Somos um time

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Notas iniciais do autor:

Sejam muito bem-vindes a mais uma fanfic - e repost - meu <3

Dessa vez eu trouxe uma das fanfics que é meu maior orgulho, Delírios da madrugada é uma fanfic que eu tenho muito carinho e deu muito trabalho, então espero que vocês sintam e que eu consiga transpassar pelo menos um pouco do que eu senti ao fazer essa fanfic.

Ademais, créditos por essa incrível capa para o animes design, blog de designers e betas

Boa leitura!

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Fechei os olhos em busca de calma, tentando regular a respiração enquanto suor frio vertia por meu corpo, fazendo algumas madeixas do cabelo repicado grudarem no rosto. As mãos fechadas em punhos, pressionando em busca de silenciamento dos sentimentos turbulentos, como em procura da repressão desesperada. O coração retumbava em meus ouvidos em sons envoltos de agonia, o nervosismo não sumia.

Olhei para frente. Preto. Não conseguia ver nada a um palmo de distância. Senti a frequência da respiração aumentar junto ao meu desespero. "Calma. Respira, inspira.". Os nós dos dedos ficando esbranquiçados com o aperto de angústia.

Um passo trêmulo em direção do nada. Mais um, formigante e fraco, e meu corpo cedeu ao pânico, cai totalmente paralisada no chão, sem controle próprio. Direcionei meu olhar pra baixo, qualquer lugar que pudesse me oferecer alguma visão, algum fim, uma mínima linha do que lembrava a realidade concreta.

Mãos. Mãos me tocando, me envolvendo, pressionadas contra minhas pernas, se aproximando por vários sentidos. Abri a boca, nada saiu. Ofegante, fora de controle. Calafrios percorriam todos os meus membros, seguidos de ondas de calor sem sentido que se chocavam em hipertermia e hipotermia alternadas.

A mente confusa com pensamentos disformes oscilava, a aflição quase palpável confundia meus sentidos deixando-os dormentes. Respirar, eu precisava respirar.

Como uma caixa se fechando ao redor de mim, sentia a atmosfera pesar, não conseguia puxar o ar, a garganta cada vez mais fechada, a sensação de asfixia alertando meus sentidos. Oferecendo um gosto amargo à minha boca. Melancolia. Ódio. Desespero. Medo. Sentimentos negativos iam se encontrando em lapsos mentais rápidos e desconexos.

Caos. Vozes. Silêncio. Sensações inexatas dominando o corpo e a mente.

As mãos me puxando, pressionando, encostando, vindo por todos os lados, me cercando. Desespero, eu precisava sair dali, eu precisava-

"Não!". Ar, respirar, eu preciso respirar! Temor exalava por todos os meus poros serpenteando de forma inconstante por meus sentidos. Estavam me sufocando, trazendo todas aquelas sensações de volta, o passado em poucas sensações.

Sentia-me fora do corpo, uma despersonalização com flashes do passado se apossando de mim. O trauma que me assombrava todos os dias, os toques cada vez mais apertados avermelhando minha pele. A mão em meu pescoço me tirando o ar. Lágrimas salgadas borravam minha visão, mas reconheceria aquele carmim em meio ao negror do ambiente.

Se aproximando. Me debati em uma esperança desesperada de me soltar. A cabeça doía, a voz calada, o formigamento que acompanhava os toques. Tudo se juntava em uma avassaladora confusão fóbica, eu precisava, eu-

Jirou! — com a voz adentrando meu subconsciente, observei o paralelo romper e tudo clarear sutilmente. Um peso e aperto se fazendo presente. Diferente de antes, não estavam me agarrando brutalmente, era um toque delicado, gentil. — Ei, você teve um ataque, tá tudo bem agora, eu to aqui — senti o calor me envolver, o tremor ainda estava instalado em meu corpo, me fazendo fraquejar. Não pude encará-lo, eu tinha certeza de que os acessos tinham diminuído e melhorado.

Denki — um soluço, inúmeras lágrimas. A voz entrecortada dava sinais de falta de ar. — As mãos... escuro... elas... ele... — não conseguia processar a recaída, nada com o mínimo de coerência saía junto a minha sôfrega voz, meus sentimentos eram uma bagunça, minha roupa grudava em meu corpo suado, enterrei a cabeça em seu ombro em busca de conforto.

— Shh, não precisa falar nada — externou, sentindo minhas lágrimas irem de encontro com sua pele enquanto afagava meus cabelos. — Ele não está mais aqui, ele não vai fazer nada com você — sussurrou suavemente. — Só eu estou aqui, eu e você. — o aperto aumentou pelas duas partes. Eu buscava me segurar naquele sentimento de pertença, tentava me apoiar naquela fonte de luz que era Kaminari. Ele tinha o intuito de me proteger do mundo, ali em todos os momentos.

A culpa subia junto ao gosto amargo em minha boca. Ter que fazer o loiro passar por isso, me ver tendo um ataque de pânico trazia o sentimento angustiante de estar prendendo ele a uma causa perdida.

— Eu... me desculpa — balbuciei de forma abafada contra a curvatura de seu pescoço.

Uma risada fraca e rouca atravessou a boca do homem.

— Você não precisa se desculpar por nada, Kyouka — se afastou, me encarando nos olhos. Tentei desviar o olhar, envergonhada e ainda com lágrimas descendo pelas bochechas. Senti a mão dele puxar meu queixo e o polegar secando o pranto salgado. — Eu te amo, bobinha, nunca esqueça disso, estarei aqui nos melhores e piores momentos — o sorriso que ele ofereceu pôde iluminar o cômodo e me contagiar, fazendo um leve repuxar de lábios se formar.

— Somos um time? — perguntei levemente receosa.

Somos um time.

Delírios da madrugadaOnde histórias criam vida. Descubra agora