Capítulo I

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O mar está bonito hoje- pensei enquanto olhava para o horizonte, fazia me bem sentir a brisa em minha cara, relaxando assim depois de um dia atarefado no centro de jardinagem, mas hoje havia algo que não me saía da cabeça, aquele olhar sedutor e enigmático, que veio remexer comigo e com algo que estava bem guardado no fundo do meu ser, o irresistível jardineiro Mateo.

Mateo é um jovem de cerca de vinte e poucos anos, alto, moreno, bem estruturado e musculado, com uns olhos pretos enormes que me fazem estremecer, cada vez que olha para mim.

Aquele olhar penetrante dele em mim, fez me sentir algo que havia reprimido há muito em mim, não podia pensar nele dessa forma, ainda não estava preparada, apesar de toda a terapia que já tinha feito e de como tinha evoluído desde que tudo aconteceu.

Meus pensamentos não podem continuar, não posso me apaixonar pelo Mateo, não vai acontecer, tenho de me afastar dele, disse ao meu interior enquanto pegava no telemóvel dentro da minha mala, eu tinha de marcar a consulta o mais rápido possível, precisava de falar com ela, a minha terapeuta Carina.

Carina é a minha psicoterapeuta que desde o início me ajudou tornando se minha amiga e me apoiando nos meus tempos de crise, sabe coisas sobre mim que até então não tive coragem de compartilhar com mais ninguém assim como os meus maiores medos.

Estava a ligar para ela quando ouvi que o telefone se encontrava desligado, pensei:

- Fogo Carina preciso de ti neste momento....

Decidi enviar lhe uma mensagem a marcar uma consulta o mais breve possível, onde lhe disse que queria voltar as terapias regulares brevemente, já que neste momento só estava a ser acompanhada duas vezes por ano, sendo que no resto do ano apenas nos encontrávamos como amigas que entretanto se tornamos.

Coloquei o telemóvel dentro da bolsa e fui caminhar a beira mar, fazendo meu pensamento voltar ao meu jardim.

Após a minha caminhada rejuvenescedora a beira mar, o que me fez acalmar uma pouco a minha triste alma, fui para a solidão da minha casa, onde me sentia segura mas ao mesmo tempo sabia que a qualquer altura podia voltar a ter pesadelos que me faziam ter medo da VIDA.

Cheguei a casa, joguei meus sapatos para o lado, fui na direção a casa de banho afim de me refrescar fisicamente com um excelente duche rápido e sereno, depois fui ate a sala liguei a meu sistema de som e caminhei até a cozinha onde preparei um belo risoto de camarão enquanto bebia um excelente vinho e ouvia a minha música serena.

Estava sentada no sofá a saborear o meu vinho e a ver o meu filme preferido, quando ele surgiu novamente em minha mente, mas desta vez veio com o medo que representava para mim o sentimento que eu podia ter por ele.

Será que aceitariam o meu passado? Será que me iram aceitar como eu sou e o que eu sou? todas estas perguntas pairavam sobre mim durante estes anos cada vez que alguém do sexo masculino se aproximava de mim.

Vejo sempre a parte negativa das pessoas por tudo o que eu sofri, magoando me cada vez mais por viver num meu próprio mundo e não conseguir sair de lá ou deixar alguém entrar nele.

Numa das minhas consultas de rotina, Carina tinha me sugerido ter um hobby para ocupar o meu tempo de forma a não pensar nas coisas negativas da minha vida e ver que na vida existem coisas positivas.

Seguindo a sugestão dela, comecei a pesquisar algo de realmente me fizesse sentir bem e foi quando descobri a jardinagem, inicialmente seria apenas algo para me ocupar nos meus tempos livres, mas que rapidamente se virou a minha vida.

Enquanto fazia o meu jardim, eu falava com as minhas plantas como se me entendessem, ali sabia que ninguém me condenava por ser como era, elas eram as minhas amigas, ouviam os meus desabafos todos os dias o que fazia eu me sentir feliz e serena.

Com o passar do tempo acabei por criar um centro de jardinagem pequeno, mas que hoje em dia já tem uma grande dimensão, sendo que estamos em várias partes do país.

Acabei por me tornar uma amante de plantas sendo esse o meu grande amor, nunca dei espaço para ter alguém em minha vida que não fosse as plantas, Carina dizia muitas vezes que eu era uma viciada no trabalho, nunca achei que assim fosse até porque na minha mente não existia nada para além do meu viciante trabalho e a procura por fazer melhor todos os dias, até a chegada do Mateo no centro.

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