Corações Flamejantes

UM

Pode-se dizer que eu o admirava, conheci o Harper na época em que ele trabalhou em São Paulo.
Foi em uma segunda feira quando se apresentou no departamento de polícia, rosto vivido e sério.
Mal demonstrava os quarenta e poucos anos que tinha.
Eu era detetive sênior na época, não gostei da ideia miraculosa da chefe de indicar um conhecido qualquer no cargo de Homicídios.
Eu era o único que descordava.
O meu olhar se encontrou com o dele quando eu estava sentado a minha mesa preparando relatórios de um roubo no último sábado.
A burocracia é enorme assim como corrupção política.
Fernanda Campos sábios, chefe de polícia e um vasto currículo no mundo da criminalidade, é uma mente brilhante, nas minhas contas perdi setenta e cinco aposta com ela no poker no último mês.
- Seja bem Vindo Harper!
- Eu que agradeço!
- Com seu currículo terá bastante concorrência - Trabalhou no exterior, no nacional, serial Killers pegos em perpétua e casos importantes por toda uma extensão de cinco páginas isso tirando toda a burocracia.
Não consegui ouvir mais nada, a sala principal, e a maior por sinal tinha isolamento acústico.
Me pergunto até hoje o que ela fazia lá dentro enquanto estava sozinha, seria perfeito pra várias coisas já que nenhum som nem entra e nem sai.
- Sr. Maxios! - Ela tinha uma pele branca de idade avançada - Muito branca até - Pregas e papadas por todo canto, mas era alta e magra.
Os cabelos brancos como neve sulista e rala se enrolavam em curtíssimas ondas.
- José Harper - Diploma de Jornalismo na Universidade de São Paulo. Atento e curioso.
- Caro Amigo! - Não éramos amigos, nem um pouco, ele me dava nos nervos, parecia o tipo de cara que eu enchia de socos nos bares depois de me encher em litros de uísque e marguerita.
Estendi a mão e ele retribuiu, umm aperto leve de uma bicha escondida na moita esperando a chuva passar e se abrir o arco íris.
Ele me dava nos nervos e aguenta-lo não seria nada fácil.
Horas e horas e ele não falou nada.
Na outra manhã na terça feira fomos chamados ao escritório da Master
- Sabe quando se está a meses achando tudo esquisito e do nada algo muda? - Irônica enquanto pegava uma pasta de arquivos ao lado.
- Desembuxa Fernanda!
- Assasinato em colégio público, subúrbio, era estadual, pelo o que sei no momento a vítima era aluna - Entregou a pasta nas mãos dele que ainda não disse nada.
- Entregaremos um relatório o mais rápido possível - Finalmente! Ele tinha mãos enormes e um corpo alto e largo, muito largo.
 
***

- Soube que você tem um currículo bastante popular - Ele sorriu.
- Não me importo com isso.
- Com o que então?!
- Com algo que se foi e nunca vai voltar - Quebra de clima.
- NOSSA! quebrou o clima total! - Eu com cinquenta e um anos de vida falando como se tivesse treze.
  - Você perguntou!
Os prédios de São Paulo cresciam ao Horizonte muito longe daquela parte da Cidade, se via de longe a selva de pedra.
Casas a frentes das ruas e avenidas.
Colégio Estadual Cristiano Roc ha.
Quando chegamos os adolescentes havia sido liberados e estavam apenas curiando o que estava acontecendo.
Fomos recebidos pela polícial Janete, uma novata de vinte e poucos anos.
- Saíam daí - Gritava com alguns adolescente que estavam tentando atravessar a faixa policial.
- Srta. Janete?
Ela ela desajeitada, mas parecia inteligente com um curto loiro e bem penteado e curto.
- Sr. Harper? Bem vindo a equipe! - Ela estendeu a mão e o aperto dele pareceu mais forte - Minha irmã é detetive Júnior, irá trabalhar com o senhor futuramente.
- Será um prazer conhecê-la assim como você Srta!
- Apenas Janete por favor!

"Oferecida" Eu pensei.
- Então... Janete! Poderíamos ver o corpo?
- Ah claro! Tinha-me esquecido!
A entrada do colégio era feita de grades e azulejos azuis.
Havia policiais por toda a parte rondando cada local, bebedouros, refeitório, salas de aula às vezes sem portas e com paredes rabiscadas.
A entrada do ginásio se dividia em duas portas de ferro enormes.
Por dentro, mesas, copos descartáveis, garrafas de refrigerante quase vazias, comida espalhada,foi uma festa de arromba mesmo.
E no centro ao lado da mesa um corpo totalmente carbonizado, com certeza fora sido uma morte dolorosas , na situação em que estava até alma parecia ter queimado.