Xuanyu e Wuxian

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Naquele fim de semana Lan Zhan estava em reclusão com os anciãos do clã Lan, seu irmão Lan Xichen e seu tio Lan Qiren. Aparentemente era uma tradição do clã que todos seus membros mais influentes se reunissem para um monte de eventos enfadonhos, regados a chá amargo, comida insossa e conversas longas sobre como educar seus aprendizes. 

Wei Wuxian deu um beijo demorado no marido e lhe desejou boa sorte para aguentar aqueles velhos ranzinzas por três dias seguidos.
Em seguida decidiu que não queria ficar sozinho obedecendo a um zilhão de regras chatas e correu para convencer Lan Sizhui e Jingyi a irem com ele para Lanling visitar seu sobrinho Jin Rulan.

"Mestre Wei, se Hanguang-Jun descobrir que fomos para Lanling em sua ausência seremos punidos severamente..."

"A-Yuaaaan, pare de ser tão parecido com ele! Finja um pouco que você é jovem e só um pouco rebelde... Vocês não estão com saudades de ir pra caçada noturna com o Jin Ling?! Hein?! O que você acha da ideia, Jingyi? Você é minha última esperança nesse clã de caretas!"

"Eu acho que aquela princesa... Ahem, acho que o mestre Jin pode pegar todas aquelas redes espirituais caras e estúpidas dele e enfiar bem fundo no..."

"CERTO, CERTO, JÁ ENTENDI, MENINOS! DISPENSADOS!"

Ambos aprendizes se desculparam educadamente e voltaram a suas leituras, deixando um mal humorado mestre Wei resmungando e batendo os pés até o Jingshi.
Ele não sabia onde Wen Ning estava dessa vez e não queria ir até Yunmeng para ouvir mais sermões de seu irmão, o volátil líder Jiang Cheng. Nie Huaisang também não era uma opção, pois há anos a amizade deles havia sido desfeita e ele não confiava naquele homem. Lanling era longe e, por mais que sentisse saudade de irritar e rir com seu sobrinho, ele não conseguiria viajar com Suibian. Havia anos que a espada se encontrava guardada com sua Chenqing e ele não tinha certeza se gostaria de testar seus poderes com as armas tão cedo.

O que fazer, então, para matar o tédio?

Enquanto lavava o rosto, Wei Wuxian começou a divagar. Ele olhou bem para seu reflexo na água e estudou seus traços. Já estava beirando os quarenta anos, mas aquela aparência não devia ser nem de trinta. Uma pontada de melancolia o atingiu quando lembrou do dia que retornou à vida graças ao sacrifício de Mo Xuanyu. Aquele seu corpo não era mais o mesmo de quando corria com seus irmãos pelo Píer Lótus, nem de quando chegou aos Recantos da Nuvem pela primeira vez, aos 15 anos... Aquele corpo era do belo e trágico jovem que o invocara para se vingar da cruel família Mo e de Jin Guangyao.

E o que ele sabia sobre Mo Xuanyu? Quase nada... Como ele era quando cresceu na Torre da Carpa? Quais eram suas atividades favoritas, seus medos? Raiva brotou quando pensou que aquele rapaz havia sido difamado e rejeitado apenas por ser homossexual, vivendo por sabe-se lá quanto tempo sofrendo com os abusos físicos e psicológicos da família invejosa de sua mãe. Quanto uma pessoa deveria sofrer para executar um feitiço tão profano e abrir mão de sua vida por vingança?

Então Wei Wuxian decidiu tentar algo. Ele se lembrava da Vila Mo e da alma de Mo Xuanyu falando com ele, talvez seu plano pudesse funcionar direito! Ele faria funcionar, afinal ainda era o todo poderoso Patriarca de Yiling.

A fumaça perfumada que saía do incensário o envolveu e logo o sono profundo veio. Aquele artefato misterioso era realmente poderoso e, assim como planejado, Wei Wuxian abriu os olhos e se viu na familiar Vila Mo com seu corpo original.

Contos Wangxian: para ler antes de dormirOnde histórias criam vida. Descubra agora