Escrito por: beauyona
"É mais fácil obter o que se deseja com um sorriso do que com a ponta da espada."
— Shakespeare, William.
França, 1706.
Any
Eu ouvia os passos ritmados de Margot, minha criada, atrás de mim. Ela se mantinha a uma distância respeitável, apesar da minha insistência para que caminhássemos lado a lado até a minha propriedade.
Na calada da noite, o trajeto curto do centro até a minha residência poderia parecer arriscado, mas eu me recusava veementemente a oferecer à Duquesa mais essa humilhação.
Era do meu conhecimento que Pierre se afeiçoava por mim, talvez beirando o sentimento lascivo da paixão, mas eu não poderia deixar que ele confundisse seus desejos carnais com amor. Não era a primeira vez que ele tentava me manipular, convidando-me para jantares fartos e esplendorosos, em busca da minha aceitação quanto à sua proposta de me estabelecer na sua residência.
Eu jamais poderia concordar com tamanho absurdo.
Sua esposa moribunda precisava, além de um cônjuge presente e atencioso, de respeito em sua própria casa. Era ultrajante pensar que Pierre cogitava, de fato, tal contrassenso. Por Deus! Amélie não mais exercia algumas atividades como mulher, era bem verdade, mas ela ainda era sua esposa perante o Senhor. Ele a devia certa dose de respeito, apesar de tudo.
Por isso, da mesma forma que eu me recusava a viver debaixo do mesmo teto que a esposa de Pierre, assumindo pública e oficialmente ser amante do Duque de Villars, recusava também sua carruagem, me pondo a caminhar um bom pedaço até o fim da Champs-Élysées. Minha própria carruagem só era utilizada em situações extremas, quando eu precisava me deslocar de Paris às cidades vizinhas, por exemplo.
Finalmente, após a caminhada moderadamente longa, adentramos o arvoredo, podendo ser visível a olho destreinado o topo arquitetônico da minha casa. Uma brisa gélida alcançou o meu rosto no exato momento em que um farfalhar insólito se fez perceptível aos meus ouvidos. A marcha de Margot foi interrompida de abrupto, da mesma forma que seu breve bradado foi silenciado. Antes que eu pudesse conferir e confrontar o que estava acontecendo, a parte traseira da minha cabeça foi atingida por um material pesado de forma agressiva, levando-me à tontura e, por fim, à escuridão.
Acredito que permaneci desacordada por algumas horas, pois, assim que abri meu olhos, captei a claridade alaranjada do amanhecer. A constatação de que eu não estava nos meus aposentos me atingiu violentamente, provocando-me uma sensação nauseante e fazendo-se necessário me recostar na superfície atrás de mim, que reconheci como sendo um corpo rígido, em um esforço desajustado, ao passo que acompanhava o trote preguiçoso do cavalo por entre a floresta.
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Forever Us | Beauany
FanficE se você estivesse fadado a encontrar o amor da sua vida independente da situação, época ou momento? E se, em looping, você sempre esbarrasse em sua alma gêmea, tão rara, mas tão fiel? E se o "o que é seu ninguém tira" que tanto usam para justifi...