Na eternidade

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Na época em que tudo aconteceu eu era apenas uma criança de seis anos, ingênua demais para entender o que estava acontecendo no dia 6 de agosto de 2010.

Era um dia normal como todos os outros. Eu estava brincando com minha prima Isabel quando meu avô me chamou para tirar os cabelos brancos de sua cabeça, ele me pagava 1,00 real para poder tirar e eu sempre tirava cem cabelos brancos. Era mais fácil pintar, mas acredito que ele adorava ter alguém mexendo na cabeça dele.

Minha avó flor, estava sentada naquelas cadeiras de balanço com minha tia Jane, enquanto minha outra tia May, estava varrendo o quintal e conversando com ela sobre assuntos aleatórios que incluíam uma fofoca, era assim toda manhã.

Naquele tempo eu morava com ela porque meus pais trabalhavam em uma fazenda a uns 80 km do pequeno povoado e eu estudava, não tinha como morar com eles, na Bolívia não têm ônibus escolares. Luke, meu irmão mais velho, também morava com a vovó, mas ele era do tipo rebelde e passava mais dias dormindo na casa dos amigos do que na casa dela, isso a deixava muito brava.

Digamos que ela não era tão legal quanto todas as outras avós que eu conheço, era bem mais rígida com a gente, e por conta disso ele sempre preferiu manter distância.

Em frente à casa dela tem um campo de futebol e todos os dias, quando dava umas 17h, todos os homens se reuniam para jogar, do outro lado do campo estava meu irmão com dois amigos, mas ele se recusava a voltar para casa.

Quando Luke não estava perto, as coisas para mim ficavam piores, eu era apenas uma criança, mas me lembro bem das noites intermináveis que passei chorando bem baixinho para ninguém escutar, com saudades dos meus pais.
Eu sempre falava que o Ryan, meu irmão caçula, era sortudo, pois estava lá com eles e podia comer a tão saborosa comida da mamãe e ter eles por perto todos os dias.

Muitas vezes chorei para a minha avó me deixar ir ver meus pais, pois o dono da fazenda ia duas vezes na semana e a casa da minha avó ficava bem na rua principal, então eu sempre o via indo para a fazenda, ela nunca queria ir e nem me deixava ir, dizendo que uma menina não podia ir sozinha dentro de um carro com um homem.
Na época eu não entendia, mas hoje sei a que ela estava se referindo, e agradeço, talvez evitou que eu crescesse com mais traumas.

Quando ela aceitou ir comigo para a fazenda em um final de semana foi um sonho, eu finalmente vi meus pais. Vocês consegue ter noção do quanto é difícil pra uma criança ficar longe de quem ama, longe de casa? Estar na casa dos outros era como se fosse um peso na vida deles, eu me sentia assim na maior parte do tempo e só ficava bem quando estava com eles.
Foram os dois melhores dias.

E na hora de irmos embora, eu não queria minha mãe chorou junto comigo e para não me deixar mais triste, me deu várias moedinhas, dizendo que era para comprar algum doce na loja da vovó, e eu aceitei e voltei.

Para minha alegria, meu outro irmão mais velho, Itamar, ia chegar para passar alguns dias com a gente. Eu estava tão feliz!
Fazia tempo que não o via, minha avó só falava disso, ele foi o primeiro filho da minha mãe na adolescência com a paixão dela na escola. Não deu certo, mas gerou um fruto.

Apesar da vovó não ter aceitado no começo por conta da mãe ser muito nova, não dava pra fazer nada para evitar, ja estava feito.

E por ela ser muito nova e estar iniciando a faculdade quem criou meu irmão foi minha avó, e por conta ela o tinha como um filho.

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