O anjo

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Era só um sábado normal na vida de Lee Sangyeon. A louça do café da manhã já estava lavada, o lixo já tinha sido depositado na lixeira externa, tudo na sala de estar brilhava assim como a pequena Heeyoung, tomando o seu leitinho na mamadeira, tão quieta como costumava ser naquela hora da manhã. A bebê tinha o mesmo tom de pele que o pai e as bochechas tão rosadinhas e macias que pareciam pêssegos. Olhinhos puxados, escuros e pequenos, a boca pequena, tudo pequeno.

Era em momentos de paz como aquele em que Sangyeon se sentia satisfeito por completo, sendo ele o pai da criatura mais perfeita do universo. Ele nunca se arrependeu de nenhum dos feitos inconsequentes que acabaram provocando o seu nascimento: o que importava, pensava ele, ao sentir os cabelos escuros e fininhos na sua mão, era que ela existia, afinal de contas, estava viva, feliz e era amada. As desavenças com sua mãe e a separação não o impediram de criá-la de forma saudável e responsável por suados sete meses, cheios de tutoriais no youtube, idas ao posto de saúde, de trocas de fraldas e noites em claro.

E talvez o único problema atual fosse que a pequena Lee Heeyoung não tinha mais uma babá para cuidar dela enquanto seu pai estivesse trabalhando feito um louco na agência de publicidade. Sua última babá foi uma senhora simpática de meia-idade que precisou pedir licença por conta de uma doença muscular. Não demorou muito e a empresa de serviços domésticos que ele havia contratado agendou uma reunião com a nova babá. Ela apareceria naquele sábado e ficaria um tempo predeterminado, apenas como teste. Se o Sr. Lee não gostasse dela ou não conseguisse fechar os horários, poderia solicitar outra reunião, com uma babá diferente. Todo o esquema de troca de cuidador não tinha acontecido muitas vezes e quando acontecia, Sangyeon sempre se satisfazia com a escolha do pessoal da empresa de serviços e continuava com sua rotina.

Naquele dia, o jovem pai não teve tempo de abrir o perfil já enviado sobre o profissional que supostamente apareceria em sua casa em poucos minutos para conhecê-lo e a sua filha. Ele apenas acordou para adiantar os serviços da cozinha (já que não tinha dinheiro suficiente para cobrir alguém para limpeza também) e seguiu dando atenção à simpática Heeyoung que já arriscava algumas conversas monossilábicas com seu papai.

O som da campainha cortou aquele momento. Sangyeon deixou a pequena Hee no cercadinho com os brinquedos e foi até a porta da frente, abrindo e dando de cara com um garoto de cabelos loiros que sorriu largo para ele no momento que o viu. O Lee ficou confuso por um mísero segundo, pois, irracionalmente, esperava uma mulher. Uma mulher mais velha de terninho e cabelo preso e penteado com gel. Talvez Sangyeon fosse um pouco antiquado, apesar de só ter vinte e nove anos na cara.

— Sr. Lee? — O garoto sorridente lia seu nome num cartão. Ele podia ter no mínimo uns vinte e cinco anos e tinha uma voz simpática. Algo nele também fazia Sangyeon hesitar demais em responder e ele não sabia dizer o que era.

— Sou eu.

— Sou Bae Jacob da Home Care, me mandaram por conta da sua pendência…

— Sim, claro! Seja bem-vindo. — O Lee fez reverência, saiu da frente da porta e deu espaço para o mais novo entrar na sua casa.

Ele vestia uma jaqueta jeans clara meio surrada e tênis all-star, que foram retirados no vestíbulo e trocados por um par de chinelas previamente separadas por Sangyeon para qualquer visitante. 

O Lee se perguntava como aquele garoto que parecia mais um estudante universitário ou um professor de inglês tinha ido parar numa empresa de serviços domésticos. Então, antes que pudesse perguntar sobre, Jacob passou para ele o cartão da Home Care que segurava e nele tinha impresso o seu perfil com informações básicas.

— J-Jacob? — Sangyeon enfatizou o nome escrito no topo da folha.

— É. Sou canadense mas cresci aqui. — Era sempre mais prático explicar logo — Quer dizer, não aqui em Seul. Me mudei para estudar.

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