Prólogo: Reminiscências

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12 de novembro de 1991

— Você não vai me dizer? — Laura se senta no chão ao lado da cama.

— Não. — Eden murmura, sua voz soava como vidro quebrado. Ela mantinha seu rosto enterrado no travesseiro, os braços ao redor da cabeça. Sua mochila amarela estava jogada aos pés da cama. O baque foi o que acordou Laura, que sabia exatamente o que significava. Era um pequeno prefácio do que estava por vir. — Eununamaivouairaqui.

— O que?

Eden se senta e esfrega o nariz avermelhado com a manga do moletom. Seu rosto estava vermelho e inchado, e seus olhos inundados eram exaustos, insinuando que ela havia chorado durante todo o caminho de volta. Laura sabia que era o caso e lamentou em silêncio. Era sempre desse jeito...tão injusto.

— Eu nunca mais vou sair daqui.

— Do que você está falando? É claro que vai!

— Você não precisa mentir para mim como a Srta. Wright faz. Foi um desastre, sempre é. Todas as vezes que eu saio daqui e passo uma noite na casa de qualquer família é um show de aberrações. Eu nunca vou ser adotada.

— O que aconteceu?

— Os Waltham tem um filho mimado que continuava implicando comigo e zombando das minhas roupas. — Eden funga. — Um dia eu deixei a porta do quarto destrancada quando fui tomar um banho e ele rasgou a única foto que eu tinha da mamãe, e eu...eu perdi a cabeça.

— Você machucou ele?

 — Não eu, exatamente. — Eden se deixa cair na cama, encarando o teto. — Porque é tão simples para todos os outros conseguirem uma família e não para mim? — Uma breve onda de silêncio paira no ar.

— Eles não sabem o que estão perdendo. — Laura havia tentado aquilo antes, e Eden viu um feixe luzente de esperança em seus olhos de que, desta vez, ela saísse triunfante. — Acho que a maioria dos adultos não sabe, não é? Eles continuam esperando essas coisas impossíveis e se frustram muito fácil quando não encontram o que procuram. Talvez seus futuros pais estejam procurando nos lugares errados. — Laura sorri, uma imagem otimista. — Você é tipo, a pessoa mais incrível do mundo, quem não ia querer você? — Ela acrescenta, buscando o olhar de Eden.

— Jo se foi. Você tem seus avós, só está aqui para passar pelos Sacramentos. Frank foi adotado por aquela família que resgatou vários cães de rua e adotou várias crianças. Eu nunca passo de uma semana ou as vezes até mesmo da hora do jantar para decidirem que não querem mais nada comigo. Será que é tão difícil?! — Eden sentiu seu sangue ferver e Laura se encolheu um pouco, como um animal encurralado. — Eu sinto que ficarei aqui olhando as estações passarem pela janela como sempre, até os 21 anos. Nunca mais tivemos um natal feliz desde que a Jo foi embora. É triste demais para nós fazermos qualquer coisa que costumávamos como um trio, você sabe. E eventualmente você também vai... — Eden deixou a frase morrer.

— Sinto falta do natal de antes, também. Mas você não vai ficar sozinha, Eden. Eu estou aqui agora, lembra? E eu sempre estarei.

— "Para sempre' é uma ficção, Laura. — Eden sorriu, mas seus olhos não. — É apenas uma mentira que continuamos contando por medo de perder as coisas boas.

— Essa é a beleza! — Laura sorriu ainda mais, e de repente Eden se viu na mesma atmosfera — Para sempre enquanto for bom.

— Então vamos ser amigas para sempre porque é uma coisa boa?

— Vamos ser amigas para sempre porque é uma coisa boa. — Laura afirmou e as duas sorriram e se olharam por um tempo, sem haver a necessidade de dizer qualquer outra coisa.

Guardiões de Demônios: O DespertarOnde histórias criam vida. Descubra agora