Whatever it is you do to me, it's hard to comprehend.
6 de fevereiro de 2018
Belfast, Irlanda do NorteApós entrarem em acordo sobre o primeiro lugar que iriam visitar, as duas começaram a exploração pela cidade. A atriz estava animada, apesar de já conhecer Belfast muito bem, não se cansava de explorar os lugares e, mostrar para a fotógrafa, tornou algumas coisas um pouco mágicas. A norueguesa realmente se encantava muito fácil, além de tirar fotos de tudo dizendo que isso não só seria importante para o seu trabalho, mas sim para a construção da sua própria memória sobre a cidade.
Belfast, durante o período de 1980 até 1990, conhecido como "The Troubles", se tornou uma das cidades proibidas aos turistas, juntamente com Bagdá, Beirute e Bósnia. Finalmente, em 1998, um acordo foi assinado e Belfast estava pronta para ser conhecida pelos turistas de todo o mundo. Atualmente, é uma das cidades mais seguras e interessantes do Reino Unido, atraindo curiosos de toda parte justamente pelo seu passado "sombrio": a história da guerra civil e partição da Irlanda do Norte é lembrada por todos, se tornando também uma atração aos que desejam conhecer o local.
Voltando ao dia das nossas protagonistas, de início, ambas notaram que ali havia surgido uma conexão inegável. Desde o momento em que a atriz foi atrás da outra para se oferecer como guia turística, os assuntos não paravam de surgir e elas descobriram muitas coisas em comum, além do passado em uma pequena cidade e a busca pelos grandes sonhos, ambas eram muito determinadas, consideradas sonhadoras demais para muitos ao seu redor que não acreditavam em seus sonhos. Porém, a atriz enfrentou mais resistência da família do que a fotógrafa, que sempre teve o apoio da mãe até seus últimos dias de vida. Seus pais não apoiaram o seu desejo de se tornar uma atriz, ela tinha mais dois irmãos e ambos eram advogados, logo, a família esperava que ela seguisse uma carreira sólida e prestigiada como os irmãos, mas ela não queria desistir, não havia nada que a encantasse mais do que a possibilidade de se tornar pessoas diferentes, com histórias emocionantes e aventuras a serem vividas. Desde pequena, ela gostou de interpretar: nas brincadeiras com os amigos, ela criava os personagens mais criativos e com feitos mirabolantes, participava de peças da escola todos os anos e fingia ser alguns de seus personagens favoritos em seu quarto quando tinha liberdade para deixar a imaginação fluir.
Logo, é possível imaginar que a decisão de sair da sua pequena cidade natal para seguir seus sonhos absurdos – segundo seus pais – não foi muito apoiada, nem mesmo pelos irmãos, que falavam que ela deveria orgulhar a família e criar seu próprio legado. Por um momento, a jovem, naquela época com 18 anos, pensou em desistir e seguir alguma profissão "segura". A possibilidade de ter um futuro garantido e sólido, muitas vezes, era atraente, mas ela sabia, no seu cerne, que não poderia ser feliz se fizesse algo pela segurança de uma vida confortável, precisava amar o que fazia e assim ela poderia dar tudo de si mesma. Não importava a fama ou o dinheiro, ela só queria viver a vida de uma maneira que quando chegasse aos seus últimos dias, não se arrependesse de nada. Então, em um momento de coragem, anunciou aos pais em um jantar de família que estaria partindo para estudar artes cênicas e começar a trilhar seu caminho em Belfast. Por mais que eles discordassem de tal decisão, sabiam que ela não ouviria ninguém e não desistiria. Sempre fora muito teimosa e determinada quando colocava alguma ideia na cabeça.
Antes mesmo de anunciar aos pais sobre a sua decisão, já havia se inscrito no curso desejado e pesquisado tudo o que precisaria saber sobre a cidade que iria morar. Ela sabia que não seria fácil no começo, os pais concordaram em oferecer um auxílio para que conseguisse alugar um lugar para morar e ter o que comer até conseguir um emprego. Ela aceitou a ajuda, de início, porque sabia que não teria como se sustentar sozinha nos primeiros meses até se estabelecer e procurar um emprego, mas queria encontrar algo o mais rápido possível e conquistar sua independência.
Os primeiros meses em Belfast foram um misto de aventuras, emoções e novas experiências. Conseguiu um trabalho em um restaurante na parte da noite e isso ajudava a pagar pela sua kitinet, que era realmente minúscula, mas suficiente. Além disso, se inscreveu também em um curso de design aos sábados, não era o que ela mais gostava no mundo, mas ela decidiu fazê-lo para ter um plano B, caso algo não ocorresse como o esperado. Porém, o que ela mais amava e a motivava todos os dias, era de fato poder estudar para se tornar o que ela desejava. Logo fez muitos amigos, era muito sociável, amigável e conseguia se adaptar à qualquer situação que enfrentasse. Destacava-se na sua sala de aula, era tão determinada que impressionava aos professores e foi por conta da sua personalidade expansiva e sonhadora que foi conseguindo suas primeiras oportunidades. No início, ela participou de algumas peças locais, gostava muito de teatro, mas queria estar nas telas do cinema, porém, oportunidades assim nunca eram rejeitadas pela irlandesa.
A primeira oportunidade de estar frente às câmeras surgiu porque tinha uma amiga na faculdade que estava saindo com um aspirante a diretor, essa amiga comentou sobre a nossa protagonista e ele se interessou imediatamente: encantado com a sua presença marcante, a convidou para estrelar um curta-metragem que iria produzir para um festival local. Para ela, aquilo foi como se alguém tivesse injetado doses de adrenalina em sua corrente sanguínea. Era tudo o que precisava. Mesmo que fosse apenas um curta metragem amador, era uma experiência, uma oportunidade.
O roteiro era bem peculiar, mas ela aceitou o desafio e bem, não foi a melhor experiência da sua vida, mas com toda certeza foi uma das mais diferentes e interessantes. Depois disso, após o curta ser exibido, foi quando outros estudantes de cinema e diretores ainda em formação viram na jovem um talento nato, sua personalidade cativante e boa habilidade de atuação fizeram com que fosse convidada para estrelar diversos curtas dos mais diversos gêneros: romance, terror, mistério e até comédia.
Então, os seus primeiros anos em Belfast foram ocupados pelos seus dois cursos, artes cênicas e design, o trabalho no restaurante e seus pequenos papéis em curta-metragens amadores. Porém, em uma das exibições, ela conheceu Nate Anderssen, um agente em busca de atrizes em ascensão. Conhecendo a jovem, ele, como todo mundo, se encantou por sua personalidade carismática e envolvente, contou que estava ajudando alguns atores e atrizes com a busca de audições. Naquele momento, ela sentiu uma ponta de esperança: esse poderia ser o começo da sua jornada. Trocaram contatos naquele mesmo dia e ele prometeu avisá-la se soubesse de alguma audição.
A primeira audição dela foi para um comercial de shampoo, parecia algo bem pequeno, mas foi bom para conhecer sobre como deveria se comportar e o que esperar. Ela não passou, mas não desistiu. O seu primeiro trabalho na televisão foi um comercial de produtos faciais, nada muito grande, apenas transmitido na capital, mas já era alguma coisa. Ela estava sempre muito cansada, tentando equilibrar todos os seus compromissos com trabalho e estudo, nem sempre ela tinha todas as horas de sono necessárias para um total descanso, mas sabia que não poderia fraquejar em nenhum momento.
Começaram a surgir pequenos trabalhos como figurante em filmes e séries locais, nada muito grande, muitas vezes sua personagem mal tinha nome, era referenciada como "garota do supermercado", "pedestre número 1", "filha da vizinha" e nem sempre ela tinha alguma fala. Não reclamava, pelo menos estava em contato com o mundo que desejava construir sua carreira.
O primeiro papel "grande" foi em um seriado criminal, conseguiu o papel da vítima, uma jovem estudante que era assassinada num bosque, dessa vez ela tinha falas e um nome e como o seriado tinha alguns flashbacks para a construção da história, sua aparição foi em mais de um episódio. Ela se sentia extasiada, poderia ainda ser um papel pequeno, mas era uma chance de conhecer outros atores, diretores, produtores e ter contato próximo com a realidade. Afinal, ela sabia que nesse meio era fundamental conhecer as pessoas certas.
Nesse mesmo ano, ela se formou em artes cênicas, e o curso de design, que durou apenas 2 anos, já era algo que poderia trabalhar e foi uma boa forma de conseguir uma renda extra durante o tempo. Ela saiu do trabalho no restaurante, aliviada por não precisar mais lidar com clientes rabugentos e sentir cheiro de comida nos seus cabelos todos os dias. Agora sua renda era dos seus pequenos trabalhos e do freelancer em pequenos projetos de design.
No ano seguinte foi quando uma real oportunidade surgiu, antes disso ela continuou com seus papéis de figurante, aparições em curta-metragens e propagandas dos mais variados produtos. Era uma quarta-feira fria de janeiro, quando Nate ligou exageradamente empolgado, ela estava em casa, preparando um chá e procurando alguma coisa interessante para assistir. Ele estava tão exaltado que sugeriu encontrá-la em uma pequena cafeteria, a mesma que quase um ano depois ela iria conhecer a fotógrafa norueguesa.
A boa notícia é que ela teria finalmente um papel grande! A jovem, agora com seus 23 anos de idade, quase explodiu em emoção: era um papel real, uma protagonista! A notícia a fez parar de duvidar se si mesma e de questionar se tinha feito a melhor escolha em sua vida. O papel seria em um filme local de um diretor que só tinha apenas um trabalho, mas era visto como bastante promissor. As cenas seriam gravadas na Inglaterra e o período de gravação duraria em torno de 4 meses. Ela não hesitou em aceitar, e um mês depois ela chegava na cidade de Liverpool para interpretar Alexandra Sheppard. Sua primeira protagonista.
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We Were Meant to Feel
RomanceUma jovem fotógrafa norueguesa viaja para Belfast durante um mês para trabalhar em seu mais novo projeto juntamente com um amigo escritor, no seu primeiro dia livre na cidade, ela visita um pequeno café e divide a mesa com uma jovem atriz irlandesa...