mas que talvez fosse melhor todos irem pro hospital outra vez. Liz negou, dizendo que ela estava bem e que sobreviveria. E enquanto eles tomavam conta de seus amigos, a mulher se afastou discretamente e entrou em piloto automático, buscando um lugar para ter um segundo de silêncio e sem estar mergulhada naquela pequena multidão. Ela seguiu para trás do balcão, direto para a porta que dava pro o lado de fora, e acabou passando a mão num maço de cigarros aberto e um isqueiro azul. Devia ser do Brulho, ou da própria Ivete, mas suas mãos rápidas apenas agarraram o que quer que fosse e arrastaram os objetos junto dela até os fundos.

Ao lembrar-se, Liz assentiu para si mesma, como se confirmasse que foi assim que ela chegou até ali. Sem mais nem menos, ela levou o cigarro até seus lábios rachados e manchados do sangue que escorreu pelo seu nariz após a luta. A sensação de que aquilo era bom, mas ruim ao mesmo tempo, dominava seu cérebro em uma onda de fumaça. Ela só queria esquecer um pouco. Bem que ela podia ter passado a mão em um copo de whisky também.

Suspirou, vendo a fumaça do cigarro sair de seu nariz, como um touro bravo. Ela levantou a cabeça e fechou os olhos quando o frio da madrugada a atingiu, fazendo sua pele se arrepiar.