Cap 6. "O lago"

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Luccino estava em seu lugarzinho, era assim que ele chamava o lago que sempre nadava, pelo menos, no último mês.

Ele havia encontrado este lugar por acaso, enquanto conhecia um pouco mais daquele Vale, e desde que ele mirou pela primeira vez este local, nunca mais pôde esquece-lo e passou a frequentar pelo menos duas vezes na semana.

Ele normalmente vinha sozinho, ou com seu novo amigo Randolfo, mas ultimamente ele andava um pouco distante e fazia um tempo que não o acompanhava.

Normalmente, Luccino mergulhava um pouco depois do sol do meio dia, mas ele teve de resolver algumas coisas e só chegou no lago,por volta das cinco horas.

Ele mirou o local como sempre fazia, admirando a linda paisagem, olhou para ver se não havia ninguém ali e tirou totalmente a sua roupa. Ao entrar na água,ele pôde sentir que ela estava gelada, todo seu corpo se arrepiou, mas ele não poderia voltar atrás, logo o sol iria embora e ele teria de voltar ao quartel.
Pricelli, estava ali um pouco distante da beira do lago, pensativo e mergulhando em seus pensamentos.
Assim como um certo Major...

Otávio nunca fora muito fã de sair, sempre preferiu o conforto de sua cama e seus livros, mas a verdade, é que o mesmo desde pequeno, havia fugido algumas vezes do orfanato e em uma dessas fugas, havia encontrado este belo local.
Ele olhava para o lugar com seus olhos brilhantes, a verdade é que fazia um longo tempo que ele não visitava seu cantinho. Ele gostava de ficar ali meditando, refletindo sobre a vida,mas naquele dia em especial, ele tivera uma grande vontade de nadar, talvez precisasse esfriar a cabeça que andava a mil.
Ele estava preocupado, sabia que seu casamento estava chegando e não sabia se queria se casar, na verdade ele sabia, ele não queria, se ele pudesse fugir, já estaria em outro lugar.
Ele tirou toda sua roupa com os olhos fechados, ainda pensando em como poderia fazer com que Lídia desistisse de tudo, mas ele sabia como sua "futuro esposa" era insistente, ela não desistiria. E aliás, o que pensariam dele? Quem naquele vale desistiria de se casar com uma linda mulher como Lídia? Só poderia ser alguém sem juízo algum.
Otávio, já estava com seus pés na água, ele já sentia todo o gelo se instalar por seu corpo, e de uma vez ele entrou, foi instantâneo o choque térmico que aquela água fria causou, ele voltou até a superfície e pela primeira vez, se permitiu olhar um pouco mais para seu lugar, e mirou algo, ou melhor, alguém que não havia percebido antes.

Luccino estava de costas para Otávio, ele parecia tão imerso aos seus pensamentos, que nem notou quando o Major se aproximou do mesmo.

-Pricelli, o que faz aqui? Dizia Otávio e Luccino logo o olhou assustado.

-Eu estou mergulhando um pouco e o senhor?

-Bem.. eu gosto de vir aqui, é bom para pensar. Otávio sorriu de lado, a verdade é que Otávio olhava para Luccino com uma cara boba, ele analisava o corpo de Luccino molhado e era inevitável não sorrir .

-Sim, aqui é muito bom para relaxar.

-Você está...

-Estou e você...? Luccino sorriu e analisou Otávio.

-Alguém terá de fechar os olhos ao sair. Otávio disse com seu sorriso contido, por mais que aquela água estivesse fria, ele podia sentir um calor vindo de seu corpo . E ele sabia que o motivo disto estava bem em sua frente. Pricelli....

-Tens medo que eu veja seu corpo Major? Luccino sorriu se aproximando.

-Não,é claro que não, porém não acho... Digamos, apropriado.

-Tem razão, dois homens sem roupa alguma em um local isolado do mundo, quem olhar poderia pensar que nós...

-Não pensariam nada, pois ninguém está aqui.

-E então o que quer fazer Major?

-Poderia começar a lhe ensinar a cortejar mulheres?

-Não, combinamos de fazer isto amanhã. Que tal, vermos quem fica mais tempo sem respirar debaixo desta água gelada? Sorri Luccino e Otávio o olha sem jeito.

-E como saberei se você não abrira os olhos para...para

-Fique tranquilo Major, não o farei.

Os dois então se olharam e contaram mentalmente, e lá estavam eles em mais uma competição, era de fato curioso, eles competiam na esgrima e agora em quem ficava mais debaixo da água.
Mas, a maior competição que de fato, os dois estavam a travar, era o de seus corações.
Aqueles dois corações que batiam a cada minuto juntos, que ficavam nervosos diante de um ao outro, que a cada segundo, um invadia os pensamentos do outro...

Naquele lago, pode-se ouvir alguém subir rapidamente da água tentando respirar um pouco, era Otávio, ele havia segurado o máximo que pôde, mas realmente Luccino era melhor naquilo.

-Já está ficando tarde, vamos? Dizia Otávio já nadando de volta para a beira da água. -Olhe para o lado , Soldado. Sorriu Otávio e Luccino retribuiu com um aceno afirmativo.

Alguns minutos se passaram e os dois já estavam com suas devidas roupas em seus corpos.
Eles estavam caminhando juntos para voltarem ao quartel, e falavam de alguns assuntos soltos, Pricelli falava um pouco de como era sua vida em sua antiga cidade e Otávio um pouco mais reservado, as vezes contava alguns detalhes de sua vida, como por exemplo como amava vir a este lago.

-Pensei que odiasse ar livre. Pricelli diz ao olhar para Otávio.

-Eu não diria que odeio, eu apenas gosto de ler meus livros no conforto de minha cama. Otávio sorria.

-Não entendo... Major. O senhor não acha que livros são...

-Besteiras? Olhou Otávio para Luccino com uma cara nada agradável.

-Parados... Parados, quer dizer, livros te levam a uma aventura mágica, te mostram histórias incríveis e te fazem acreditar em um final melhor... Mas não achas que para alguém que lê tantos livros, em vez de procurar histórias dos outros, você devesse procurar a sua própria?

-Ás vezes, ler outra história imaginando que eres a sua , é melhor... Mais confortante diria.

-Queres mesmo se casar com a senhorita Lídia?

-Pricelli... É uma longa história, não há muitas opções para nós, nós temos um dever a cumprir, e eu devo honrar minha palavra e me casar com ela. Otávio suspirou.

-Penso que você deveria escrever sua própria história. Luccino sorria para Otávio, assim como Otávio sorria para Luccino.

Em um ato que Otávio não esperava, Luccino o abraçou, ele nunca havia se sentido tão bem em um abraço quanto havia se sentido com o abraço de Luccino.
Eles ficaram longos segundos abraçados até que Otávio pergunta.

-Por...por que me...

-Achei que você precisava . Luccino aos poucos foi desmanchando o abraço, mas sem distanciar seu corpo de Otávio.

Seus rostos estavam próximos, e seus olhos se olhavam intensamente. Cada um analisava o outro, cada detalhe, cada verdade, cada piscada...

-Talvez eu precisasse. Otávio disse simples, ainda sem conseguir tirar seus olhos da boca de Luccino.

-Quando precisar, eu estarei aqui... É só me chamar, e bem, você perdeu a aposta de quem conseguia respirar mais enta....

-Sabia que você ia tocar no assunto. Diz Otávio rindo. -Hum, me abraçou então para me consolar? Olha só Pricelli, quero revanche.

-Pois irá perder novamente. Ele ri. -Mas até que valerá a pena , te dar um abraço de consolo toda a vez...

-Talvez não seja tão ruim perder. Otávio acompanha a risada de Luccino.
E assim ficaram por mais alguns minutos, até finalmente chegarem ao quartel e cada um entrar em seu quartinho...

Onde O Amor Se Escondia { Lutavio }Onde histórias criam vida. Descubra agora