O céu escuro da noite era banhado por incontáveis estrelas cintilantes. O tom agradável do clima não era tão bom aos que estavam dentro daquela casa. A densidade da tensão que pairava no ar era quase tateável. A pequena garotinha estava aninhada perto da porta, com as mãos juntas, presas em frente ao joelho. No meio da sala, a mulher andava de um lado para o outro, o homem, com o telefone sem fio nas mãos, respirava profundamente. A corrente de ouro que ficava sempre escondida por baixo das vestimentas já lhe irritava a pele naquele movimento de subida e descida pelo inspirar ofegante. A notícia recebida há pouco não era das melhores.
— Jonathan, é muito arriscado.
— Lorelay, é a única chance que nós temos — rebateu ele, devolvendo o objeto à sua base.
— E onde eles estão?
— Meus irmãos já saíram do Castelo das Pedras. Estão com um dos nossos guardas de confiança. Ou melhor... da confiança da Pérola.
A mulher esfregou as mãos no peito.
— E como ela está? Imagino que deva estar morrendo de medo.
Pérola era a irmã do meio de Jonathan, e também sua maior cúmplice. Lorelay e ela tinham uma amizade secreta, já que o rei imaginava que os filhos não tinham qualquer tipo de contato com a família bastarda do filho mais velho. Por conta desse amor fraterno que havia entre as tais, Lorelay decidira dar à filha, além do primeiro nome, o nome da cunhada. Esta, por sua vez, tinha uma paixão também enclausurada por um dos guardas do reino de Salazar. E esperava apenas que tudo se resolvesse para que fosse embora com ele para outro continente, onde o fardo da coroa não lhe fosse tão pesado.
— Eu não sei. Não estávamos preparados para uma mudança de planos. Pensávamos que teríamos ao menos mais um mês. — Jonathan expirou com as mãos na cintura e os olhos vagando pelo chão.
— Tem certeza que ele não desconfia que estão indo ao reino de Lidium? — retorquiu a mulher.
— Não tem como ter certeza de nada, mas precisamos arriscar. — Ele aproximou-se da mulher de cabelos compridos. — Vai ficar tudo bem, Lorelay. — Pôs as mãos sobre as bochechas rosadas dela. — Eu prometo. — Jonathan aproximou-se e beijou-lhe os lábios com doçura.
Em seguida, o homem desprendeu-se dela e caminhou até a pequena que observava a tudo, atenta. Não parecia temer, a curiosidade estava expressa em seus olhos miúdos.
— O papai precisa ir agora, meu amor. — Ele acariciou a bochecha dela com o polegar.
— Quando volta?
— Agora vai demorar um pouco mais — começou. — Eu vou pra muito, muito longe, com o seu tio Hugo e a tia Pérola. E quando voltarmos, você e sua mãe vão morar comigo, naquele castelo bonito e bem grande que você vê quando vai para o colégio.
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O jogo da realeza (Livro I)
Romance🏆Obra vencedora do prêmio Wattys 2020🏆 Todos escutam histórias de princesas e príncipes que herdaram o trono de seus pais, avós, esposas e maridos. Mas não no Reino de Salazar Dellonio. A linhagem se perdera há decadas durante uma batalha e, depo...