۞ sнє ıs мy ❦

𝓤𝓶 𝓷𝓸𝓿𝓸 𝓬𝓸𝓶𝓮𝓬𝓸

Eu estou recomeçando a minha vida, e queria começar dizendo que estou feliz por estar me mudando para outra cidade, que estou eufórica com meu novo emprego e que tudo está ocorrendo de forma positiva, mas na verdade me sinto insegura - não porque tudo é novo, mas porquê não posso desperdiçar a melhor oportunidade que recebi.

Bem, para algumas pessoas isso seria algo simples, mas para mim tem grande importância, até porque a um tempo atrás eu cheguei no portão da casa da minha tia, descalça, com as roupas rasgadas, fedendo a bebida e totalmente drogada.
Ainda me lembro da cara de surpresa dela.

A surpresa não era só por conta do meu estado físico, mas por ter recorrido justamente a ela em um momento que eu nem se quer estava sóbria - até hoje não sei como é nem porque corri nessa direção.

Mas lá estava eu, ajeitando minha última mala. Hoje estaria me mudando para um apartamento a poucas quadras da casa de tia Adeline, no fundo a saudade já doía, afinal ela havia me acolhido, foi dela que recebi um amor maternal ao qual já não me recordava a tempos, e deixar esse amor frequente para trás soava desesperador.

Inspirei uma grande quantidade de ar pelas narinas e depois deixei escapar pela minha boca.

- Vamos lá Celine, você consegue! - Me incentivei pela quinta vez a sair daquele quarto levando a última mala.

Olhei a volta mais uma vez e finalmente tomei coragem.

Caminhando pelo corredor antes de chegar às escadas que ligavam o segundo andar a sala, pude ouvir minha tia desabafando com Erick, seu fiel secretário que parecia mais um marido, mas por alguma razão eles não enxergavam um ao outro como possível casal (eu acho) :

- Estou com medo Erick, nós sabemos o que ela passou, e se ela tiver uma recaída? - Sua voz preocupada cortava meu coração.

- Adel, se acalme, sabemos que Celine é uma moça forte, ela mudou bastante dentro de um ano, e tenho certeza que se dará bem com Rene, você viu quanto ela estava fascinada por sua sobrinha.

- Ah... Eu conheço bem Agatha, mas desconheço Rene, ambas são opostas e parece que ninguém conhece essa mulher direito. Sempre fria, calada, áspera, não acho que Celine vá conseguir trabalhar com ela.

- Isso é extinto de mãe? - Erick riu e eu pude ouvir um tapa estalado. Certamente minha tia estava irritada com a provocação dele. - Confie em mim Adel, sua sobrinha já conquistou Rene com aqueles desenhos fascinantes, e a própria Rene quer uma parceria com a sua marca, aceite e deixe as coisas fluírem.

Ouvi a respiração pesada e barulhenta da tia Adeline.

- Acha mesmo que dará certo? Eu desenho vestidos de grife, e minhas modelos são transsexuais e drag queens, acha que Rene aceitaria?

Erick riu mais uma vez e eu pude imagina a cara de brava que minha tia fazia.

- Minha bela Vênus, Rene produz jóias e não bíblias, qual o problema nisso? Confie em mim, tudo dará certo!

Eu invejava essa segurança de Erick, ele sempre dizia o que minha tia precisava ouvir no momento certo, e suas intuições funcionavam de uma forma assustadora. Foi com os palpites dele que a marca de roupas luxuosas da tia Adeline veio deslanchar pelo mundo, obviamente foi um choque quando viram que as modelos quebravam padrões na passarela - no início não foi fácil, principalmente a respeito da moda Plus size - mas logo Adeline se tornou referência, tudo graças ao talento dela e os palpites do seu fiel escudeiro.

- Tomara. - Respondeu minha tia ainda receiosa.

Desci as escadas quando notei que a conversa acabou, já no primeiro degrau atrai a atenção deles. Rapidamente o homem alto de cabelos lisos e escuros vestido roupas sociais correu na minha direção e me ajudou a levar a mala.