VII - E não é que ela quer realmente me proteger?

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Hallsburg parecia ficar em um universo paralelo, pois não tinha uma floresta ou qualquer coisa perto. Nem a floresta de Sthorm era perto desse reino. Ficava literalmente no meio do nada. Andamos por umas dunas por muito tempo, até que finalmente avistamos uma floresta.

— Olha só, finalmente alguma coisa — falei.

— Bom, estamos no caminho certo — Maya falou. — Aquela floresta é um dos caminhos para Techno.

— Tem algum rio ou coisa do tipo? Vamos precisar de água — Henry disse.

— Tem sim.

— Como sabe? — perguntei.

Antes que eu pudesse falar mais alguma coisa, Maya olhou para trás e me desviou de um homem todo encapuzado. Eu caí no chão. Ela ficou na minha frente. Haviam quatro daqueles homens. Eu me levantei e peguei minha espada. Não me sentia preparada para lutar, mas eu me sentia mais forte, sei lá. Acho que a situação de perigo me deixou daquele jeito.

— O que querem? — Maya perguntou, me protegendo atrás dela.

Eu já tinha visto ela em ação, mas depois de tudo o que aconteceu entre nós no treino, ver ela me protegendo daquela forma foi fundamental para que eu percebesse que ela só queria me ajudar.

— Queremos o que vocês têm. Tudo. Entreguem e poderão viver — um dos homens disse.

— Não podemos fazer isso — Henry falou para Maya.

— É, vamos lutar. — Ela já estava pronta.

— Vão ficar aí conversando ou vão entregar seus pertences? — um dos ladrões falou.

— Tenho uma opção melhor — minha guarda disse e atacou.

Henry começou a lutar com um, Maya lutava com dois e eu estava rezando para que eles viessem me ajudar logo. O meu oponente estava armado com uma faca. eu tinha a vantagem de estar com uma espada e tentei atacá-lo. Foi uma péssima decisão, já que ele era bem mais treinado que eu. Ele conseguiu me desarmar. Por sorte, Henry já tinha derrotado um e conseguiu me ajudar.

— Pegue sua espada e lembra do que Maya te disse — ele disse e foi lutar.

Peguei a espada. O antigo oponente de Henry se levantou. Ele parecia ser bem mais fraco que o ladrão que eu tinha enfrentado, mas resolvi não subestimá-lo. Ele começou a me atacar e eu só me defendia. Maya derrotou um dos ladrões (ele não parecia nada bem).

— Vamos continuar nisso? Desistam logo — ela disse para eles.

Ok, tenho que admitir que ver ela lutando era incrível. Ela exalava confiança e poder. Seus movimentos eram precisos e muito bem pensados. Maya tinha uma inteligência absurda e suas estratégias de luta eram excelentes. Os inimigos nem tinham chance contra ela. Apesar de ser nova, Maya parecia bem mais experiente que qualquer guerreiro que eu já tinha visto. Uma mulher sendo melhor que os homens. Eu nunca tinha pensado que as mulheres poderiam ser melhores guerreiras que os homens. Maya estava me mostrando isso e um novo sentimento tomava conta de mim: admiração, vontade de ser como ela. Toda aquela raiva que eu senti no treino, eu não sentia mais. Eu queria que ela me ensinasse para que eu pudesse ser como ela. Queria aprender a lutar, a me defender. Lembrei que Benjamin me disse que aquela era a oportunidade que eu sempre quis de ver o mundo e, naquele momento, eu percebi que era muito mais que só ver o mundo; eu sairia daquela experiência sendo uma pessoa completamente diferente. Então, por que não deixar que Maya me ensinasse?

Maya derrotou o outro oponente e veio me ajudar. 

— Dois de vocês precisam de ajuda. Quer mesmo lutar contra mim? — ela falou para o ladrão.

— Se você for inteligente, vai sair correndo — Henry falou, apontando para o outro que também estava no chão. — Nos deixe ir.

Faltou a inteligência no ladrão e ele tentou atacar Henry lançando uma faca, mas o príncipe desviou e o homem foi atingido por uma flecha. Eu já fiquei assustada, imaginando que era mais um grupo de ladrões, mas na verdade era alguém que já tínhamos visto: o Arqueiro.

— Olá — ele começou. — Sei que não precisavam de ajuda, mas eu precisava fazer isso.

— Obrigada? — Maya falou e cruzou os braços. — O que faz aqui?

O Arqueiro não estava com aquele sorrisinho debochado da primeira vez em que nos encontramos. Ele parecia cansado e preocupado.

— Meu reino foi invadido. Tomaram tantas coisas do meu povo — ele falou e suspirou.

— Quem fez isso? — Henry perguntou.

— Forbianos. Sei que Sthorm foi tomada por eles, então quero ajudar.

— Achei que você era um espírito livre — falei. — Qual é seu reino?

— Princesa, isso não é hora pra brincadeiras — Maya me repreendeu.

— Desculpa — falei e olhei para o chão envergonhada.

— Tá tudo bem. Sou de Echo.

— Espero que eles não destruam Echo. É um dos reinos mais lindos — Henry falou.

— Você não é o príncipe de algum lugar? — o Arqueiro perguntou, olhando desconfiado para o príncipe.

— Sim, de Hallsburg.

— Adoro aquele lugar — o Arqueiro disse e sorriu.

— Já foi em alguma festa? — Henry perguntou.

— Claro. Hallsburg sabe dar festas.

Maya pigarreou, chamando atenção dos meninos.

— Caso vocês tenham esquecido, nós estamos em uma missão. Precisamos ir — ela falou apontando o caminho com os braços. — Guardem esses assuntos pra depois.

Ela saiu andando.

— Ela não dá um sorriso? — o Arqueiro brincou.

— Você não sabe o que ela fez com a Emma — Henry falou e riu.

— Como você ri de uma coisa dessas? — falei e dei um leve tapa em seu braço.

— Rindo. — Ele levou outro tapa de mim. — Aí — ele reclamou.

— Meninos, se vieram aqui pra atrasar nossa viagem, sigam sozinhos. Andem rápido — Maya falou, parecendo brava.

Nós três nos olhamos e o sentimento era o mesmo: melhor andar rápido.

— Manda quem pode… — o Arqueiro começou.

— Obedece quem tem juízo — eu completei.

A Coroa & A EspadaOnde histórias criam vida. Descubra agora