CAPÍTULO 01. EM ROTA DE COLISÃO

11.9K 1.1K 2.1K
                                    

Como eu odeio o colégio! Quantos anos a gente perde aqui? Eu tenho a impressão de que os professores inventam matéria. O George, que ensina história, começou a última aula lecionando sobre feudalismo, essa palavra não deve nem existir, não é possível!

Eu estou reclamando isso com Eduardo. E ele, como sempre, está tentando me explicar o que era, mas eu não compreendo ainda. Mais uma matéria de recuperação. Às vezes eu sinto que faço o dobro de provas que qualquer nerd.

A namorada do Eduardo, Maria Luiza, acaba de chegar no meio da explicação sobre feudalismo, pelo menos não terei que contar a ele que eu não estava entendendo nada. Ela, o Eduardo e eu nos conhecemos no primário, ele sempre foi apaixonado por ela e na 8ª série encontrou coragem o suficiente para convidá-la para sair. Desde então eles não se separam mais.

Eu, por outro lado, nunca me apaixonei. Fico com as meninas e até tenho uma reputação nem um pouco boa e bem verdadeira, mas Eduardo não se importa, então eu também não. Algum tempo atrás eu comecei a perceber os meninos também, é bem possível que eu não seja 100% hétero. Como não procuro nada sério com ninguém prefiro me divertir com as meninas do que questionar a minha sexualidade, pelo menos por enquanto.

Eduardo e Maria Luiza estão indo embora agora, entretanto eu ainda tenho aula de recuperação de matemática, porque, é claro, que quem não entende de feudalismo tão pouco entenderá matemática.

Trouxe o livro de literatura para ler na aula. Eu o comecei semana passada e devo dizer que eu estou achando bem interessante é a história de Gatsby que faz festa e é afim de uma menina. Se eu tivesse dinheiro e nenhuma responsabilidade eu faria o mesmo, talvez sem precisar esperar uma menina.

A aula acaba, até que enfim, e o pessoal que converso me convida para ir tomar uma, mas eu prometi a Eduardo que não ia mais beber depois da vez que eu dei um trabalho absurdo para ele e, pode não parecer, mas eu estou tentando deixá-lo um pouco menos preocupado comigo. Eu falo para os caras que estou atrasado para pegar o ônibus e saio correndo.

Enquanto estou subindo os três degraus do corredor que dá para a saída tropeço em um menino e caio em cima dele. Ainda bem que não tem ninguém por perto, é a única coisa que consigo pensar.

Como estou vergonhosamente em cima dele, eu sinto seu coração disparado e pergunto se está tudo bem e se eu o machuquei. Ele balança a cabeça e tateia o chão procurando algo, até que pega uma espécie de muleta e então percebo atropelei um menino cego.

O ajudo a se levantar e a descer os degraus, pedindo todas as desculpas possíveis. Ele continua sem falar nada, mas passa mão no rosto de um modo que me lembra alguém enxugando lágrimas, me sinto ainda pior. Fico estático sem saber o que fazer enquanto ele continua dando alguns passos para frente e eu só assistindo, não sei se isso é falta de educação ou não.

Alguns minutos depois o pessoal que estava na sala de recuperação sai e quase derruba o menino de novo, é como se ele fosse invisível. E, tudo bem, para falar a verdade eu também não o percebi. Eles falam tchau para mim e quando saem eu chego perto do menino.

- Desculpa de novo pelo esbarrão. Eu sou o Felipe, tudo joia? Posso te dar uma mão com qualquer coisa?

- Não, obrigado, só não passando por cima de mim de novo já é uma grande ajuda - ele diz com um sorrisinho.

Eu dou outro sorriso tentando parecer educado, até lembrar que ele não conseguiria ver meu rosto.

- Você vai ficar aqui por muito mais tempo? Quer ir a lanchonete da esquina comigo?

- Não, não. Obrigado, mas não precisa se preocupar comigo.

- Ok, então, tchau.

Começo a subir os degraus quando percebo que não sei o nome dele e por algum motivo sei que não posso ir embora sem perguntar a ele.

- Qual é o seu nome? - ele dá um pulo antes que eu consiga terminar a frase, e eu me sinto, é claro, bem mal em assustá-lo.

- Você tá aqui ainda? Olha, não preciso que você fique atrás de mim só porque se sente mal por me derrubar, não faz mal, não é a primeira vez e com certeza não será a última.

- Não é por isso não, eu só queria saber. Vou embora de verdade agora. Tchau.

E assim que estou quase virando no corredor, escuto:

- Samuel.

- Até mais, Samuel.


---

n/a: Valeu a leitura, gente! Vou adorar ler a sua opinião nos comentários. Favorita o capítulo se você gostou, é de grande ajuda! A história vai ser atualizada semanalmente, às quartas e aos sábados. <3

Caso eu não te veja (romance gay) AMOSTRAOnde histórias criam vida. Descubra agora