Mulher Preta.

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Vitória Constant Amaral

Essa sou eu crianças. Bom, pelo menos esse é o meu nome.
Achei que ficaria sem graça se o Daren simplesmente contasse tudo a vocês, então aqui estou eu vom um olhar mais feminino a essa história, até por quê essa história é focada em mim não é mesmo?

Enfim, eu nasci trazendo dificuldade a minha família. Pelo menos na minha visão é assim, eu fui um acidente. As vezes, o pensamento de que se eu não tivesse "acontecido" meus pais teriam melhor condição hoje em dia, um filho pode realmente atrapalhar a vida de um casal.
Por isso, sempre me cobrei ser forte em tudo, sempre me esforcei o dobro por mais que isso me quebrasse. Meus pais deram o mundo pra mim, então irei caçar um mar para eles.

Mas hoje eu vou lhes contar algo que aconteceu antes de conhecer Daren, e talvez eu conte algo de quando nos conhecemos.

Eu sempre acordo cedo pra estudar, a vida no nordeste não é tão fácil, então tive que estudar muito para merecer uma bolsa de estudos em uma escola boa. Lembro até hoje do sorriso de mainha, painho todo choroso com aquela pose de macho forte (kkkk). Mas enfim, era segunda feira de uma certa data. Era verão, então vocês imaginam a amostra grátis do inferno que tava fazendo MISERICÓRDIA.
Minha mãe me acordou naquele dia e eu me arrumei e fui estudar com o qualquer outro. Pai tinha ido trabalhar mais cedo ainda (eu sempre acordo as 5hr) Então essa parte do dia foi mais tranquila, mas por algum motivo a mãe tava estranha, como se algo ruim fosse acontecer.
Eu não me importei muito, mamãe sempre foi religiosa e muito sensível, tentei conversar com ela naquela manhã, foi mais ou menos assim.....

Mãe, cê ta bem? Me aproximo um tanto cautelosa por trás de mãe.

Mãe por sua vez se vira pra mim, e me abraça com força.

Eu tive um sonho horrível minha família... Mainha te ama viu? Você é o presente da minha vida... Minha mãe chorou um pouco, mas logo me afastou e me mandou ir pra escola, do jeito mais estranho possível, mas eu decidi não questionar e ir para escola, dando-a um beijo e dizendo que a amo.

Sim, é muito estranho, mas sempre dizem que quando Mainha sonha, sempre acontece.
Enfim, além da escola, eu faço Estágio como professora, pois estudo em um colégio Normalista. Então, sempre chego por volta das 18 horas da noite em casa. Dependendo de por onde eu fosse, poderia ser perigoso a noite, mas como uma bela adolescente irresponsável, por nunca ter acontecido nada comigo, eu estava confiante como sempre aquela noite. Despreocupada com o que poderia acontecer, eu não percebi um homem me seguindo pelo caminho que sempre faço para chegar em casa.

Eu estava passando por um beco com pouco iluminação, era o caminho normal que eu sempre fazia para chegar em casa rápido, quando eu ouço passos rápido, como se alguém estivesse correndo até mim.
Ele me agarrou. Eu não me lembro muito bem da aparência daquele monstro por causa da pouca iluminação, mas tenho certeza que ele tinha mais de 30 anos pela barba. Parecia ser branco, era forte e alto.
Eu não sabia mais como reagir a não ser gritar e me debater tanto contra ele, mas parecia que nada adiantava contra aquele porco. Eu lembro até hoje onde ele pegou em mim. Ele lambeu meu pescoço, pegava na minha bunda de forma que era óbvio o objetivo de despir, mas continua me agarrando pela cintura para que eu não fugisse. Eu estava começando a hiperventilar e entrar em Pânico. Eu podia sentir o membro dele duro roçando em mim, e nada me dá mais nojo desde então.
Eu lembro que ele sussurra em meus ouvidos coisas como "Você é uma puta, assim como todas as outras, eu sei que no fundo você quer, uma pretinha como você me enche de tesão."

Foi então que desesperadamente, eu mordi o pescoço daquele monstro e enfiei o meu dedo o mais fundo possível em seu olho, subi minha calça enquanto ele se estava tonto de dor e sai correndo desesperada dali. Saindo do beco eu pude encontrar ajuda, mostrei as marcas no meu corpo e acreditaram em mim. Chamaram a polícia, médicos, mas eu tenho quase certeza que caçaram aquele homem e se livraram dele. (Meu pai e mãe são bastante conhecidos onde moram, eu passei no colo de todo mundo quando nasci, onde moro todos me conhecem, assim me protegeram).
Eu nunca mais vi aquele homem. Quando cheguei em casa, eu estava paralisada, minha mãe estava maluca mais do que o normal tentando acalmar o meu pai que queria matar o porco com as próprias mãos.
Eu fiquei no meu quarto, assustada, sem conseguir pregar o olho. Todo e qualquer mínimo ruído me deixava arrepiada. Meu corpo doía com os machucados, eu não sabia o que fazer a não ser chorar.

Um dia se passou, Uma semana, Um mês...
Eu não sei explicar com palavras o quão traumatizada eu fiquei. Minha mãe estava conseguindo segurar a escola para me dar chance de superar o ocorrido, mas eu não conseguia nem mesmo sair de casa.
Até que um dia, a maluca da minha mãe resolveu que os meus dias de cama iriam acabar. Ela chutou a porta do meu quarto (Sim, ela pós a porta a baixo). Eu me assustei obviamente mas fiquei tranquila por ver ela. até que ela começou a falar.

VITÓRIA CONSTANT AMARAL, VOCÊ VAI LEVANTAR DESSA CAMA E VAI AGIR A TUA VIDA AGORAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA.

Senhoras e senhores, eu tava com o olho mas esbugalhado de todos naquele momento, então minha mãe se aproximou, me pegou pelos abraços e me deu o melhor abraço que eu recebi na vida, junto com as seguintes palavras:

Mamãe sabe que o que aconteceu com você não é fácil, minha filha se eu pudesse eu mudaria tudo, eu sofreria no seu lugar sem nem debater. Eu te amo, mas você tem que sair dessa cama. Garota, você é forte. Você é filha de Amaral com Constant, você não é pouca bosta não minha filha, eu já quebrei muito macho na porrada sabe porque? Por quê eu sou mulher minha filha, cada mulher é forte duas vezes por ser filha de outra mulher. Não sou de levar desaforo pra casa nem de deixar macho cantar de galo pra cima de mim. Nós duas somos mulheres pretas, e vamos dar orgulho a nossa cor ouviu minha filha?

Aquelas palavras conseguiram me levantar da cama aquele dia. Eu fui dando pequenos passos até me acostumar. Confesso que demorou para que eu pudesse acreditar em qualquer homem que se aproximasse de mim de novo.
Eu contei essa história para vocês, por que sei que eu não fui a única, e que eu dei sorte aquele dia. Poderia ter acontecido muito pior, e eu quero dizer a todas me lêem, não desistem. Vocês são mulheres, são fortes de natureza.

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⏰ Última atualização: Jul 24, 2020 ⏰

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