Capítulo Único

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- Adivinha quem conseguiu mais de quinhentas curtidas? - berrei para que Harry me ouvisse, já que ele estava no banho ainda.  Ouvi ele rir daquele jeito que me dizia que ele já sabia e já imaginava o que ele diria:
- Eu disse que era só você colocar seu corpão pra jogo que as curtidas viriam e com isso... - ele saiu do banheiro com a calça jeans escura e a camisa de seda azul em um tom de marinho, a estampa de margaridas pequeninas pela camisa toda e ela era linda. - Os crushes também vêm junto. - ele finalizou, abrindo um sorriso insinuoso enquanto balançava as sobrancelhas. Dei uma risada alta e fiz uma dancinha em comemoração quanto à isso.
- Mas você sabe o que eu penso sobre postar fotos seminuas só pra atrair macho, né? - aquele mesmo tom de irmão mais velho, apesar dele ser meu melhor amigo desde vidas passadas, sei lá, era amizade de outro mundo.
- Eu preciso mesmo te responder? Você só pode estar chapado se acha que eu postei aquela foto por causa de macho, fala sério. - rolei meus olhos, eu bem sabia que era brincadeira dele, mas rir dela estava fora de cogitação. Mas ele riu demonstrando que era isso que ele queria mesmo: me irritar. Joguei uma almofada nele, sua risada aumentou e ele jogou de volta acertando em cheio.
- Te odeio, Styles. - resmunguei, levantando da cama e arrumando meu shorts jeans por cima do body. Ele me mandou um beijo e voltou a se arrumar, acabei me deixando assistindo ele se arrumar porque eu adorava o estilo dele. Harry sempre se arrumou muito bem, diferente de todos, inventando algumas coisas, combinando algumas peças que nunca imaginaria que daria certo, mas talvez só nele mesmo que dessem certo. Harry Styles era o cara mais bonito daquela cidadezinha pacata e pequena, inteligente, esperto, astuto, misterioso e fascinado por clássicos e poesias. Quase um Shakespeare moderno. Aqueles garotos que poderiam perfeitamente ter saído de um livro. A pergunta é: Como eu podia ser apenas amiga dele? A resposta era bem simples, bem bem bem simples mesmo.
- Espero não ver a cara do George naquela festa. - ouvi ele dizer de uma ríspida ao terminar de colocar o colete aberto por cima da camisa. George era o ex namorado de Harry, isso mesmo, meu melhor amigo vulgo o garoto perfeito era gay sim. Nunca fora um problema pra mim, adorávamos ver meninos que tinham crush em mim e depois acabavam por ter crush nele. Nunca brigaríamos por garotos, era uma regra e praticamente uma lei estabelecida por nós e nunca quebramos ela. Amizade sempre é mais importante do que qualquer amor passageiro.
- E se ver? Quem perdeu foi ele. - ele sorriu com minha resposta e me puxou pela cintura para que saíssemos juntos.
- E quem você pretende fisgar com essas costas de fora, senhorita Arriens? - notei ele erguer uma sobrancelha e sorri de lado.
- Quem quiser ser fisgado por mim. - jogo meus cabelos para trás ao dizer isso, tirando uma risadinha dele.
- Então me fisga, gata. - ele provocou, o empurrei levemente e dei uma boa risada.
- Não me provoca, Harry Styles! - apontei o dedo para ele, semicerrando meus olhos. Ele abriu os braços em sinal de desculpas, mas manteve o sorriso safado nos lábios, abrindo a porta de sua casa para sairmos.

Harry tinha perdido seus pais uns dois anos atrás e foram tempos difíceis onde tive medo de perdê-lo também, Harry sempre que tinha problemas ele se fechava, não queria conversar, não queria demonstrar e guardava pra si, mas eu conseguia sentir a bomba que existia dentro dele prestes a explodir e eu tive medo de não conseguir juntar todos os pedaços quando isso acontecesse. Mas eu nunca saí do lado dele e isso me fez sentir o quanto nossa amizade se intensificou mais. Ele herdou a fortuna de seus pais e parece até que ficou mais rico, ele cuida dos negócios do pai dele, porém, ainda tem o problema que ele nunca compartilha, mas eu sei qual é, ele queria poder estudar e seguir sua própria carreira. Era complicado e ao mesmo tempo fácil demais ser Harry Styles. Rico, talentoso, lindo e problemas que nem eu mesma saberia solucionar.
Fomos para a social da Marjorie com a moto de Harry, pra variar ele tinha uma moto foda e uma Ferrari prata. Qual era a parte complicada da vida de Harry mesmo? Tive vontade de rir desse pensamento, mas apenas senti o vento fresco bater contra meu rosto durante a trajetória.
Assim que chegamos, deu pra notar que a festa estava bem lotada e pela expressão no rosto de Harry vi que aquilo o incomodou um pouco, mas mesmo assim decidimos entrar já que viemos até aqui.
- Da próxima vez eu escolho o passeio. - ouvi ele resmungar, mostrei o dedo do meio para ele e caminhei na frente dele para dentro da casa que estava aberta, tinha uma galera na entrada fazendo maior zona. Marjorie acenou para nós de longe mesmo e fez um sinal para ficarmos à vontade, ri disso e já peguei dois copos que estavam em cima do balcão e pelo cheiro era cerveja mesmo.
- Festa de universidade, pessoas bêbadas fazendo merda e cerveja barata. - ouvi Harry ironizar e o encarei com os olhos semicerrados.
- Você é muito esnobe, sabia disso? - empurrei a cerveja para que ele a bebesse logo sem reclamar.
- Sabia sim e sei que você adora. - ele piscou o olho e sorriu se achando, mas eu rolei meus olhos com isso e não disse mais nada. - Sabe, Audrey, quando meus pais eram vivos era tudo mais fácil. Eu podia ser o garoto que ia para festas beber e transar com alguém sem preocupações, sabia que quando eu chegasse eu teria o carinho e o amor da minha mãe com suas panquecas de chocolate com banana. Sabia que teria os conselhos sábios do meu pai e até seus puxões de orelha. Hoje em dia eu não tenho mais isso, hoje em dia eu sou apenas o garoto órfão que vem estragar suas festas. - apesar de terem sido ditas com um tom de comédia, elas eram melancólicas e me fizeram ficar tristes, ainda me sentir infantil por insistir que ele viesse comigo em festas.
- Quer ir embora? - perguntei gentilmente, eu iria embora se ele quisesse, não seria egoísta com ele, já não me bastava ter feito ele vir. Ele me olhou e bebeu toda a cerveja que tinha no copo, colocou o copo vermelho em cima do balcão e puxou minha mão.
- Quero dançar. - ele abriu um lindo sorriso ao dizer isso, segurei sua mão com firmeza e bebi minha cerveja para o acompanhar até a sala onde pessoas dançavam a música da Julia Michaels com o Maroon 5.
- 'Cause I don't wanna do this on my own. Help me out, out - ele cantarolou, me rodando assim que chegamos na sala, abri um largo sorriso e entrei na dança.
- Help me out, 'cause I need something up to calm me down. Help me out, out - cantei a parte da Julia, tocando seu peito com meu indicador, o empurrando um pouco e jogando os quadris de um lado para o outro. Ele riu com isso e fez uns movimentos com os braços antes de pegar minha mão de novo e me puxar contra ele.
- I don't mean to bother you but there's something that I want from you - sorri ao ouvir ele cantar essa parte com uma encenação ótima de que precisava mesmo de algo.
- Distract me from thinking too much loose ends all tied up with a touch - respondo junto com a Julia, jogo meus braços ao redor de seu pescoço, rindo junto com ele por sempre fazermos algo assim em festas sem nem ligar para olhares alheios.
Mais bebidas chegaram, acabei percebendo que ele bebeu mais do que o normal e mais do que eu, não disse nada para ser a chata e já que eu insisti de trazê-lo nessa festa, ele podia beber o quanto quisesse, mas não era muito do feitio dele. Harry tinha uma certa fixação em ser fitness também, então encher a cara realmente não era dele porque ele mesmo dizia que engordava e coisas do tipo. Mas eu tinha que confessar que tinha ficado muito feliz em vê-lo todo solto, se divertindo e rindo daquela forma. Desde quando seus pais morreram ele nunca mais tinha se divertido daquela forma e então eu me deixei levar, rindo, dançando, fazendo doideiras junto dele.
E na hora de embora tive que praticamente rezar para que ele não nos matasse enquanto dirigia bêbado pelas ruas que ainda bem que estavam vazias pela hora da madrugada. Nenhuma polícia fiscalizando também, mas a adrenalina dele fazendo ziguezague com a moto era quase a mesma sensação de pular de bungee jumping, aquela sensação de que eu poderia morrer.
- Sabia que a gente poderia morrer? Dirigir daquele jeito, gente! - solto, rindo por ainda não estar crendo que ele dirigiu naquele estado e eu subi na moto com ele mesmo. Ele gargalhava com o meu espanto, com as chaves de sua casa na mão e eu apostava que ele não conseguiria nem abrir a porta.
- Dá esse molho de chaves aqui ou a gente vai acabar dormindo aqui na varanda mesmo. - tomei as chaves da mão dele que logo reclamou e tentou pegar de volta, me empurrando contra a porta.
- Devolve as chaves, Audrey. - ele sussurrou, deixando aquele sorriso brincalhão no canto dos lábios. Um sorriso que molharia muitas calcinhas e cuecas também.
- E se eu não devolver? - ele vivia me provocando, acho que talvez alcoolizada eu poderia retribuir. - Vai fazer o quê?
Ele abriu os olhos pela surpresa das minhas palavras, isso me tirou um sorrisinho vitorioso, mas ergui ambas sobrancelhas ainda o questionando. Ele mordeu seu lábio inferior rapidamente, descendo o olhar por mim e grudou seu corpo no meu que agora estava preso contra aquela porta de madeira. Senti suas mãos na lateral do meu corpo, ele mal me tocava, mas eu sentia o calor de seus dedos tocando suavemente a curva do meu quadril. Ele colocou uma de suas pernas no meio das minhas e deixou seu ar sair pesadamente contra meus lábios até que seus olhos subiram até encontrar os meus onde eu tive absoluta certeza de ver faíscas. Não era possível, era zoeira com a minha cara mesmo. Harry nunca pensaria em me beijar, éramos amigos desde crianças e nunca tinha rolado nada. Nunca tinha pensado nele desse jeito e ele ter se assumido gay só fez as coisas ficarem mais fáceis pra nós dois. Sem interesses e vida que seguia. Mas o que ele estava fazendo naquele exato momento? O que tinha naquela cerveja que tinha deixado meu amigo hétero?
- Eu vou apenas pegar a chave, minha doce Audrey. - ele sussurrou e eu consegui sentir seus lábios rasparem nos meus, então antes que eu notasse senti ele tomar as chaves da minha mão mesmo. Ele soltou uma risadinha e abriu a porta quase me fazendo cair pra trás por eu estar encostada nela ainda. Acabei rindo também e disfarcei o que provavelmente entregaria que eu tinha quase acreditado que ele me beijaria mesmo. Qual é, eu estava maluca mesmo.

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