Liberdade

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As sete da manhã meu celular vibrou no criado mudo ao lado da cama. Eu ainda estava deitada.

Ravi: bom dia Ruby Anny :)

Sorri involuntariamente.
Mas não iria responder. Não iria mais ve-lo. Eu não podia me envolver com ninguém.
Novamente meu celular vibrou.

Ravi: O que acha de dar uma volta de bicicleta comigo?

Dez minutos depois.

Ravi: Está acordada?

Cinco minutos depois ele me liga.
Cubro a cabeça com o travesseiro e tenho vontade de gritar.

Quinze minutos depois.

Ravi :Estou indo ai!

Merda.
Me forcei a levantar.

********

- Não viu minhas mensagens ?
Perguntou quando estávamos frente a frente na calçada da casa de tia Carmem.

- Eu vi sim. Só não quis responder.

- Porque ?
Ravi pareceu decepcionado.

- Não sei se é uma boa ideia passar um tempo com você.

- Ai,essa doeu.

- O que é aquilo?

Da onde eu estava eu vi do outro lado da rua algo caindo do céu,ao atingir o chão começou a se debater.
Atravessei a rua com Ravi ao meu lado.
Meu coração doeu ao ver um passarinho caido com as perninhas para cima,seu coraçãozinho batendo de pressa. Me abaixo e com cuidado o virei com a ponta de meu dedo.
- O que será que ouve?
Perguntei a Ravi mesmo sabendo que ele não fazia ideia.

- Ele pode ter levado um choque na fiação do poste,ou batido na parede enquanto voava.

O passarinho ficou ali parado.
Toquei a pequena cabeça dele e o acariciei.

- Não podemos deixá-lo aqui.

- Ja volto.
Ravi montou na bicicleta e saiu disparado. Depois de minutos ele voltou de carro.

- Vou colocá-lo aqui - Disse me mostrando uma caixa de sapato. - E vou levar para casa - Continuou - Colocarei em uma gaiola e cuidarei pra que fique bom.

Gaiola?
Eu era totalmente contra a qualquer animal engaiolado.

Com delicadeza Ravi o colocou na caixa.
Fui com ele até sua casa.
Fomos para a área da casa dele.
Fiquei horrorizada ao ver três gaiolas. Uma com um coleirinha,outra com dois periquitos de cabeça amarela e o resto do corpinho verde e na outra um pássaro azul.

- Isso não é certo.

- Do que está falando Ruby Anny?

- Esses passarinhos Ravi. Imagine ficar preso em um comodo minúsculo sem poder sair. Esses bichos foram feitos para serem livres.
Minha voz era triste.

- É sério que está triste por causa dos passarinhos ?

- Você também deveria ficar. Pressos,sem poder voar,logo eles que foram feitos para serem livres.

- Se sentirá melhor se eu os soltar ?
Olhei para Ravi,ele parecia estar sendo sincero.

- Você faria isso ?

- Se você quiser mesmo isso sim. 

- Eu ficaria feliz.
Ele pegou uma das  gaiola é me entregou,e depois pegou as outras duas e fomos para o Jardim atrás da casa.
Com as três gaiolas no gramado ele abriu as Portinhas para que eles saíssem. Um após o outro foi saindo,ganhando a liberdade que nunca devia ter lhes  sido roubada.

- Obrigada.
Sem conseguir me conter dei um abraço rápido em Ravi.
- Acho que eu merecia um abraço um pouco mais demorado.
Ele estava de braços abertos esperando por outro abraço.
Me rendi e o abracei.
Minha cabeça batia na altura do peito de Ravi. Pousei meu ouvido ali,ouvindo seu coração bater.
Ficamos assim não sei por quanto tempo. Eu não senti vontade de o soltar e esperei que ele se afastasse.

- Ruby Anny.
Sussurrou com a voz rouca.
Ergui a cabeça para olha-lo.
Seu hálito quente me tocou a fase.

Seus lábios se aproximou do meu pronto para me beijar mas eu não podia deixar as coisas evoluirem e me afastei repentinamente. Meu coração quase explodindo de tão agitado que estava.

- A gente precisa tirar o passarinho da caixa.
Lembrei a ele. Minha voz saindo com dificuldade.

- Porque insiste em me evitar?Não resista.
Disse tocando meu rosto.

- Nos conhecemos outro dia,não sou o tipo de garota que beija um desconhecido.

- Ruby Anny,eu lhe trouxe a minha casa,conheceu minha mãe. O que mais precisa saber para nos tornar conhecidos?

- Na verdade não faço ideia.

- Quer saber algo que aconteceu comigo ?

- Pode ser.
Eu estava um pouco confusa com o que estava acontecendo.
Eu queria sair correndo dali,pegar minhas coisas e voltar para minha casal e nunca mais ver Ravi,mas também queria ficar ali com ele,deixa-lo me beijar e passar as férias inteira com ele.

- Fui passado para trás uma vez - Contou me puxando para um banco.

- Como assim?

- Por incrível que paressa,quando eu estava na oitava serie,eu tinha um amigo que tinha o mesmo nome que o meu. E eu gostava de uma garota e um outro amigo contou para ela. Ele deve ter falado só o nome porque ela foi até meu amigo com o mesmo nome que eu e perguntou se era ele que gostava dela e ele Disse que sim e saiu com ele naquela noite. E ele sabia que eu gostava dela. No outro dia ele me pediu desculpas.

- Você desculpou?

- Não. Eu dei um soco na cara dele e disse a ele que agora estávamos quites.

- Eu sou da paz,mas adorei sua reação.
Nós dois rumos.

- Já sofri preconceito também por ser negro. Normal,todo negro sofre.

- Como assim normal ? Preconceito racial não pode ser considerado como normal. Negros são como qualquer pessoa.

- É,você tem razão.

- Já foi confundido com uma menina?
Perguntei.

- O que ? Claro que não.
Respondeu rindo.

- Eu já fui confundida com um menino.

- Como foi que isso aconteceu?

- Quando eu era nova,devia ter uns nove ou dez anos,fui com meu pai na feira,e lá tinha uma barraca de roupas,meu pai foi até lá comigo e perguntou se não tinha roupa pra mim,mesmo ele perguntando " Você teria roupa pra ela?" o dono da barraca disse "roupa pra ele tenho sim" e pegou uma bermuda para menino. Na hora meu pai disse " Ela é menina" e saiu da barraca comigo.

- Deve ter sido constrangedor para você.

- E como.

- Agora já somos conhecido ?
Perguntou com aquele sorriso que devia ser considerado proibido.

- Já somos conhecidos!

Meu estômago gelou ja imaginando o que viria a seguir. Minha boca ficou seca.

Ravi não esperou nem um único minuto,e logo estava com a boca na minha. Seus lábios eram macios e quentes. Senti meu corpo todo se eletrizar,um arrepio passou da cabeça aos pés.
Ravi se afastou mas eu queria mais.

- Me desculpe a rapidez,mas eu não podia correr o risco de você me rejeitar.

- Não vou mais te rejeitar Ravi.

Ele colou nossos lábios novamente.
Não vou dizer que o medo que me oprime desapareceu,porque eu estava com medo,muito medo. Ravi poderia transformar minha vida de empolgante como estava,a desastrosa. Mas decidi aproveitar minhas férias sem reservas e aproveitar meus dias com Ravi.

A garota gorda sou eu 2Onde histórias criam vida. Descubra agora