E se eu lhes contar sobre um caso que há muito me aconteceu? De volta à fazenda dos meus pobres pais, quando eu tinha apenas 7 anos. Era meu aniversário, lembro-me bem. O cheiro do desjejum na mesa da cozinha, meu pai já trazia os ingredientes para o almoço, e minha mãe vinha me acordar.
Eram eles um belo casal. Minha mãe era magra e pequena, não gostava de comer, sempre amarrava um pano nos cabelos, pois dizia que a deixava mais bonita. Usava vestido de camponesa, apesar de ser abastada. Já meu pai era um robusto homem de quase 2 metros de altura, tão gordo quanto forte. Já o vi matar um javali com as mãos. Usava sempre roupas de lenhador e fumava seu cachimbo; quase nunca era visto sem ele. Eles se conheceram quando crianças e foram prometidos em casamento desde o nascimento — uma história bem comum na nossa realidade. Mamãe não parecia feliz com o casamento, já papai era encantado por ela, mas isso é uma história para outros carnavais.
Mamãe entrou no meu quarto com um bolinho de trigo e uma xícara de leite — esse era o meu café da manhã preferido.
— Filho, meus parabéns. Hoje, mais do que nunca, tornaste um homem com "H" maiúsculo. Por isso, quando terminar de comer, desça ao celeiro. Lá terás uma surpresa.
Tornar-me homem jamais fora meu desejo, mas ter meu próprio cavalinho sempre foi. Ir montado passear pela cidade, cavalgar pelas florestas e, o mais emocionante, caçar wyverns. Obviamente wyverns, pois eles são menores e mais fracos; não iria eu correr atrás de dragões imensos.
Corri até o celeiro, almejando e ansiando pelo meu robusto cavalinho. Já estava planejando as rotas; sairia hoje mesmo, antes do almoço. Pensava em quais armas eu usaria e sonhava em ter uma armadura de wyvern antes das aulas de pescaria dali a 6 meses.
Vi meu pai selando um cavalo negro e reluzente. Pensei: "Este é o meu". Ele era lindo e estava munido de armas. Meus olhos cintilaram, e eu já estava empolgado. Mal percebi que, ao lado do reluzente cavalo negro, havia um pônei marrom e velho, de aparência grotesca e doente, também selado, só me esperando.
E foi assim que eu e Smilinguido nos conhecemos.
Subi no projeto de cavalo. Ele soltava gases a cada 10 metros, e eu, incomodado, me perguntei: "Como eu seria o grande caçador de wyverns da cidade se nem mesmo um cavalo decente eu tinha?". E, sem contar as armas: recebi uma lança mal afiada e pedras para amolar, um arco e flechas rudimentares, com apenas 12 flechas de mata-lagarto.
Cavalei pela floresta o mais rápido que pude até uma clareira cheia de pequenas margaridas. O lugar era belíssimo e possuía um lago onde, deitada, a água parecia pentear seus próprios cabelos. Elas cantavam sobre um jovem com determinação que caçava wyverns por diversão.
"Era eu."
Marchei com mais fulgor e avistei, apoiado em suas patas-asas, um wyvern à beira da lagoa bebendo água. Uma monstruosidade de 3 metros de largura, que estava distraída. Peguei minha lança mal afiada, mirei e acertei a asa direita do monstro. Ele urrou de ódio e me jogou na lagoa. Ameaçou cuspir ácido em mim, mas apenas saiu correndo pela floresta.
Assobiei e chamei o peidorreiro do Smilinguido, e parti atrás do meu sonho, pois eu seria o grande caçador de wyverns da vila.
Segui seu sangue roxo, parecido com suco de uva, que cintilava ao sol. O wyvern estava cansado e parecia caído quando atirei nele com minhas flechas. Acertei seu pescoço e o degolei com minha faca.
Sou homem agora, finalmente sou homem.
Então uma luz me envolveu, e eu comecei a flutuar. Quando toquei o chão novamente, era um garoto diferente, agora um homem barbudo de 23 anos, envolto em pele de wyvern. Meu cavalo agora era um grande cavalo chocolate.
Amarrei o wyvern nas rédeas do meu novo cavalo e o levei para casa, me vangloriando do meu feito.
"Yoollaaaa, yoollaaaa, yoollleeeeeyyy"
Cantava a plenos pulmões. Beijei minha mãe quando cheguei, abracei meu pai, e ali estava a minha noiva, Bárbara, que foi escolhida pelos meus pais enquanto eu estive fora.
Eu era um sucesso.
— Filho, vamos para casa, está na hora do almoço.
— Mas eu ainda não acabei...
— Guarda a bicicleta, filho, e larga o cachorro. Ele não faz parte da sua aventura.
— Mas mãe...
— Esse é meu cobertor novo?Tudo bem, nem tudo que disse é verdade , mas também não e mentira, brincadeiras são uma forma que nós crianças temos para nós aliviar na realidade.
Hora de almoçar
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Contos, Crônicas e Catástrofes
Historia CortaUm pouco de comédia e diversão curta para aqueles que tem pressa