XIV

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  O quarto de Harry era totalmente o contrário do que eu havia imaginado.
Esperava encontrar roupas jogadas pelo chão e medalhas de campeonatos de futebol espalhadas por prateleiras, mas tudo era extremamente organizado e limpo como o resto da casa e, ao invés de medalhas, uma estante preta cheia de livros cobria a parede ao lado da cama de casal no centro do quarto, e na parede oposta a cama uma enorme janela de vidro trazia iluminação ao cômodo e dava vista para uma enorme piscina no térreo com uma densa floresta atrás. Uma pequena fresta da janela estava aberta e um vento frio entrava pelo quarto, e o som da garoa aumentando trazia certo ar de tranquilidade.

Segui Harry entrando pelo quarto, me encostando em uma parede enquanto observava ele caminhar até a extremidade do quarto e entrar em outro cômodo, que parecia ser o closet. Examinei o quarto com os olhos, parando curioso na enorme estante de livros e caminhando até a mesma, incapaz de conter a curiosidade e passando o dedo pela lateral dos livros, lendo os títulos. Harry não parecia ser o tipo de pessoa que lia livros, principalmente os clássicos, na verdade eu duvidava até da sua capacidade de leitura, mas autores como Jane Austen, Emily Brontë, Charles Dickens, Oscar Wilde e outros enchiam as fileiras da prateleira. Peguei delicada um exemplar de "O moro dos ventos uivantes" na mão, folheando o livro.

— O morro dos ventos uivantes. — Me assustei ao escutar a voz de Harry perto do meu ouvido, um tom mais baixo do que o normal. — "Nunca lhe confessei abertamente o meu amor, mas, se é verdade que os olhos falam, até um idiota teria percebido que eu estava perdidamente apaixonado".

Depositei o livro de volta na prateleira e me virei para Harry, ignorando o arrepio que descia pelo meu corpo e encarando seus olhos verdes, que estavam de um tom mais verde do que o normal. Seu rosto estava neutro, diferente do seu olhar, que parecia dizer mais coisas do que sua boca seria um dia capaz de dizer e, pela primeira vez, eu enxerguei um pouco do Harry que Lisa descreveu mais cedo.

Qual é, Lou, esse continua sendo o mesmo Harry que beijou você a força e logo depois contou para a ex. Ele não tem nada de indefeso, é apenas um mimado, convencido e manipulador.

— Podemos começar logo? — Perguntei desviando o olhar do seu e caminhando para longe. - Tenho que voltar pra casa antes do jantar.

Observei Harry manear a cabeça em concordância do outro lado do quarto.

— Já escolheu com que filósofos vamos trabalhar? — Seu tom de voz saiu grosseiro e inconscientemente eu me encolhi.

— Na verdade, pensei que deveríamos escolher juntos, já que ambos teremos que ler as obras. — Respondi no mesmo tom e ele apenas balançou a cabeça, se sentando em uma escrivaninha no canto do quarto e abrindo seu MacBook, deixando uma cadeira vaga ao seu lado, que eu me sentei e abri minha mochila, puxando meu MacBook de dentro.

Passamos o resto da tarde no quarto de Harry, com sua mais nova personalidade, que consistia em concordar ou discordar com um manear de cabeça de tudo que eu falava, sem uma piadinha, sem apelidos, e sem nem sequer olhar para mim. Apesar de sentir que deveria estar radiante pela falta de comunicação, aquilo estava me irritando profundamente, com quantas personalidades diferentes eu teria que lidar até terminar esse trabalho?

— Acho que por hoje é só isso. — Anunciei depois de horas, sentindo minhas pernas dormentes pela quantidade de tempo sentado na mesma posição- Vou dar uma olhada na biblioteca do colégio amanhã e procurar as obras que iremos ler.

— Ok. — Harry se levantou da cadeira e se alongou, fazendo com que a camiseta que ele havia vestido levantasse, e encarei rapidamente o cós caído da sua calça, me arrependendo no mesmo instante e sentindo meu rosto esquentar. — Acho melhor você já ir indo.

Murmurei um ''Claro'' e me levantei, pegando minha mochila e ajeitando ela nas minhas costas. Harry decidiu me acompanhou até a porta e eu agradeci mentalmente, já que eu não lembrava o caminho até a porta e provavelmente me perderia tentando encontrar. Quando já estávamos na metade da sala de estar, com um silêncio quase mortal, Lisa apareceu com um enorme sorriso no rosto e eu agradeci aos céus.

— Louis, querido, já vai ir? — Lisa perguntou se aproximando e ouvi Harry xingar baixinho ao meu lado, o que Lisa pareceu não perceber. — Não vai querer nem experimenatar meu bolo de chocolate? Você deve estar faminto...

— Eu adoraria, mas...

Harry me interrompeu, falando no mesmo tom grosseiro de mais cedo.

— Louis precisa ir embora, Lisa.

Lisa me encarou, juntando as sobrancelhas e eu balancei a cabeça em concordância, abrindo um sorriso envergonhando.

— Já está tarde, tenho que estar em casa para o jantar. — Expliquei.

— Bom, foi um prazer te conhecer, querido, volte sempre. — Ela me abraçou calorasamenete e eu retribui, sabendo mesmo sem olhar que Harry estava revirando os olhos pelas nossas costas.

Lisa sorriu mais uma vez antes de me soltar completamente e olhar para Harry, juntando as sobrancelhas novamente e depois se afastando, voltando para a cozinha. Segui Harry até a porta, que abriu rapidamente e começou a encarar meu carro estacionado, como se eu não estivesse ali.

— Então, tchau. — Murmurei seco, passando por ele.

Ele desviou os olhos do meu carro e encarou os próprios pés, murmurando um ''Tchau'' quase inaudível. Revirei os olhos e cruzei os braços, apresando o paso até meu carro. Esse garoto é completamente bipolar, quando não estava me irritando ou me beijando a força, agia igual uma criança de 4 anos de idade fazendo birra. Infantil.

— Louis! — Escutei Harry gritar assim que alcancei a porta da Ronge Rover. Me virei lentamente e encarei o garoto encostado na porta, parecendo envergonhado. — Até amanhã.

Estreitei os olhos e encarei Harry, que parecia uma criança arrependida depois de gritar com os pais. Bipolar.

Respondi um ''Até amanhã'' e entrei no carro, deixando um Harry sorridente encostado na porta de entrada e, sem perceber, me vi sorrindo enquanto dirigia até chegar em casa. Aquele convencido.

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⏰ Última atualização: Aug 07, 2020 ⏰

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Heaven • LarryOnde histórias criam vida. Descubra agora