Capítulo 3

427 25 1
                                    

Elena

Quando vi que Thiago desapareceu sem dizer nada, logo percebi que tinha alguma coisa errada e fui atrás. Não foi difícil encontrá-los já que eles não estavam muito longe e aquela vadia gritava mais alto do que uma mulher em trabalho de parto.

Quando vi a forma que estavam, não precisei de mais nada para saber que Thiago tinha mentido sobre não sair comendo qualquer mulher por aí. E isso me deixou puta da vida. Nunca me senti com tanta raiva. Raiva dele  por não conseguir manter o pau dentro da  calça. Raiva de mim mesma  por ter sido ingênua e acreditado na palavra de um mulherengo.

Imaginei que isso pudesse acontecer. Ele tinha aceitado muito fácil os meus termos. Mas eu não estava brincando quando o ameacei. E ele não me levou a  sério. Agora ele pagaria para ver.

Eu acreditava que a nossa convivência seria fácil, parecíamos estar nos dando bem, mas ele só estava me enrolando.

Deixei que ele aproveitasse o que seria, provavelmente, a última transa dele com qualquer outra mulher, pois agora eu jogaria pesado, e fui para a casa. Me preparando para a guerra.
Eu sabia que não seria fácil estar casada com ele, mas ele provaria do próprio veneno. Eu estava disposta a dormir com outros homens e fazê-lo passar por chifrudo se isso me desse o prazer de fazê-lo sentir o que eu estava sentindo. Eu não era mulher  de fazer ameaças em vão. Logo ele entenderia que eu não estava blefando.

Arrumei todas as coisas e fiquei esperando por ele, voltaríamos ainda hoje para casa. Só lá eu conseguiria colocar meu plano em prática.

Ele não demorou para aparecer. Senti uma pontada de desilusão em relação ao sexo com aquela piranha. Quer dizer, foi tão rápido. Acho que ela  nem chegou a aproveitar.
Se era isso o que eu estava perdendo, então não estava perdendo nada. Pensei. O sarcasmo impregnando aquele pensamento.

Não trocamos muitas palavras até estarmos dentro do avião. Onde ele não poderia fugir de mim se, por acaso, eu resolvesse matá-lo.

Tranquilamente acomodado em sua poltrona ao lado da minha, percebi que os outros à bordo não estavam prestando muita atenção, então falei em seu ouvido, com a voz mais doce que consegui:

- Você achou mesmo que eu não fosse descobrir?

Ele abriu os olhos, com um pouco de receio.

- Não sei do que você está falando. – Respondeu.

- NÃO SABE MESMO? – gritei, se tinha uma coisa que me tirava do sério eram pessoas  que se faziam de vítimas. – EU TE VI! COM AQUELA PIRANHA! TRANSANDO NA PRAIA.

- Calma, amor. Eu  posso explicar. – Ele se levantou da poltrona. E eu avancei para cima dele e se eu não estivesse com tanta raiva, teria achado cômico. Nós parecíamos um casal de verdade. Se até tinha me chamado de amor!

- VAI PEDIR CALMA PRA  SUA MÃE, SEU IMBECIL. – fiz uma pausa, e falei numa voz mais baixa e mortal – Eu disse para você não me trair. Você vai  se arrepender pelo resto da sua vida com a quantidade de chifres que as revistas de fofoca vão te dar. Eu até posso ver as manchetes “O mais cobiçado solteiro levando chifres da própria esposa”. Se bem que essa manchete é bem melhor do que sequer desconfiarem que você não é um homem de palavra, não é?

Ele estava mudo. Pálido. Paralisado.
Os empregados, nem sinal deles. Quando comecei a gritar sumiu todo mundo, como era previsto.

- Eu posso explicar... – Ele começou.
- Não quero mais saber, Thiago. – O cortei – Eu vi o suficiente para entender o que acontecia.

Me sentei na poltrona e não disse mais nada a viagem inteira. Thiago também se sentou, o mais afastado possível de mim. Ele parecia terrivelmente abalado, mas fingi que não tinha percebido. Não voltamos a nos falar.

Quando estávamos dentro do carro, novamente o mesmo carro e o mesmo motorista que nos havia levado até lá depois da festa de casamento, vi que havia algumas chamadas perdidas do meu pai, então liguei para ele.

- Elena?

- Oi, pai. Vi que você me ligou.

- Eu não queria incomodar a sua lua de mel, mas...

- Nós já voltamos. Acabamos de chegar. - O interrompi.

- Mas já?! Por que? O que aconteceu?

- O que aconteceu, papai, é que você é incompetente até para  me arranjar um marido. – vi que Thiago ficou tenso com as minhas palavras, mas não parei por aí – A culpa é toda sua que agora serei uma piada ambulante.

- Uma piada?! – Ele se escandalizou. – Mas que tipo de piada? Explique isso direito Elena, do que você está falando?

- Até parece que você não sabe do que estou falando, papai. – Surtei – Todo mundo sabe que o meu marido não consegue manter o pau dentro das calças  e mesmo assim você me casou com ele! – O acusei. Estava gritando novamente. Constrangido era pouco para definir Thiago, que parecia querer pular do carro em movimento.

- Ele o quê?! – Richard gritou do outro lado da linha. – Quero você  amanhã mesmo no meu escritório, Elena. Chegue bem cedo. Quero conversar com você sobre a empresa, e aí você pode me explicar essa história direito.

- Não quero mais falar disso. Já estamos casados e não adianta reclamar.

- Não importa! Venha me ver mesmo assim. – e então ele desligou o telefone.

Eu não tinha a intenção de me fazer de vítima, já disse que não suporto pessoas que fazem esse tipo de jogo emocional, mas na verdade eu queria que meu pai percebesse a merda que fez. Obviamente um casamento arranjado nos tempos de hoje com duas pessoas que mal se conheciam não poderia dar certo nunca. A minha parte vingativa exigia que meu pai sofresse nem que fosse só um pouquinho. Mas é claro que eu não deixaria ele interferir na minha vida novamente, uma vez já foi o suficiente. Agora as coisas seriam do meu jeito.

- Seu pai vai me castrar. – Thiago disse.

- Não se preocupe. Não vou deixar ele se intrometer. Se um dia você for castrado, serei eu a te castrar.

Passei a ignorá-lo, até que chegamos na mansão dele. Por algum motivo, não imaginei que morasse num lugar tão grande. Achei que vivesse em algum apartamento de solteiro, já que provavelmente tinha uma  alta rotação de mulheres na sua cama.

Desci do carro sem esperar que alguém abrisse a porta. Eu não era uma inválida. E nem pensava em me tornar uma.

Entramos na mansão. E vi algumas semelhanças com a decoração da casa na ilha. A predominância de tons claros, um bom gosto misturado com toques femininos. Teria, por acaso, sido uma amante quem decorou a casa dele? Se assim fosse, me recusaria a ficar ali.

- Quem decorou?

- Minha mãe.

- Essa  é a casa dos seus pais? – Ele assentiu – Vou ficar na casa deles? Eles não vão se importar? – Fiquei um pouco desapontada por acreditar que ele não me queria em sua própria casa para não atrapalhar a sua rotação de mulheres fáceis. O que com certeza aconteceria se eu estivesse lá.

Ele me olhou como se eu fosse uma espécie de um bicho que nunca tinha visto antes.

- Nós vamos morar aqui. – Ele respondeu. – Eu moro aqui. – fiquei um pouco feliz por saber que ele não estava tentando se livrar de mim como imaginei a princípio.

- Você tem trinta anos e mora com seus pais? – O provoquei.

Ele me olhou torto e não respondeu, seguindo em frente.

- Vocês voltaram! – Lisa estava na nossa frente e correu para me abraçar antes do próprio filho, com  certeza nos daríamos  muito bem.

- Também senti a sua falta, mãe. – Thiago foi irônico. Lisa  propositadamente o ignorou, falando só comigo.

Ela estava dizendo que tinha mandado arrumar nosso quarto e que esperava que estivesse  do meu agrado. A mulher realmente falava mais que qualquer um. Enquanto ela falava, ia me puxando para dentro e me mostrando a casa inteira, falando sobre a decoração e todo o resto, onde ficavam cada coisa e, quando percebi, tínhamos largado Thiago com todas as malas enquanto eu e Lisa estávamos tomando um café na cozinha.

O Cafajeste já tem donaOnde histórias criam vida. Descubra agora