-O que é que vais fazer hoje?- digo da cozinha enquanto preparo café.

-Acho que talvez vá almoçar com os meus pais.

-Oh eles estão cá?- os pais da Caroline são como segundos pais para mim, deixam-me viver aqui de borla e oferecem-me sempre sítios para passar as férias para não falar que me ligam a perguntar como estou.

-Sim, eles vieram ver o bailado.

-Mas isso é só daqui a duas semanas.- eu ia tocar no solo de uma bailarina e ia começar a ensaiar já segunda.

-Eu sei, eles quiseram vir mais cedo.- vou-me sentar ao pé da Caroline no sofá com o meu café.

-Bem isso é bom.

-Queres vir? Eles iam adorar de certeza.

-Não obrigada, eu combinei estar com o Niall.- e depois não me queria intrometer num almoço de pais e filha.

-Oh.- nenhum comentário desagradável por causa do Niall? Estranho. Levantei-me e dirigi-me para o meu quarto para me começar a vestir. -Hey Sky.- viro-me para trás. -Achas que ele te vai ligar?- sabia que ela se referia ao Zayn.

-Espero que sim.


O fim de semana tinha passado depressa, o Niall a manter-me ocupada com almoços, lanches, jogos de futebol e cervejas. A Caroline passou o fim de semana com os pais deixando-me sozinha em casa o dia todo de domingo. Já estava na Juilliard desde as oito da manhã, tinha sido dispensada das aulas para ensaiar com a bailarina. Eu fiz ballet até aos 8 anos, foi uma ideia da minha mãe para eu deixar de ser tão desastrada a andar, não obteve muito resultado, ainda hoje ando sempre a cair.
A minha mente estava completamente dispersa, o Zayn ainda não tinha dito nada e eu contava mesmo que ele fosse dizer... Se calhar estou a pôr as minhas expectativas nele demasiado altas, tenho o vício de fazer isso.

-Skyllar achas que podes acelerar na parte das piruetas?- desvio o meu foco para ela que estava a calçar as pontas à frente da parede de espelhos.

-Hmm sim claro.- sentia-me intimidada por ela, não que eu não gostasse dela mas as bailarinas tendem a ser tão perfeitas, altas magras e com aqueles tutus e a agilidade e tal, sentia-me um patinho feio ao pé dela.

Passamos o dia inteiro a ensaiar, mais ela do que eu, estava constantemente distraída e a música sempre a ser repetida começava a irritar-me. Pensei que era de mim mas quando ela pediu para fazermos uma pausa percebi que ela também se estava a aborrecer. A Annie sentou-se e tirou as pontas e o tutu branco, os pés dela estavam cobertos de pus e sangue e sem querer fiz um pequeno barulho de dor o que a fez olhar para mim.

-Desculpa. Eu não quis-

-Não faz mal, no início também me fazia impressão, depois vais-te habituando á dor.- dá-me um sorriso para me tranquilizar. Aquilo fazia-me estimá-la ainda mais, o sofrimento que a maioria das pessoas não faziam ideia que elas passavam. Ela acostumou-se à dor, continuava a pensar nisso. -Há quanto tempo é que tocas?- abano a cabeça e sento-me no chão ao pé dela que se entretém a cobrir os pés com pensos de todos os tamanhos possíveis.

-Desde os 8 anos, logo depois de sair do ballet.

-Não sabia que dançavas!- ela faz-me um sorriso grande e eu riu, eu realmente não danço.

-E não danço, eu era uma desastrada.- 'e continuo a ser' quero dizer mas tento não me rebaixar mais á frente dela que me encara com um sorriso lindo.

-Tenho a certeza que não eras assim tão má, tens uma noção de musicalidade perfeita, nunca ouvi ninguém tocar como tu.

-Muito obrigada mas acredita eu era.- ambas rimos.
Ensaiamos mais um par de vezes antes de ela dar por acabado o ensaio fazendo-me suspirar de alívio, os meus dedos já me estavam a doer, não quero nem consigo imaginar os dela.

Já estava escuro lá fora, e já poucas pessoas andavam pela escola. Vou ao meu cacifo e pego na minha bolsa, começo a dirigir-me para a saída e à medida que me aproximava conseguia ver uma figura alta parada a olhar do outro lado da rua. Saio da escola, agora estávamos um á frente do outro, a estrada a única coisa a separar-nos. Aproximo-me mais do limite da estrada e então reconheço-o, era ele, Harry. Ele parecia completamente diferente com um casaco castanho claro de pele e um gorro na cabeça, a parte do anjo negro tinha desaparecido.

Comecei a andar para casa, não queria de maneira alguma voltar a falar com ele, ou melhor ser ignorada por ele. Voltei-me para trás mas ele já não estava lá, ah boa ele é daqueles que desaparecem do nada dos filmes, ótimo. Sinto-me irritada e nem sei porquê, e mais que isso sinto-me perseguida o que é ainda mais estúpido pois é obvio que ele nunca me iria seguir. Ponho o Harry no fundo da minha cabeça e ando mais depressa, estou a morrer de fome, já não como desde manhã e como os pais da Caroline vão jantar em nossa casa a comida vai ser boa de certeza.

Mal entro no duplex um cheiro de caril invade o meu olfato, o caril da Caroline era ótimo e o meu estômago já estava a começar a fazer sons estranhos.

-Skyllar querida!- a mãe da Caroline recebe-me de braços abertos. Dou-lhe um abraço e faço-lhe um grande sorriso.

-Mrs. Hill como está?

-Já te disse para me chamares Meg querida. Mas sim eu vou andando e tu como é que estás? A nossa Caroline já me disse que vais tocar no bailado, estou tão feliz.- ela é realmente uma segunda mãe para mim, como os meus pais estão em Portland e entre os horários do hospital da minha mãe, que era enfermeira, e o meu pai a tentar manter-se como arquiteto e a trabalhar nos seus pequenos ocasionais projetos, eles não tinham muito tempo para mim, havia várias meses que eles não me conseguiam mandar algum dinheiro para pagar a metade da propina que tenho de pagar, mas eu estou-lhes mais que grata por me terem deixado vir para esta escola e ainda se esforçarem para me tentar ajudar, estou mesmo.

-Estou contente que vá ver, eu estou ótima está tudo igual por aqui.- fomos para a mesa onde falei com o pai da Caroline que em tempos tinha sido um importante homem de negócios. Sentia-me bem, rodeada por eles.

-Sabes o que é que falta nesta casa?- sentámo-nos a comer à mesa. Hmm estava ótimo, fechei os olhos em apreciação e murmurei um 'obrigada' de olhos arregalados à Caroline que se riu ligeiramente. -Um piano.- olhei para a doce senhora que mudava o seu olhar entre todos nós na mesa, ela em tempos tinha sido pianista e foi ela que incentivou o gosto pela música clássica à Caroline.

-Eu concordo.- sorri-lhe e abanei a cabeça levando mais um pedaço de caril à boca. O único piano que tinha estava em casa dos meus pais em Portland, lembro-me perfeitamente de quando o recebi, foi uma prenda de Natal de toda a minha família, um pequeno piano de madeira castanho que me acompanhou durante anos até eu ir para a Juilliard.

-E quadros, também faltam quadros nestas paredes.- Mrs. Hill observava as nossas paredes brancas nuas. -Caroline querida, quando voltares a casa temos que resolver esse assunto, podes levar alguns da sala ou do quarto do teu irmão, ou mesmo do teu, não achas?- ela assentiu com um sorriso educado encarando o prato. O irmão mais velho da Caroline tinha morrido há alguns anos atrás por causa de uma doença que nunca soube bem qual foi, eles eram crianças, lembro-me de ela me ter contado isso, nunca a tinha visto chorar antes e foi preciso um ano para ela me contar. A Caroline ainda é bastante sensível em relação a isso.

Os seguintes minutos do jantar foram passados em completo silêncio até o Mr. Robinson começar a falar de como iam começar as eleições e assuntos politicos que todos fingimos estarmos interessados apenas para não continuarmos com o silêncio constrangedor.


// NOTA DE AUTORA // Estamos quase a chegar aos meus capitulos preferidos, yayyyyy!! obrigada a todos os que estão a ler, amanhã há mais, muitos beijinhos

Before The GoodbyeOnde histórias criam vida. Descubra agora