Play That Song

Capítulo 2

Darcy ainda estava se acostumando com todo o barulho dos familiares de Jane Bennet, noiva de seu melhor amigo. Seu primeiro dia na casa havia transcorrido de maneira leve, e estava grato por todos ali não se verem a tanto tempo a ponto de não se lembrarem da existência dele. Ou talvez ele mesmo estivesse se escondendo, pois Georgiana conversava animadamente com as irmãs de Jane sobre qualquer coisa a qual ele não tinha interesse.

Contudo, ele não podia negar. Elizabeth era uma moça ao mesmo tempo aberta e reservada. Antes do assunto do piano, ele pudera reparar no quão feliz ela parecia conversando com sua irmã, e logo em seguida, numa questão de algumas palavras, ela desaparecera o resto do dia. O plano comum era descansarem da viagem pela tarde e todos se encontrarem na piscina à noite. A área da piscina ficava bem afastada da casa, e isso gerou um pouco de preguiça em Darcy, mas ele estava empenhado em tentar fingir ser uma pessoa normal, por Charles afinal, aquela seria sua nova família.

Durante a tarde, ficou deitado em sua cama checando alguns e-mails de sua empresa, mas como estavam quase todos de férias, não havia muita coisa importante para responder. Darcy notou que a casa estava bastante silenciosa no terceiro andar, e provavelmente todos estavam ou dormindo, ou já na piscina. Olhou no relógio, eram quatro e meia. Mandou uma mensagem para Georgie, mas ela provavelmente estava dormindo pois ficava com enxaqueca quando não tinha uma boa noite de sono, e haviam viajado da Inglaterra até os Estados Unidos, o fuso horário só piorava as coisas.

Como não conseguiu dormir, Darcy se levantou da cama e resolveu explorar a casa. Ele reparou que a maioria dos quartos estava fechada, e a única iluminação vinha das enormes janelas no final do corredor. Desceu as escadas para o segundo andar mas assim que chegou no último degrau, alguém pulou na sua frente, o fazendo recuar de susto.

- Vem comigo! - Margot o pegou pela mão e o puxou consigo.

Andaram juntos até uma sala no fim do corredor. Fitzwilliam havia criado uma certa afeição pela garotinha, ela era divertida mas ao mesmo tempo bastante madura para sua idade. Quando conversaram mais cedo, ela sabia mais sobre livros clássicos do que ele, e segundo ela, começara a ler tais livros por conta da prima Lizzie.

- Olha como a Lizzie é uma ótima pianista, mas ela não gosta que vejam ela tocando! Espia do buraco!

Margot, que estava observando da fechadura, deu espaço para que Darcy pudesse espiar. Ele sentia como se estivesse invadindo a privacidade de Elizabeth, mas não era como se ele estivesse a vendo sem roupa, certo? A fechadura era larga, e por isso ele conseguia a ver com precisão. Sua postura era ereta, mas não parecia tensa, na verdade parecia aproveitar muito aquele momento. Ela finalizou a música que tocava e mudou completamente o ritmo, era uma quebra significativa de harmonia. Saiu de Mozart e começou a tocar Mamma Mia, assim como no filme. Darcy sorriu.

- Ela é realmente muito boa! – ele sussurrou.

Margot sorriu e concordou balançando a cabeça freneticamente. Porém quando Darcy foi fazer mais um comentário, notaram que o som dentro da sala havia parado. Se entreolharam e, como se pensassem igual, correram pelo corredor a fora, até chegarem nos degraus da escada que dava para o primeiro andar. Quando os passos se aproximaram, fingiram estar conversando.

- O que vocês dois estão fazendo? – Elizabeth perguntou – Me diz que não estavam espiando pela fechadura!

Ambos ficaram em silêncio. Darcy se sentia com doze anos novamente, como quando ele e Georgie tinham que esconder de sua mãe quem tinha comido o chocolate de fazer bolo. No fundo, ele estava se sentindo envergonhado por ter seguido uma criança e espiado uma pessoa que ele sabia que não gostava de ser vista tocando.

- Eu pedi pra ele ir comigo e te ver, mas ele não sabia que você não gosta de ser vista!

Margot se prontificou para defender Darcy, o que o fez se sentir três vezes mais culpado. Lizzie revirou os olhos mas não pode deixar de abrir um sorrisinho mínimo. Ela tinha consciência de que a prima só tinha dez anos e queria ajudar.