#01: Unanimous Apocalypse

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No dia 17 de dezembro de 2019, o mundo estava prestes a mudar para sempre. Mas não era uma mudança comum, rotineira, como a morte de um ator famoso, ou o resultado de alguma eleição: Um apocalipse espreitava. Mas o principal motivo para o mundo acabar, o catalisador silencioso, ocorreu às 20:32. 
Em um navio pesqueiro na costa da Grécia, um Senhor barbudo dorme sentado em uma cadeira, com uma enorme tranquilidade em meio a um céu estrelado. Castigado pela idade, seu rendimento havia caído abruptamente nos últimos anos, então ele se reservava a somente coordenar as ações de seu neto. Seu rosto era coberto por um chapéu de pescador, não por deslize: Em noites como aquela, as estrelas irradiavam uma luz potente, dificultando que ele pegasse no sono.
Porém, o descanso do idoso acaba sendo abruptamente interrompido por seu Neto, que sai da cabine do navio segurando uma rede, dizendo, enquanto encostava carinhosamente no ombro do homem que dormia:
— Vovô, precisamos pescar. Os peixes ficam mais próximos da superfície por esse horário...
Com seus olhos ainda fechados, o homem reclamava um pouco, confuso, enquanto arrumava o chapéu em sua cabeça, que agora estava no local correto. O frio da noite havia se tornado recorrente, então os calafrios eram algo natural na fala do Idoso:
— Vá pegar a rede, logo começamos.
Quase voltando a dormir, ele é impedido por seu neto, que o cutuca novamente, irritado, com sombrancelhas franzidas e uma expressão de descontentamento:
— Você disse isso há cinco minutos, e eu já estou com a rede aqui! Vamos logo, a Mamãe fez ensopado hoje!
Porém, o Idoso fica em silêncio por alguns segundos, fazendo o jovem se questionar se ele havia voltado a dormir, porém logo a fala de seu Avô desmentiria essa teoria:
— Você está vendo aquela estrela enorme, ou eu estou ficando louco?
Apontando com seus frágeis dedos, o Velho fica encarando o horizonte, onde uma estrela roxa de tamanho humilde crescia mais a cada segundo. Não parecia ser algo comum, e apesar de ser pequena a uma distância como aquela, ela tomava proporções gigantescas, se fosse aplicada uma comparação entre a distância e o tamanho real do objeto.
Amedrontado, o jovem sardento diz com uma voz rouca e baixa, enquanto a tensão e ansiedade  impediam o mesmo de se mover:
— M-Meteor-!!
Antes do mesmo terminar a sua fala, o pedaço de rocha colide com o mar, provocando uma onda que se estende até onde eles estavam, quase tombando o barco, com o Jovem segurando o seu Vô com muito medo. O som da colisão era estridente, e uma enorme luz iluminaria a noite mais do que o próprio sol durante o dia. Guiando seu antecessor para a cabine, o jovem de cabelos ruivos fica encarando o local do impacto, por um mirante natural da cabine que roçava na janela, até perceber algo.
— Mas que merda é essa...
Os peixes. Na verdade, toda a vida. As algas, crustáceos, tubarões, corais, tudo brilhava com uma força sobrenatural. Era possível definir as formas dos seres embaixo da água, e eles brilhavam com um tom roxo. Apesar de o brilho ser forte, era um pulsar coletivo, como um cardiograma, que se estendia por toda a visão do jovem, até o brilho ir diminuindo lentamente, até o normal tomar conta do mar.
— Vovô? 
Ao abrir a porta da cabine que estava encharcada por conta do quase naufrágio, Yamen vê o seu avô segurando um terço e rezando, enquanto treme desesperadamente, com o luar e as estrelas iluminando o local, já que as velas haviam se apagado:
— É o fim dos tempos, meu amado Neto...olhe lá.
Ao observar a área de impacto, não havia meteoro algum lá. Apesar de estranhar o sobrenatural ocorrido, Yamen não achava que era pra tanto. Talvez fosse algo que sua mente ignorante não soubesse explicar, mas algo natural para a ciência. Porém, para o infortúnio da humanidade, seu Avô estava certo. Apesar de ter atingido somente uma pequena área, o Meteoro soltou uma energia que infectou toda a vida Marinha no planeta, e que desencadearia a maior guerra da história de toda a humanidade, não por motivos mesquinhos ou divisões territoriais, e sim pela sobrevivência.
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— Cadê você, seu imbecil?
No enorme terminal rodoviário de Nova York, uma jovem de longos cabelos castanhos aparentava estar levemente irritada, mas absurdamente confusa. Com um rabo de cavalo que ultrapassava seus ombros, os olhos Âmbar da mesma procuram por todos os lados, em meio a dezenas de pessoas, seu Irmão. Porém, a cada vez que a jovem piscava, suas preocupações e lembranças ruins a açoitavam, provocando uma leve desconcentração de seu objetivo:
"Já fazem cinco anos, Irmão...cinco anos que eu não te vejo. Cinco anos que os nossos pais te mandaram para aquele inferno. Eu tenho tanto medo que você tenha mudado, e não seja mais aquela pessoa doce e divertida...O pessoal mudou tanto…"
Porém, o medo de não encontrar ele logo desaparece, ao ver um Adolescente enorme segurando uma mochila militar em suas costas, vestindo uma básica camiseta branca e um sobretudo marrom, com uma calça negra  como os seus cabelos. Era o seu irmão? Havia crescido...tanto em altura quanto em definição muscular. Era seu irmão. Ao vê-lo tão diferente, Evelyn chama pelo mesmo, enquanto se aproxima cautelosamente, temendo estar enganada:
— Ed…? É você?
Ao ser chamado, o garoto rapidamente se virou para Evelyn, a encarando por alguns segundos, em completo silêncio, como se estivesse tentando decifrar quem era. Após raciocinar que sua irmã havia mudado tanto nessa passagem de tempo, Edward a questionou:
— Ev? EV!
Então, abrindo um sereno sorriso, ele abraçou a garota, que dava uma risada animada, enquanto apertava os braços do mesmo, sentindo seus músculos:
— Você cresceu! Tá maior que eu agora! Como foi lá no CTMPJP (Centro de Treinamento Militar Para Jovens Promissores)?
Ao ouvir a pergunta da garota, a feição de Edward se transformou em uma de desconforto, enquanto ele a dizia, caminhando para fora do local com a mesma, tranquilamente carregando suas bagagens:
— Ah...foi... diferente. Então, como o pessoal tá?
"Essa reação era esperada...eu preciso escolher as palavras certas, senão ele vai surtar e se culpar em um ciclo sem fim...apesar de que tudo piorou quando ele foi embora."
Tentando ignorar o desvio de assunto de seu irmão, Evelyn diz para o mesmo, enquanto entrava no luxuoso carro cinza cujo o Chofer dirige mecanicamente.
— É melhor se eu te disser agora mesmo. O pessoal tá diferente...tirando o Finn, ele continua sendo o Fantochinho da mãe dele. A Ruby agora é uma viciada em roupas de grife, mas no fundo eu sinto que o verdadeiro vício dela é estourar cartões de crédito dos seus Pais...o Zetsu não fala mais com a gente por que quer se desligar de tudo e focar na sua carreira de Medicina...já a Madelyne e o Johnny viraram dois delinquentes, porque aconteceu um negócio com a Mads…
Edward que antes observava a paisagem pela janela, virou-se e encarou a amada irmã, incrédulo. Não conseguia acreditar, ele estava atônito. Seus amigos haviam todos se perdido? O que diabos havia acontecido para tudo estar tão diferente? Apesar de cinco anos serem muita coisa, mudanças tão drásticas? Ele se afastando tinha sua parcela de culpa?
— O que...o que aconteceu com a Madelyne? 
Visivelmente desconfortável, e com uma expressão de pena, ela disse, enquanto desviava o olhar para a janela do carro que finalmente havia saído do estacionamento caótico:
— Três meses depois de você ir embora...quando estava voltando pra casa, ela foi pega por três homens e...e…bem...
Sem coragem para terminar a sua fala, Evelyn ficou em silêncio, com o olhar desesperançoso de Ed a fitando.
— Depois disso ela ficou viciada em vingança e matou os três...no julgamento, ela confessou e ficou 2 Anos internada...mas quando voltou, ela tava diferente...o Johnny só anda todo errado pra cuidar dela, eu acho. Mas agora ela nem vai mais nas aulas, só fica no terraço fumando…
Após isso, o silêncio desconfortável se instaurou até chegarem no apartamento da Evelyn. Na cabeça de Edward, pensamentos sombrios o tocavam:
"O sofrer é inevitável, obviamente. Sem o sofrer, não cresceriamos como pessoas e estaríamos destinados a viver em cavernas para sempre. Mas esse excesso me deprime. Quanto mais reflito, mais percebo que a maioria das coisas ruins que passamos não nos faz crescer como pessoas, só sofrer mesmo. Olha o que aconteceu com a Mads...digo, no que eu cresço como pessoa ao descobrir que uma das minhas melhores amigas foi estuprada e eu não pude fazer nada pra ajudar porque estava preso em uma escola de treinamento militar? Eu me sinto fraco quando sofro, talvez seja uma síndrome de Atlas minha, querer carregar o fardo de todos. Mas eu tenho a sensação que mesmo não tendo sido minha culpa, as coisas só aconteceram como aconteceram pela minha partida. Talvez eu pudesse ter ajudado a Madelyne...mas eu não pude, porque não estava lá."
Após tomar um banho e trocar suas roupas, o mesmo foi até a sala do luxuoso apartamento, vestindo somente uma calça de moletom. O local possuía uma decoração simples, com uma televisão, um sofá, e uma abertura para a sacada. Ao ver sua irmã no sofá mexendo no celular, ele a questiona:
— O que você tá fazendo? 
Ao ver a mudança de cinco anos no corpo de seu irmão, incluindo o seu físico definido, ela diz, enquanto encara os músculos imponentes de Ed:
— Marcando um jantar com o pessoal, que tal no Natal? Poderíamos passar ele juntos no Parque Bluestone, como sempre fazíamos!
Ao ouvir a proposta de sua irmã, Ed começa a coçar sua nuca, desviando o olhar.
— É uma ótima idéia, mas tem certeza que eles vão querer? 
Fazendo um joinha com as mãos, sua irmã sorriu de maneira sádica, enquanto balançava o celular com a outra mão.
— A Ruby, o Finn, e o Johnny confirmaram já. O resto nem leu as minhas mensagens ainda. 
Aliviado, Edward se sentou ao lado de sua irmã. Os seus amigos ainda lembravam e se importavam com ele, apesar de tudo. Mas o que era esse mau pressentimento que o dava calafrios? Talvez o CTMPJP tivesse o feito desconfiar de tudo, e ele devesse ficar feliz.
À dez quilômetros dali, um cargueiro descarrilou dezenas de contêineres, somando duas toneladas de peixe. Silencioso como um predador, o Apocalipse se aproximava...

Coletânea de One-shots: BuchimaruOnde histórias criam vida. Descubra agora