Capítulo 3: Nada faz sentido, e talvez isso seja o amor

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Sei que já disse que tinha acabado de a conhecer, mas eu não conheci ninguém tão bem quanto conheci Lauré.

Ao chegar no topo do monte, nós encontramos sua nave. Ela entrou, e rapidamente saiu. A garota voltou sorrindo, aquele sorriso mágico que só ela tinha. Ali, eu entendi. Lauré podia ir embora, a nave estava pronta, mas ela não queria. Talvez ficar mais algum tempo comigo fosse mais interessante do que voltar agora. Muitas vezes me pego pensando o motivo pelo o qual ela resolveu ficar, e uma de minhas teorias, é que ela estava curiosa com esse sentimento que sentíamos.

E assim ela fez. Passamos uma semana juntos. Rimos, brincamos e amamos, tudo ao mesmo tempo. Na última noite da menina aqui, eu tive mais um sonho curioso. Sonhei com o povo de Lauré. Era um povo que vivia na Amazônia, um povo que tinha forte ligação com os deuses e com a tecnologia. Com as várias ameaças que foram surgindo ao longo dos anos, eles decidiram fugir, fugir para longe dos outros humanos, e começar uma vida nova em outro planeta.

Eu sei o que você deve está pensando, "isso é loucura, é invenção", pense o que quiser, mas de todas as coisas que já me aconteceram na vida, sem dúvidas, Lauré foi a mais real.Mostrei para ela minhas músicas favoritas, nós dançamos juntos, mostrei minhas comidas favoritas, meus livros favoritos, e compartilhei com ela metade do que eu era, porque a outra metade ela sempre teve.

Chegou seu último dia comigo, e resolvemos fingir que ele nunca, jamais, iria acabar. O dia começou chuvoso e frio. Ficamos a manhã inteira deitados na cama, debaixo dos lençóis. Salsicha dormia do lado de fora do quarto. O frio daquele dia foi muito prazeroso, tudo com ela era mais prazeroso.

Um relâmpago cortou os céus e veio seguido por um estrondoso trovão. Lauré sorriu para mim, ela adorava a chuva, os trovões. Ficamos nos encarando e sorrindo por um bom tempo. Ela era tão linda. Em um piscar de olhos, ela estava me beijando, e eu, retribui beijo. Foi uma sensação incrível, não sei se é dramático de mais dizer que aquilo me fez viajar por todas as galáxias, e sentir todas os melhores sentimentos, em um lugar só e em um rápido momento, mas foi o que aconteceu, foi como me senti. E em pouco, bem, em o que aconteceu em pouco tempo eu prefiro não comentar, e essa parte, prefiro deixar guardada, apenas na memória. As palavras podem ser superestimadas, lembra?

No fim da tarde, nós dois sabíamos que já era hora de Luré partir. Ela olhou meu quarto uma última vez. Passamos por todas aquelas árvores, juntos, uma última vez. Nós subimos, juntos, o morro, uma última vez. Últimas vezes são dolorosas, mas, geralmente, são as mais difíceis de serem esquecidas.

Ao chegar no topo do monte já não tinha mais chuva. Salsicha nos acompanhou até ali, e ficou deitado, encarando o belo por do sol que se apresentava. Estava tudo tão, calmo. Lauré apertou minha mão. Lágrimas escorriam pelos seus olhos. Eu a abracei. Queria ir com ela, queria ficar com ela para sempre, e talvez eu devesse ter tentado, mas sentia que não podia, assim como ela não podia ficar, e nós não poderíamos ficar juntos.

Nos beijamos uma última vez antes de Lauré entrar na nave.Ela olhou para trás, acenou, e entrou na nave. Em pouco tempo, a maquina estava longe, e eu a vi partir, em um eterno adeus, esperando um eterno retorno. É claro que quando a nave sumiu no céu, eu não aguentei, caí aos prantos. Mas, sabe que eu não me considero alguém infeliz? Tive uma vida boa, aproveitei cada segundo, não como se fosse o último, mas como se fosse o único, pode não fazer muito sentido, para você, para mim, é um fato.

Tive a grande sorte de conhecer meu amor. Nenhuma mulher conseguiu apagar a garota da minha mente, e tira-la de meu peito. Sim, passar seus últimos dias sozinho dentro de um asilo não a melhor maneira de encerrar a vida, mas é alguma maneira. Escrevi isso, para que alguma parte da minha história, a melhor parte, fique eternizada.

Acredite em mim quando digo que eu tentei esquecer a menina, mas não consegui. Não tive esposa, filhos, mas tive bons amigos, que me visitam, aqui no asilo, vez ou outra. Lauré nunca mais retornou para mim, mas espero, algum dia, de alguma forma, me reencontrar com ela, para que eu finalmente me sinta completo. Bem, eu ainda não morri, ainda não. Ela virá ao me encontro antes que eu parta? Não sei, mas como já disse antes, eu vivi uma boa vida, e no fim das contas, isso é tudo o que importa.

Para sempre, amorOnde histórias criam vida. Descubra agora