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[...]

Toda aquela situação não passava de um sonho; acordei com os gritos do Eduardo que estava extremamente assustado pois eu não parava de gritar o nome do Elias e ofende-lo.  Quando finalmente vi que tudo era um devaneio fiquei extremamente envergonhado. 

- Buscar um terapeuta é uma ótima opção - Eduardo debochava da situação. 

Apenas  o encarei e fechei os olhos tentando voltar a dormir, mas o pensamento de que algo muito sério poderia ter acontecido com Elias não saia da minha mente; Elias não sair da minha mente é, ou pelo menos era algo normal, mas quando  você faz uma pessoa ser atropelada provavelmente você ficará com ela na sua mente. 

 [...] 

Acabei acordando diversas vezes, sempre preso ao pensamento de que Elias havia morrido e que Eduardo estivesse mentindo para mim e para uma terceira pessoa. Se tem algo que aprendi é que a morte não é algo ruim, as vezes a "morte do Elias" não passa de um sinal de que para mim ele morreu e que eu devo encarar isso como um luto... Ficar preso á esse sonho, ou a esses pensamentos só me demonstra  a intensidade destes sentimentos. 

A traição me ronda tanto, que de tanto eu me sentir traído emocionalmente qualquer pessoa a partir de hoje com quem eu me envolva, eu terei o pleno pensamento de que ela está me traindo.  

  - Bom dia... - Eduardo falava sonolento - 

O silêncio reinava no quarto, Eduardo tentou continuar seu diálogo, mas eu continuava a ignorar sua voz por estar fixado nos fatos das noites passadas; ele tentava entender o que estava acontecendo, porém, acabou apenas pegando suas roupas e objetos pessoais e indo para casa. 

Acabei por me motivar a levantar da cama e tomei uma decisão que provavelmente voltaria a me atormentar, visitar o Elias e finalmente dar um ponto final nessa situação. 

- Ta tão fácil cowboy, recusar o amor -  Abri a gaveta da escrivaninha e agarrei nossa foto juntos, prendendo-a em meu peito como se estivesse abraçando a outra pessoa que está nela - Só eu sei o quanto me dói...

[...]

O trajeto foi um pouco extenso, mas lá estava eu, sentado em um hall de hospital com um buquê de flores na mão e um óculos escuro que escondia as noites mal dormidas e as marcas de horas de choro;  o desejo de vê-lo e toca-lo me consumia, seus lábios e olhos profundos voltavam a passar pelas minhas retinas em um flashback.

Nem mesmo o mais forte dos homens resiste ao amor.

- Gabriel Oliveira, quarto 105. - Anunciava a recepcionista do hall. 

Ao ouvir meu nome o número do quarto me levantei rapidamente, um sorriso temporário preenchia meus lábios rachados enquanto eu caminhava em direção ao quarto, e ao chegar no quarto lá estava ele, deitado inconsciente com curativos na cabeça.

- Sua mãe avisou que viria, vá e seja breve, você já causou dores demais ao meu filho - a mãe de Elias, carinhosamente apelidada de Víbora, se levantou de um sofá que estava na frente da cama e  veio em minha direção, seus cabelos lisos e grisalhos passaram por minha face enquanto ela olhava fixamente para a saída.

Deixei as flores junto de algumas que estavam no vaso ao lado da cama e me sentei ao seu lado, tirei meus óculos e sobrepus nossas mãos, em seguida  apoiei minha cabeça na cabeceira do móvel.

- Você não me ouve porquê está dormindo e acredito que seja melhor assim... - a voz fanha se destacava enquanto eu falava junto de lágrimas que desciam por minha face - Eu te amei, te dei prazer, te dei carinho e te apoiei quando você mais precisou de mim, mas em uma virada de ano você chegou e disse que tudo havia acabado - dei uma leve risada - No outro dia, você estava na porta da minha casa por um acaso e me agarrou dizendo que eu ainda era seu...

 Como eu posso ser seu, se não sei de quem sou eu e nem quem sou? 

- Dias e semanas se passaram, eu alimentei minha dor, meu prazer e meu ego, até que um dia você voltou de novo para me chamar de egoísta e fazer questão de apontar meus erros na minha cara, lembrando que quem mais errou aqui foi você - Olhei para baixo - Depois chegou um príncipe, mas eu estava preso ao meu vilão e em uma noite que o galã de araque veio me reconquistar, eu o empurrei e o fiz se acidentar - Voltei meu olhar para Elias; meus olhos estavam cheios de lágrimas e nossas mãos permaneciam juntas. 

Tudo parecia uma canção da Liniker, mas quem me dera uma vida harmônica e poética 

Tiro uma carta de meu bolso, abro a mesma e pulo para o fim da primeira página; fixado nos olhos de Elias leio o verso destacado.

- Eu não te conheço o suficiente para dizer o que você é ou não, assim como você não me conhece o suficiente para saber se sou isso mesmo que você idealizou - Sussurro sendo interrompido constantemente pelo choro - Com amor, Elias... - O silêncio se instaura, por alguns segundos cogito a ideia de ir embora, mas permaneço. 

- Desculpe não ser quem você idealizou - Elias  desperta, ainda frágil tenta apertar minha mão o mais forte que consegue; sua fala é baixa e lenta, seus lábios estavam brancos e rachados e seus olhos não esbanjavam o mesmo brilho de antes - Eu não vou morrer, mas saiba que não precisa voltar mais aqui porquê a única pessoa que perdeu alguém, fui eu... - Aquela foi minha deixa, apenas nos encaramos e em prantos me retirei do quarto, aquele era o fim da era Elias, o fim de nós dois

Ciclos precisam ser fechados para que novos invadam nossos corações, ciclos precisam ser rompidos para que você mantenha sua saúde mental estável, pois a vida não é a música abertura de Rei Leão, a vida não é um ciclo sem fim 

[...]

Indo para casa um estalo percorreu meu corpo, parei na primeira barbearia que vi e entrei destinado a cortar os cachos, pela primeira vez, a barba que crescia em meu rosto iria ficar lá; um novo momento, um novo eu nascia, nascia do fruto de um amor sem correspondência.

Ainda que o vazio me preenche-se, essa foi a forma que eu encontrei de começar a entendê-lo, será que o amor que eu preciso é o meu? 

- Bom dia, em que posso ajudar - Um doce senhor de aproximadamente sessenta anos me recebe com uma tesoura em mãos e uma toalha em seu ombro.

- Bom dia, o corte é bem específico - Passei uma última vez a mão nos cachos e suspirei - Pode cortar tudo, deixe o mais baixo possível.

[...]

Mudanças, mudanças podem ser causadas por tantos fatores que me desprendi do pensamento de entender o porquê ou por quem eu estava mudando; muitas mudanças aconteceram na minha vida, mas nunca fui eu quem quis mudar, eu acatei tudo porquê pensava que se eu fosse o que as pessoas querem que eu seja, eu seria feliz, mas agora a única coisa que eu tenho é a solidão e os milhares de problemas que essas mudanças me causaram 

"Pane no sistema, alguém me desconfigurou, aonde estão os meus olhos de robô?"

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O verso da carta do Elias existe, mas na vida real o autor é quem recebeu essa carta, e hoje as coisas não estão bem assim, mas se a pessoa que escreveu estiver lendo, obrigado pelo verso, ele representa muita coisa pro livro e o que representa pra mim a pessoa deve saber.

Até a próxima!

Amor sem Correspondência [HIATUS]Onde histórias criam vida. Descubra agora