Eram exatamente 3h da madrugada. O relógio da cozinha fazia seu habitual tic-tac conforme os ponteiros se mexiam e os minutos passavam. Esse era o único barulho proveniente do apartamento. O silêncio reinava na calada da noite, como um ser fantasmagórico que envolvia a vizinhança e se alojava no fundo da mente de cada morador.
Naquela noite, nem ao menos a estranha mulher do andar superior havia feito sua rotineira discussão consigo mesma, ou quem sabe, com algum outro ser desconhecido até então.
Jimin estava debruçado sobre o livro, deitado no sofá. Com os olhos vidrados, encarava o vazio. Não tinha conseguido dormir direito, apesar de seus esforços para tal. Não tinha nem ao menos coragem suficiente para levantar-se do sofá e ir para seu quarto. Ainda sentia-se observado. Talvez estivesse sendo mesmo. Talvez não. Quem poderia afirmar?
Sentou-se então no sofá, desistindo de tentar entregar-se ao sono, os olhos com olheiras profundas e inchados de cansaço. Leu mais uma vez tudo o que estava escrito no livro, talvez só para se certificar de que não tinha imaginado coisas, que não estava ficando louco.
Lembrava-se de que as palavras surgiam magicamente, como se um outro alguém estivesse escrevendo-as. Enquanto lia, seus braços arrepiavam-se mais uma vez. Seu coração batia forte.
Eis o que estava escrito nas páginas, com uma letra rebuscada e bem marcante, que parecia ter sido feita a lápis:
''Jimin. Olá, Jimin. Como vai?
Eu sei o seu nome, mas você não precisa saber o meu.
Você demorou. Já fazia bastante tempo que te esperava.
Quer ouvir uma história mesmo? Não se preocupe, não será muito longa. Eu prometo. Será como uma doce melodia para seus ouvidos.
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Era uma vez, em um vilarejo muito distante, um jovem chamado K, que vivia em um mundo puro e encantado, e que passava todos os seus dias cantarolando, mergulhado em um mar de fantasias ilusórias e tolas.
K não passava de um maldito desordeiro que nem ao menos uma família de sangue possuía. Todos haviam-no deixado, já que não queriam viver ao lado de uma criança amaldiçoada. Vivia em um orfanato antiquado e quase não possuía amigos por lá, justamente por essa sua má fama.
Certo dia, K resolveu que iria encontrar uma forma de fugir do orfanato, pois tudo nele estava sufocando-o e impedindo-o de viver em seus sonhos, em seus devaneios. Contou com a ajuda de um amigo próximo, cujo nome nem precisa ser proferido (já que que ele não merece nem ao menos ser relembrado).
Sendo assim, quando o relógio bateu meia noite, e todas as crianças do orfanato já estavam adormecidas, bem como quase todas as cuidadoras que as vigiavam, K traçou seu plano à risca junto com o insensato de seu amigo. Ambos quase foram apanhados por uma cruel inspetora que rondava o pátio. Quase.
Tiveram sorte em ir para as ruas, poderia afirmar. Nada melhor do que viver em meio à criminalidade ordinária, sendo tratados com descaso e abandonados em meio a sacos de lixo e animais traiçoeiros e peçonhentos. Melhor do que continuar sendo constantemente vítimas de abusos físicos e psicológicos no lugar onde anteriormente residiam. Agora poderiam ser livres, como sempre desejaram.
Contudo, K percebeu que não era isso que seu amigo preferia. Tinha mudado de ideia. Não queria mais roubar, passar fome. Precisava voltar. Sua vida já era destruída mesmo, sem sonhos. O que mudaria?
Dado isso, ele voltou para o orfanato, deixando K sozinho, à mercê de um mundo sombrio e cruel, mas que aos poucos foi se acostumando. Era um vilarejo pequeno até. Não era possível ninguém ser amigável por lá.
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O Livro da Meia-Noite / JiKook
Mystery / ThrillerPark Jimin foi presenteado por um desconhecido com um intrigante e enigmático livro, que narra a história de um misterioso personagem intitulado apenas como K. Jimin logo descobre que pode fazer escolhas por K. e alterar o rumo da história sempre qu...