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Eu não culpo o senhor Cullen por falar aquilo, realmente uma boa parte dos adolescentes não precisa se preocupar com sua aparência para milhões de pessoas, ou ser censurada por ter uma opinião que não seja baseada nos princípios de sua família ou até mesmo ser punida por isso. Porém isso está no passado, seria passado se ainda me afetasse no presente?
Paguei o táxi e entrei na minha casa, tirei o vestido de Alice e coloquei para lavar, decidi colocar um casaco grande e um short moletom.
Não é culpa de ninguém se eu tive 18 horríveis anos de vida com ninguém para conversar sobre, também não é culpa de ninguém se meus me batiam por não ser perfeita, não é culpa de ninguém eu não ser boa o suficiente para eles, a culpa é minha? Não percebi mas as lágrimas começaram a cair do meu rosto molhando meu casaco, está tudo bem Artemis, por favor se acalme. Minha respiração começou a ficar mais e mais acelerada assim como meu coração, eles não vão vencer.
Corri para o banheiro e me olhei no espelho, é como se eu estivesse escutando a voz dos meus pais na minha cabeça.
"Patética"
"Você não merece ser amada."
"Talvez com punição suficiente você irá ficar perfeita."
"Eu nunca considerei você minha filha, você é uma aberração."
Eu soquei o espelho deixando várias pedaços soltos na pia com meu sangue nelas. Minha mãos começaram a tremer o que fez mais difícil pegar o potinho na estante, alguns produtos caíram no processo mas tudo que eu quero agora são os malditos comprimidos, peguei três e tomei de uma vez.
Parecia que o mundo estava mais cinza e se movimentava em câmera lenta, tentei pegar algo para minha mãe já que estava sangrando muito. Fiz um curativo, mais um para minha vida, enquanto estava sentada no chão do meu banheiro. Talvez eu esteja destinada a isso, fracasso, ser um fardo, um desperdício de oxigênio. Me levantei e fui pra meu quarto, me joguei na cama e a escuridão me abraçou mais uma vez naquele dia.
Acordei por volta das três da tarde, por mim eu não comia nada o dia inteiro, mas não posso voltar a velhos hábitos, também não estava com vontade de cozinhar, então decidi comer fora. Tomei banho, tomando cuidado com minha mão, coloquei um suéter e uma calça jeans, meus catunos e prendi meu cabelo em um rabo de cavalo.
Fui no primeiro restaurante que eu encontrei, estacionei meu carro e entrei no estabelecimento, me sentei em uma mesa e uma mulher veio em minha direção.
- Boa tarde querida, o que vai querer.- perguntou com uma voz doce.
- Um cheasseburguer com batata frita, por favor.
- Algo para beber?
- Um suco de laranja, obrigada.
A mulher havia saído, coloquei meus óculos e meus fones. Meu paraíso momentâneo foi interrompido por uma pessoa chamando minha atenção.
- Oi, Artemis né? Meu nome é Bella.- Disse a menina de cabelos morenos, merda, ela é amiga dos cullens.
- Prazer Bella, sim, sou Artemis.- Falei tentando soar o mais amigável possível.
- Não queria me intrometer mas eu percebi que você não foi pra aula hoje e nem ontem, está tudo bem?- Pergunta meio preocupada.
- Está tudo bem sim, eu fui para uma festa ontem, sabe como é, ressaca e essas coisas.- Ela olhou para mim como se não soubesse como era, Deus me tira dessa situação. Ela olhou para minha mão e já iria começar a falar antes de eu intrometer ela.- Isso não foi nada, um copo quebrou e eu fui tentar pegar os pedaços mas só piorou.- Ela não parecia acreditar e muito menos eu na minha própria mentira.
- Posso dar uma olhada?- Fiquei alguns segundos calada mas me dei por vencida. Comecei a tirar os curativos, olhava para cara de Bella e sabia que minha mentira tinha ido por água a baixo.
- Você não precisa me falar o que realmente aconteceu mas por favor, deixe ajudar, pelo menos levando você ao hospital.
- Mas minha comida...
- Isso é mais importante, eu compro algo pra você comer quando acabar.- Exclama se levantando dando a mão para eu pegar, seria minha segunda amizade.
Me levantei e disse a mulher cancelar meu pedido, fomos ao hospital em questões de segundos, sempre esqueço o quão pequeno Folks é. Bella estacionou sua caminhonete e me guiou até lá. Falou alguma coisa com a recepcionista que vez, em com que Carlisle Cullen estivesse na nossa frente, tinha que ser ele mesmo? Fiquei me perguntando.
- Olá Bella, Olá Artemis. Em que posso ajudar vocês?- Pergunta educadamente.
- Artemis teve um pequeno acidente e eu achei melhor o senhor examinar.
- Claro, venha comigo Artemis, Bella se você quiser esperar, fique a vontade.- Olhei hesitante mas ela me deu um abraço.
- Vai ficar tudo bem.- Diz após sair do abraço.
Seguir o senhor Cullen até um local onde tinha mais pessoas em camas sendo atendidas, ele me levou até a mais afastada e fechou a curtina.
- Vamos ver o estrago.- tentou fazer graça e eu sorri meio sem jeito.
Ele pegou minha mão e começou a tirar os curativos.
- Este curativo está muito bem feito, pretende fazer medicina ou algo do tipo.- Perguntou genuinamente curioso.
- Não... Apenas prática...- Deixei no ar a reposta e rezando para ele não perguntar mais sobre, os deuses finalmente me escutaram, ele não perguntou nada.
- Ok, vou limpar seus ferimentos e colocar um pouco de anestesia local, você vai precisar de poucos pontos.- Ele fala calmo.
Ele fez seu trabalho com cuidado, não senti nada e com poucos minutos ele já tinha acabado.
- Posso lhe pedir algo?- Perguntei meio sem jeito
- Qualquer coisa.-
- Poderia não contar ao Jasper sobre isso, tenho certeza que você sabe muito bem o que aconteceu, mas por favor, não conte a ele.- Estava quase implorando, eu finalmente tinha um amigo e não queria estragar tudo com a verdade.
- Vou te dar um conselho, não como médico mas como um colega, você não deve guardar coisas para você, conte para seus amigos, tenho certeza que deve ter vários.
- Senhor Cullen, seu filho é meu único amigo e eu não quero estragar minha primeira amizade na vida.- Ele olhou pra mim com pena, mas concordou.
- Eu não vou contar pra ele Artemis mas por favor, não faça mais isso.- Concordei e saí dali.
Por incrível que pareça Bella estava me esperando, ela percebeu minha cara surpreendida e falou.
- Você realmente achou que eu iria te deixar?
- Sinceramente, sim.- Falei risonha.- Então aquela proposta de comida pode ser deixada para outro dia?
- Claro, você deve estar cansada, vou levar você para o restaurante.- Ela disse compreendendo minha situação.
O caminho foi curto, como sempre. Dei tchau e desci da caminhonete, fui em direção do meu carro mas minha barriga se manifestou ia dar quase cinco horas da tarde e eu não comi nada desde ontem.
Entrei mais uma vez no local e pedi o mesmo pedido de antes, dessa vez não tinha muitas pessoas, apenas eu e uma família mais distante de mim. Minha comida chegou e comi tudo bem rápido, estava morrendo de fome e sentia que os efeitos dos comprimidos ainda não tinham passado. Fui para casa em um piscar de olhos, não me lembro muito da viagem, mas eu cheguei segura, tirei meus sapatos e me joguei na cama, rezando para não ter insônia eu dormir mais uma vez, dessa vez sem pesadelos com péssimos pais e amores de época.
