PINÓQUIO REVERSE

O menino que queria ser boneco

  
 
  Há muitos anos, na Vila da Areia, quando estava acontecendo a terceira grande guerra ninja, uma das muitas tragédias resultou na triste vida de um menino. Seu nome era Sasori.
  Os pais de Sasori foram para a guerra e, durante um combate, foram mortos pela Presa Branca de Konoha, Sakumo Hatake.
  A morte dos pais afetou muito ao menino que, ainda pequeno, entrou em profunda depressão. Ele passou a se sentir sozinho.
  Chyo, sua avó, ao perceber a angústia do neto, o ensinou a fazer marionetes, para que fosse uma distração ao menino. Com o tempo, Sasori ficou muito bom em fazer aquilo, e num momento de solidão, fez duas marionetes com a aparência de seus pais.
  O intenso sentimento de solidão e tamanha angústia, fora deixando Sasori cada vez pior, até que o menino resolveu abandonar a vila e seguir seu próprio caminho.
  Com a tristeza insuportável, Sasori tomou uma decisão: iria tornar a si mesmo numa marionete. Assim, não sentiria mais nada. Este era seu plano desde que abandonou a Vila da Areia, porém quis ter certeza de que era realmente sua vontade.
  Fez pesquisas de jutsus, rituais, selamentos e outras formas desse processo; dentre eles, Sasori escolheu o mais doloroso. Ele iria tirar dele mesmo órgão por órgão, até restar somente o coração, usando um selo que havia aprendido. Seria um processo longo, doloroso e sombrio.
  Começou retirando um de seus rins, depois o outro. Tirou o fígado, um dos pulmões, e assim foi indo até restar somente o coração e o cérebro.
  A cada cirurgia, corte, a cada momento daquele processo, Sasori derramava lágrimas sem fim. Na maioria das vezes, ele não chorava pela dor, mas sim, pelo constante sentimento de solidão que insistia em ficar. Levou anos, porque muitas vezes ele entrava em coma e, quando acordava, ainda estava sozinho. Nem ele mesmo tinha noção de quanto tempo havia passado.
  Até que ele decidiu se dar uma chance de sentir outras coisas.
  Com muito cuidado, ele se infiltrou na Aldeia da Areia, para ver, de longe, como sua avó estava. Ao vê-la, percebeu que a pesar de tudo, ela sempre esteve do lado dele. Mas, era tarde e já não havia mais nada que Sasori pudesse fazer. Seu corpo, todo coberto, estava repleto de costuras, remendos, marcas vermelhas e roxas por toda parte. A cada cinco minutos ele cuspia sangue, seu corpo estava vazio e estava reagindo constantemente a isso. Mas, o vazio físico, não se comparava ao vazio que Sasori sentia em seu coração.
  No caminho de volta para o laboratório onde estava, ouviu passos que o perseguiram por muito tempo. O jovem estava fraco e não poderia se defender, caso fosse algum inimigo. Arriscou perguntar quem estava ali. De uma moita, saiu uma moça, de cabelos castanhos, olhos azuis e pele pálida; linda. Ela se aproximou.
  Num ato de reflexo, Sasori deu um passo para trás e se desequilibrou causando uma queda, o que fez com que o pano que cobria seu rosto caísse. A cabeça era a única parte de seu corpo que não havia marcas.
  A Garota se espantou ao ver a beleza do rapaz e logo disse seu nome, Harumi. Se aproximou. Sasori tentou levantar rapidamente, mas seu corpo não correspondeu e o fez desmaiar.
  Pela primeira vez, depois de anos, Sasori se deparou com alguém ao abrir os olhos, era Harumi, que cuidadosamente segurava sua mão.
  - Por que está fazendo isso? - diz Sasori impregnado.
  - Porque você precisava e, aparentemente, precisa  ainda de ajuda.
  - Mas, você nem me conhece, por que se preocuparia? Eu poderia ter te atacado.
  - Sou uma ninja e sou treinada para não fugir, independente da situação. E você me agradou - ela dá um sorriso puro e sincero e faz com que Sasori fique corado. Ele nunca havia sentido isso antes. Que ele se lembre, nunca havia sentido nada além de tristeza e solidão.
  Em resposta ao procedimento de se tornar marionete, Sasori tosse, e por não ter um pulmão, tudo que sai é sangue.
  Mesmo não comentando nada, Harumi havia visto as marcas pelo corpo do rapaz, mas não ousou perguntar sobre. Sasori queria ir embora, mas não conseguia, sequer, levantar um membro.
  Sasori se lembrou que precisaria de alguém para a cirurgia final, então pensou na Garota que tinha encontrado. Mas, com medo de contar tudo o que lhe ocorrera, ele apenas tentou ficar mais íntimo dela.
  Harumi estava sempre cuidando de Sasori, e com o passar do tempo, se apaixonaram. A Solidão de Sasori estava finalmente curada e, aparentemente, seu corpo aparentava estar progredindo sem os órgãos, graças ao selo.
  Porém, para a infelicidade de Sasori, tudo começou a piorar. Voltou a ter desmaios, a cuspir sangue e involuntariamente suas cicatrizes começaram a abrir. Ele contou tudo a Harumi que ficou assombrada pela coragem de Sasori em fazer isso consigo mesmo, mas disse que ouvira falar daquele processo e selo, e mesmo com aperto no coração de deixar Sasori sozinho, foi atrás de quem havia o ajudado com tamanha loucura.
  Ela recebeu a informação de que se Sasori não terminasse o processo por completo, ele morreria. O selo tinha um tempo válido para manter o corpo vivo sem órgãos. Harumi caiu em prantos e voltou para dar a triste notícia a seu amado.
  Sasori disse que preferia morrer a deixar de amar Harumi, mas a jovem insistiu, disse que acreditava que, mesmo sem o cérebro, Sasori continuaria amando, porque o amor está no coração e ele iria prevalecer na Marionete. Sasori sabia que acreditar naquilo era ridículo, mas aceitou, somente para que Harumi parasse de chorar e pediu a ajuda dela para a cirurgia final.
  Enquanto Sasori estava desacordado e começava os trâmites, Harumi só chorava, pois nem ela mesma acreditava que o rapaz continuaria amando-a.
  Havia finalmente terminado e estava na espera de Sasori acordar, agora como uma marionete.
  Ele despertou, foi a última vez que ele dormiu, agora ele seria um boneco. Quando abriu os olhos, ali estava Harumi. A olhou como se fosse um objeto, então, com um único golpe, a matou. Com o corpo de Harumi, Sasori fez sua primeira marionete humana, além de si mesmo. E mais tarde, a usaria em combates.
  O final da história já se sabe. Sasori entrou para a organização Akatsuki. Depois de um tempo, após ter pego o Jinchuuriki da Uma Calda, Sasori entrou numa batalha com sua própria avó e a Ninja Sakura e, ali se deixou ser derrotado. O motivo de ter se deixado ser morto ninguém soube, porque aparentemente ele não possuía mais sentimentos. Foi um mistério que deixou uma lacuna na história de Sasori, que se encerrou ali, cercado pelas marionetes Pai e Mãe, com espadas atravessando seu coração que foi a única coisa humana que lhe restara.