II

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Era quarta feira, 12 de junho, dia dos namorados.Tudo começou num belo dia de verão, como a maioria das histórias começam. Neste dia descobri que meu namorado havia me traído pela terceira vez, só naquele mês. Por que continuei com ele quando ele me traiu pela primeira vez? Não tive coragem de terminar quando ele apareceu em minha casa com um choro falso dizendo me amar, e que tinha sido culpa da bebida. 

Na segunda vez, eu tentei acabar com tudo, mas ele me pediu perdão pela segunda vez e eu o perdoei, pelo simples fato de que humanos erram, não iria o condenar.

Na terceira vez, naquele dia em que eu estava na rua caminhando por aí com os cabelos ruivos ao vento, eu simplesmente digitei um acabou para ele e o bloqueei, para não correr o risco de me mandar mensagens.

Dizem que a dor só dói até certo ponto, só dói no período de tempo que você leva para se acostumar com ela, por isso, quando recebi a notícia por intermédio de uma garota que conhecia, não duvidei, não hesitei. Apenas assenti, como se aquilo fosse algo normal. A verdade é que uma pequena esperança murchou dentro de mim, mas a mesma só durou por alguns minutos.

Um término não é o fim da sua vida.

Continuei meu dia normalmente, e não me dei o trabalho de voltar para casa cedo. Naquele dia, bebi algumas latas de cerveja, o suficiente para que eu ficasse levemente tonta, mas que aguentasse chamar um uber para que me levasse para casa.

Chegando lá, minha mãe me recebe com um olhar irritado, meu padrasto ao seu lado.

- A vadia bebeu de novo - diz ele, enquanto me amparava para que eu não despencasse de vez no chão.

Meu irmão Colin, de 16 anos correu até onde estávamos.

- Deixe que cuido dela. - fala me tirando dos braços do meu padrasto, ele sabia onde aquilo acabaria se não interferisse.

Meu padrasto era um grande empresário. Um homem alto forte e elegante, usava roupas requintadas até em casa, e agia como o milionário que é. Entretanto sua aparência era uma grande névoa para esconder o covarde que era. Segundo ele, mulher na sua casa não opina, se opina, apanha, se deixa algo sujo, é vítima de xingamentos.

Minha mãe, uma mulher baixa e bonita, com cabelos curtos e loiros, era sua cobaia. Vivia de acordo com suas regras, e fazia o papel da boa esposa, indo a ele em eventos importantes e passando uma imagem da família perfeita ao lado daquele homem, enquanto ele saia a noite sem dizer para onde ia para se divertir com suas "outras mulheres", aquelas que não são vistas pela sociedade.

Ainda assim, minha mãe preferia o marido, ficar de seu lado, e permitir que ele me espancasse quando chegasse bêbado em casa.

Meu irmão Colin graças a Deus, era filho do mesmo pai que eu, assim como minha irmã mais velha que não morava conosco. Ele era totalmente diferente do nosso padrasto, e eu agradecia por aquilo todos os dias.

Ele por mais que fosse mais novo que eu, era forte e me pegou nos braços me levando não para o meu quarto, mas para o seu, e me jogou na sua cama.

- Ah Hanna...- disse ele num tom preocupado enquanto procurava umas camiseta sua e uma toalha.

Ele me pegou pela cintura e me obrigou a ficar acordada e tomar um banho. Lembro que dormi profundamente depois, e meu irmão cuidou de mim a noite toda, me dando analgésicos de madrugada e me deixando mais tranquila, ele sabia que eu estava abalada, sabia muito bem.

Aquilo não foi pelo término, meu abalo. Foi uma recaída, um acúmulo de decepções, mais uma pra lista. Eu teria ido no caminho da bebida e das drogas não fosse por meu irmão, uma alma muito mais sensata que a minha.

Esses meus "momentos", por assim dizer, acontecem desde meus 15 anos de idade. Eu estava em meu quarto, havia acabado de sair do banho e estava trocando de roupa, quando meu padrasto entrou no quarto. Bem, vocês devem imaginar o que aconteceu.

Por pouco, muito pouco, consegui me livrar de suas tentativas de me agarrar e sai correndo do quarto. Fui até minha mãe, contei tudo enquanto as lágrimas escorriam de meu rosto, estava envergonhada, me sentindo suja. Porém, a frase que saiu de sua boca não foi consoladora.

- O que você queria? A culpa foi sua por não ter trancado a porta. 

Desde aquele momento meu relacionamento com minha mãe foi por água abaixo.

Decepções da vida, então voltemos para o momento.

Devido a ressaca, dormi até tarde no dia seguinte, e meu irmão me acordou sacudindo meus ombros.

- Não esteja morta...

- O quê?! - disse me levantando de súbito e lhe dando um susto. Ele levou a mão ao peito, dramático. - você não vai se livrar de mim tão cedo irmãozinho.

- Do jeito que não acordava, amada. - disse saindo da cama.

Meu irmão era um cara de um humor extraordinário e surreal para alguém que morava debaixo daquele teto. Ele, desde pequeno preferiu os garotos, mas claro que ninguém da nossa família a não ser eu e meu pai sabia disso. Não gostaria de imaginar o que teria acontecido caso minha mãe tivesse descoberto isso, ou pior, meu padrasto.

Levantei da cama e me mirei no espelho do armário de Colin. Meus cabelos ruivos estavam uma bagunça só, e meus olhos azuis adotavam um leve tom de vermelho devido ao sono.

Fiquei apresentável e não me dei o trabalho de tomar café em casa. Sai para rua, de novo. Não lembrava qual a última vez que havia passado um dia todo em casa.

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