Dama do vestido azul.

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Mais azul que o veludo de seu vestido era o azul de seus olhos

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Mais azul que o veludo de seu vestido era o azul de seus olhos. Safiras imersas no tormento glacial. Olhava sempre acuada, distante e premida nos próprios anseios. Não era tão insólito, mas Andrea continuava apenas divagando e observando o quão belo era o veludo dos olhos de Miranda. As madeixas da mulher eram nevadas, pareciam ser tão macias quanto à seda mais cara, ou apenas, igualmente as pétalas de rosas bordô que tocava sempre todas as manhãs quando saía de casa. Andrea poderia ser apenas uma neófita desajeitada. Lábios carmesins e olhos curiosos, tão curiosos que sempre se perdiam no mistério que era Miranda Priestly. No momento que os olhos avelãs da donzela se iluminaram ao ver a Toda Poderosa Priestly moldada naquele vestido de veludo azul, perdeu o próprio âmago em uma curiosidade e admiração sem fim.

Céus!

Estava sentada no banco da bicicleta parada na calçada da cafeteria onde trabalhava. No outro lado da rua, estava situado o edifício Elias-Clarck, talvez se Andrea prestasse um pouco mais de atenção, ouviria a sonoridade oca dos saltos de Miranda castigando o chão de mármore do prédio, rapidamente, lembrou-se de uma contingência inesquecível.

Estava apressada. Os braços cheios de sacolas e as mãos ocupadas por um copo de café e a outra pelo aparelho celular; se duvidasse, Andrea ainda conseguiria carregar mais coisas. Os passos rápidos e cegos da menina obstruíram quando o corpo colidiu com algo com extremo cheiro adocicado, o eflúvio era tão notório que se sobressaiu ao forte cheiro da cafeína. Andrea deu por conta que estava com a região abdominal sendo excruciada por uma dor latente quando alguns fios nevados tomaram seu campo de visão. Fora extremamente errôneo e estranho ver aquela mulher tentar lhe trazer de volta a órbita, no momento, Andrea parecia um planeta com o campo magnético bagunçado, ou o mar com ressaca, estava distante e apenas prestando atenção na figura adornada de joias e um vestido de veludo azul que, mesmo com o desastre da moça, ainda ficou impecável.

Mais azul que o veludo de seu vestido era o azul de seus olhos. Pela primeira vez, Andrea teve a interseção de alguma deidade que olhou para ela naquele momento, pôde vislumbrar a imensidão azul dos olhos de Miranda tão de perto, que perdeu a noção de tempo. Voltou aos eixos quando a pele atingida pelo café de temperatura infernal lhe deu sinais claros de dor. Saltou e começou a passar as mangas do suéter azul que estava em seu antebraço - também sujo pelo desastre — rapidamente, mas a pele estava extremamente vermelha. Miranda, inicialmente, quis rir da situação. No instante que ia saindo do carro teve o dia perturbado burlescamente pela garota desajeitada.

— Você está bem? — indagou Miranda, analisando a moça.

— S-si-mm — Andrea começou a tropeçar nas próprias palavras se dando conta que poderia ter arruinado sua vida ali mesmo, pois, estava de frente para a mulher com uma das reputações mais respeitadas e maldosas. — Mm-ee descul...

— Não precisa me olhar como se eu fosse uma entidade maligna! Dado a este momento, torne-se mais atenta, principalmente quando você tem coordenação motora de um veículo desorientado.

Miranda desceu o olhar para a blusa branca da moça que estava transparente por conta do café. A vermelhidão demonstrava obviamente que a morena tinha se queimado.

— Faça compressas frias regularmente na região da queimadura, se não melhorar, passe vaselina líquida para manter a queimadura hidratada, logo estará melhor — Priestly virou as costas e saiu andando para dentro do prédio. A moça a olhou com tanto receio que, por um momento, sentiu pena.

— S-sim, senh...

— Prefiro que me chame pelo meu nome. Certamente, caso não esteja errada, você sabe muito bem qual é. Não há ninguém hoje em dia que não saiba! — ainda de costas proferiu as palavras, após seguiu caminho.

— Eu sei... — sussurrou, consigo mesmo vendo a mulher sumir no prédio.

Andrea ficou transtornada com a situação e acabou deixando os ombros decaírem. Não tinha uma postura ótima, ainda mais quando era contrariada, logo saiu dali e foi para o outro lado da rua, onde trabalhava. Acabou que fez exatamente o que Miranda tinha lhe instruído, tampouco se situou da situação até seus colegas começarem a encher-lhe a paciência com burburinhos desnecessários.

Havia se passado um tempo depois daquele incidente com Priestly. Andrea relembrou rapidamente enquanto ainda estava sobre a bicicleta na calçada olhando para o outro lado da rua, onde Miranda descia do carro e adentrava no prédio — teve a sensação de que, por um momento, ela parou alguns segundos após sair do veículo e a olhou, mas deve ter sido mais um de seus devaneios pitorescos. Sempre admirava aquela mulher de longe há tempos, o vestido azul tinha lhe chamado à atenção, mas depois que viu de perto os olhos da mulher, percebeu estar andando na beira de um precipício.

O precipício entre ela e Miranda era praticamente impossível de se medir. Contudo, a moça ainda continuava lhe observando do outro lado, em silêncio, premida no próprio âmago. Poderia dançar inúmeras vezes a mesma música que ouvia todas as noites quando chegava ao apartamento que morava; àquela melodia simplória fora associada à mulher de cabelos nevados, talvez, por um ínfimo caminho torto do destino, a música parecia ter sido escrita para ela.

As feições joviais de Andrea ficaram obsoletas. Desceu da bicicleta colocando uma sacola na cestinha e empurrou seu meio de locomoção para uma das vagas que tinha ali na calçada. Sim, o azul dos olhos dela era lindamente surreal, seu vestido lhe emoldurava em uma estátua renascentista, como se o corpo de Miranda fosse uma das obras de Michelangelo. Andrea sorriu intimamente adentrando no local de trabalho, era algo inalcançável apenas usufruir de um contato visual com Miranda, então, ficava recolhida pessoalmente unicamente a admirando ao longe, igualmente, Miranda fazia em pé lá no topo de sua sala.

Andrea, ao menos, imaginava tamanha proeza.

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