Os estalos dos moveis na madrugada, o barulho do vento batendo levemente na janela, e o cheiro de objetos antigos
A escrivaninha cheia de fotos antigas e memórias, os cartões de natal recebidos todos os anos, a coleção valiosa de canetas tinteiro
A poltrona do vovô, as manchas de bebida que um dia ele derramou, agora são seus únicos vestígios naquela velha poltrona
O armário com discos de vinil velhos e gastos, não podíamos toca-los, estavam sempre empoeirados
O piano com teclas amareladas, em cima do piano as garrafas de licor de jabuticaba, os mesmos frascos que pegávamos, secretamente quando éramos jovens, para lamber o licor da tampa
Você se lembra do cheiro da sala de piano?
Se lembra do som da vovó tocando no andar de baixo para os convidados, enquanto nos escondíamos atrás da porta?
Se lembra de quando sentávamos escondidos na cadeira do vovô?
Se lembra das fotos amareladas pelo tempo?
Lembranças gravadas na memória, derramadas, como o licor esparramado pelo carpete
Se eu abrir novamente as janelas, você se lembrará do som que o vento fazia quando batia no lustre?
Será que vai se lembrar do rangido que os moveis velhos faziam?
Se eu tocar uma melodia no piano, vai se lembrar de como a tecla dó fazia um som esquisito?
E se abrirmos novamente os álbuns de foto, será que agora as nossas fotos estarão amareladas pelo tempo?
Você se lembra do cheiro da sala de piano?
Cheirava poeira, cheirava licor, cheirava madeira, cheirava como uma doce lembrança, dançando em nosso inconsciente, como duas almas saudosas, deitadas no velho carpete, bebendo secretamente, o velho licor de jabuticaba.
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Texto sem contexto
PoesiaApenas alguns textos, ligeiramente poéticos; vagamente melancólicos; não muito inovadores; - Quem puder votar e comentar agradeço -