Jogo de sorte

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No dia seguinte a ansiedade era tremenda. Sangyeon esperava Jacob chegar para poder ir trabalhar, mas ele estava um pouco atrasado ao se comparar com a pontualidade dos outros dias. Seria por causa daquele beijo do dia anterior? O Lee tinha medo que o outro quisesse trocar de lar e fosse cuidar de outro bebê só por causa dele. Por causa daqueles impulsos que tinha quando estava por perto. Naquele dia, Sangyeon não se importava em chegar um pouco tarde no trabalho, ele só queria ver Jacob passando pela porta para saber que estava tudo bem.

E deu certo, ali estava ele depois de intermináveis quinze minutos. Mal sabia que quase tinha matado Sangyeon do coração.

— Desculpa o atraso, perdi o ônibus — ele disse, retirando a jaqueta jeans que costumava usar.

— Tá tudo bem — o Lee balbuciou, olhando para um ponto fixo, ainda sem saber como agir, pois o Bae agia como se tivesse esquecido do dia anterior, no carro… Ou ele apenas fingia demência. Devia ele fingir demência também? — como você está? Dormiu bem?

— Sim, nessa chuva então... — Jacob sorriu torto, mal acostumado à perguntas daquele tipo — onde está Heeyoung?

— No berço. Acabei de dar a papinha.

— Então eu vou ferver o leite logo… — Jacob entrou na cozinha, ignorando qualquer escrúpulo vindo do semblante do mais velho. Sim, ele lembrava do beijo, não estava louco, mas ainda parecia um sonho quando pensava sobre. Ainda mais com Sangyeon: porque ele? O Bae se achava um ninguém, um aleatório. Alguém como o Lee poderia ter qualquer um, ou qualquer uma.

Ou será que ele era assim com os cuidadores? Seria algum tipo de fetiche? Ou uma pendência deixada pela ausência de outra pessoa que habitasse a casa? Jacob sentia que logo precisaria esquecer do cheirinho de loção pós barba de Sangyeon e dos seus lábios suculentos. A começar naquela mesma manhã.

Jacob chegou no balcão, e derramou o leite da Heeyoung numa panela. Sangyeon apareceu quase sem aviso atrás de si e se esticou para pegar a chave do carro que também estava em cima do balcão. O loiro não teve tempo de se afastar e deixou ser encoxado bem ali. Seu coração acelerou com a proximidade repentina, mas logo o mais velho ameaçou se afastar, com a chave em mãos. Jacob se virou antes que ele fosse e o segurou pelas mangas da camisa social.

Sim, estava com raiva. Parecia que o mais velho gostava de provocá-lo e se aproveitar da sua quase submissão. Ele só não queria mais sair perdendo, e se fosse para jogar aquele joguinho, Jacob jogaria e pronto. Sangyeon se surpreendeu com o outro e esperou algo de maluco acontecer, como no dia anterior. Mas Jacob deslizou as mãos pelos seus antebraços e o deixou ir.

— Tenha um bom dia no trabalho — foi o que disse na sua voz doce, erguendo as sobrancelhas. No rosto um sorriso provocador, fez Sangyeon querer provocá-lo de volta ou roubar outro beijo, mas ele precisava ir, então apenas ergueu o queixo e sorriu.

— Obrigado, você também.

O Lee cruzou a sala de estar até a entrada da garagem mas parou quando seu celular tocou no bolso da calça. Jacob observou, levando o leite pro fogão.

— Alô? Juyeon...? Ainda não… — Sangyeon ficou em silêncio ao ouvir a resposta misteriosa e o Bae apenas esperava, curioso. — Que merda! Vão concertar quando isso? Caramba… Tudo bem, obrigado por avisar.

— O que houve? — Jacob indagou vendo Sangyeon voltando para a sala e ligando a TV.

— A chuva de ontem infiltrou no escritório e deu curto na rede. Vão precisar do dia todo para ajeitar — claramente irritado, o mais velho retirou os sapatos e jogou longe, pro lado do vestíbulo — … Aquela porcaria de prédio velho.

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