Capítulo 2

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Christopher

Muito bem.
Uma pergunta simples:
Como se explica a uma senhora de idade que a neta que ela veio aqui procurar foi raptada provavelmente por um homem louco, vingativo e com sede de poder e que, para além disso, existe uma pequena possibilidade de ela não estar viva neste momento?
Acho que com estas palavras ela não tem um infarto. Vamos lá.
Dirijo-me à entrada e não demora muito até receber um olhar matador de uma idosa. A minha vontade é de responder com um olhar 30x mais assustador, mas acho que um sorrisinho cínico dá muito mais gozo.

-Aceita um café? Talvez seja melhor um cházinho de camomila para os nervos.
-Só quero a minha neta!
-Está a vê-la aqui? Não, pois não?
-Eu sei que sabes onde ela está, rafeiro pulguento!

Rafeiro? Pulguento?! A sorte daquela velha é que eu estou tão ou mais preocupado com a cachorrinha do que ela!

-Pulguento? Fique sabendo que não tenho uma única pulga à um mês.

Opah, vá-se logo embora. Manter este ar despreocupado é o sorriso cínico já está a custar. Para não falar de que quero logo ir procurar aquela cachorrinha indefesa e desfazer a cara do tipo que ma tirou.

-Não quero saber! Só quero a minha neta, aqui e agora!

Acho que vai ter de ser pela maneira dificil…

-Olhe, realmente a sua netinha esteve aqui mas já saiu. O que aconteceu depois não é assunto meu.
-O que aconteceu?- pergunta ela muito preocupada. Acho que lhe vai dar uma coisinha má.
-Alguém vestido de preto apanhou-a na rua e…- a palavra não quer sair-, … levou-a.

A velha fica em shock e quase me cai em cima do meu maravilhoso chão de madeira recentemente encerado. Felizmente o maridinho apanhou-a a tempo, nem tinha reparado nele. Também não era para tanto. A única coisa que aconteceu foi que a sua única e amada neta foi raptada por um doido varrido. Podia ter sido pior.

-A minha linda ___… raptada. Eu não acredito. Temos de ir procurá-la!
-Isso mesmo. Vão lá procurar essa criatura, tenho mais que fazer do que assistir aos vossos lamentos.- digo enquanto os empurro para fora de minha casa.

Depois de saírem meto as mãos à cabeça, preciso de pensar. Onde é que aquele psicopata terá enfiado a cachorrinha?

-Custou-te, não foi?- esqueci-me que a Maria tinha assistido a tudo.
-O quê?
-Não finjas que não sabes. Tu estás tão preocupado com ela como eles.
-Não estou.
-Estás. E era por isso que estavas mortinho para que eles se fossem embora: para poderes ir tu procurá-la.

Odeio que ela me conheça melhor do que ninguém.

-Estando ou não tenho de a encontrar. Enquanto não descobrir como mudar o meu destino preciso dela para me tornar chefe da matilha.

Sim, preciso de uma humana insignificante para estar no lugar que já era meu por direito. Eu sou o filho mais velho do último chefe da matilha, logo o legítimo herdeiro. O meu pai morreu à um ano, mas eu ainda não posso tomar o lugar dele.

FLASHBACK [1 ano antes]

Ele já não respira. Esperei que me doece mais mas, afinal, nunca fomos assim tão chegados. Só aqui estou porque sou o seu sucessor, eu vou tornar-me o novo chefe da matilha. Mas antes disso tenho de me dirigir ao sábio.

-Ainda não podes ascender ao trono.- disse-me assim que entrei no seu escritório.
-Mas porquê? O meu pai morreu e eu sou maior de idade. Não vejo porque não.

O sábio começou a andar de um lado para o outro remexendo nos livros da sua estante.

-Um dia encontrarás a tua alma gémea, e aí sim, estarás pronto para ocupar o lugar do teu pai. Ela tornar-te-à um lobo melhor e será capaz de amolecer o teu coração. Serás um melhor líder graças a ela.
-Está a brincar, não é?
-Não, meu rapaz.
-Quem é ela, então? Eu conheço todas as fêmeas da matilha e nenhuma tem ar de ser a minha alma gémea.
-Porque ela não é uma loba. Christopher, meu filho, tu estás destinado a uma humana.

Eu estou o quê?!

Protege-me |2ªtemporada Sente-me| (Christopher Vélez e tu)Onde histórias criam vida. Descubra agora